Altas temperaturas e chuvas desordenadas estão entre desafios. Ministério da Saúde tem adotado novas tecnologias para controle das arboviroses ante os fenômenos climáticos
As mudanças climáticas têm desempenhado um papel significativo na expansão global do mosquito Aedes aegypti, vetor de vírus causadores de doenças como dengue, Zika e chikungunya. O aumento das temperaturas e a intensificação de eventos climáticos extremos, como o fenômeno El Niño, criam condições ideais para a proliferação do inseto. Estudos indicam que, durante períodos de El Niño, há um aumento significativo na infestação por larvas do Aedes aegypti, especialmente em regiões com temperaturas acima de 23,3°C e precipitações superiores a 153 milímetros.
Segundo o relatório global The Lancet Countdown, devido ao aquecimento decorrente das mudanças climáticas, a dengue tem uma probabilidade de aumentar em até 37% seu potencial de transmissão no mundo inteiro.
O aumento das temperaturas globais, as alterações nos padrões de chuva e a urbanização crescente criam condições ideais para a proliferação do vetor.
Alguns fatores específicos que contribuem para esse cenário
1. Aumento da temperatura
A alta temperatura acelera o ciclo de vida do Aedes aegypti, permitindo que os ovos e larvas se desenvolvam mais rapidamente em condições de calor extremo.
Os mosquitos adultos tornam-se mais ativos em temperaturas mais altas, aumentando sua taxa de reprodução e o número de picadas por dia, o que amplia a transmissão de doenças.
2. Mudanças nos padrões de chuva
Chuvas irregulares e períodos prolongados de seca seguidos por chuvas intensas criam ambientes propícios para o acúmulo de água, favorecendo a proliferação do mosquito em recipientes como caixas d’água, pneus e calhas.
A expansão de áreas úmidas após eventos climáticos extremos amplia os locais de reprodução do Aedes aegypti.
3. Expansão geográfica do mosquito
O aumento das temperaturas permite que o mosquito sobreviva e se reproduza em regiões anteriormente consideradas frias, ampliando sua distribuição para áreas de maior altitude e latitudes antes livres do vetor.
Regiões como o sul do Brasil, que antes tinham baixa incidência de dengue, estão registrando um crescimento significativo de casos.
4. Urbanização desordenada
O crescimento de cidades sem infraestrutura adequada, como saneamento básico precário e a falta de controle de resíduos, cria mais locais de proliferação do Aedes aegypti.
Populações vulneráveis em áreas de risco ficam mais expostas a ocorrência de arboviroses.
5. Impacto na sazonalidade das doenças
Com padrões climáticos mais imprevisíveis, a sazonalidade das arboviroses está se tornando menos definida, o que significa que casos podem ocorrer ao longo de todo o ano, dificultando o planejamento e controle por parte das autoridades de saúde.
Ações do Ministério da Saúde
Em resposta à tendência de aumento durante o período sazonal, desde 2023, o Ministério da Saúde mantém vigilância constante sobre o cenário epidemiológico, promovendo ações contínuas e capacitando estados e municípios para enfrentar diferentes situações.
Para o período sazonal 2024-2025, o Governo Federal vai aplicar mais de R$ 1,5 bilhão na aquisição de vacinas contra a dengue, insumos laboratoriais para testagem das arboviroses, insumos para controle vetorial, mobilização e conscientização da população, além de suporte aos municípios para custeio assistencial.
No período de baixa transmissão, estão sendo priorizadas as ações preparatórias com a intensificação do controle vetorial do Aedes aegypti, utilizando tecnologias adaptadas às realidades locais, preparação da rede assistencial com a qualificação das equipes e parcerias com entidades privadas para garantir atendimento oportuno à população e reduzir hospitalizações e óbitos evitáveis.
Novas tecnologias
Para mitigar o impacto das mudanças climáticas na disseminação do Aedes aegypti, o Ministério da Saúde vem adotando uma série de tecnologias para o controle do Aedes aegypti. Isso inclui as Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDLs), o monitoramento entomológico por ovitrampas, a Borrifação Residual Intradomiciliar (BRI -Aedes), o Método Wolbachia e o uso de Inseto Estéril Irradiado.
O Método Wolbachia, que utiliza uma bactéria que não tem capacidade de causar doença em humanos e animais, mas que bloqueia a proliferação do vírus no organismo do mosquito, será ampliado. Em Niterói (RJ), o resultado alcançado em todo o município (2023) foi a redução de 69,4% dos casos de dengue, 56,3% dos casos de chikungunya e 37% dos casos de Zika na cidade.
Brasil lidera iniciativas no G20 para mitigar impactos na saúde pública
Em 2024, durante a presidência do Brasil no G20, o país destacou a urgência de abordar os impactos das mudanças climáticas na saúde pública, enfatizando a necessidade de ações coordenadas para controlar a disseminação do Aedes aegypti. Essa liderança internacional reflete o compromisso brasileiro em enfrentar os desafios impostos pelas alterações climáticas.
No âmbito nacional, o Ministério da Saúde tem implementado estratégias inovadoras para combater o mosquito. Uma das iniciativas é a instalação de Estações Disseminadoras de Larvicida (EDLs) em áreas vulneráveis, como comunidades periféricas e locais de difícil acesso. Essas estações utilizam larvicidas que impedem o desenvolvimento dos ovos do mosquito, contribuindo para a redução da infestação pelo mosquito vetor.
Além disso, o Brasil tem sido referência para outros países que buscam entender a dinâmica dessas doenças e as estratégias de controle do vetor. A cooperação internacional tem sido fundamental para compartilhar conhecimentos e desenvolver abordagens eficazes no controle do Aedes aegypti.
Como contribuir para eliminar focos do mosquito da dengue
A dengue é uma doença que pode ser amplamente controlada com medidas cotidianas. Confira 10 passos simples que protegem você e sua família contra o mosquito vetor:
Tampe caixas d’água, ralos e pias;
Higienize bebedouros de animais de estimação;
Descarte pneus velhos junto ao serviço de limpeza urbana de sua cidade. Caso precise guardá-los, mantenha-os em local coberto, protegidos do contato com a água;
Retire a água acumulada da bandeja externa da geladeira e bebedouros e lave-os com água e sabão;
Limpe as calhas e a laje da sua casa e coloque areia nos cacos de vidro de muros que possam acumular água;
Coloque areia nos vasos de plantas;
Amarre bem os sacos de lixo e não descarte resíduos sólidos em terrenos abandonados ou na rua;
Faça uma inspeção em casa pelo menos uma vez por semana para encontrar possíveis focos de larvas;
Sempre que possível, faça uso de repelentes e instale telas, especialmente nas regiões com maior registro de casos;
Receba bem os agentes Comunitários de Saúde e de Controle de Endemias que trabalham em sua cidade.
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