Médica de Família e Comunidade, com especialização em Geriatria, explica as causas, sintomas e caminhos para enfrentar a sobrecarga emocional de quem cuida de idosos ou pessoas com necessidades específicas
A dedicação constante a um familiar doente, idoso ou com necessidades especiais pode adoecer. É o que alerta a médica Inoã Viana, especialista em Medicina de Família e Comunidade, com pós-graduação em Geriatria e atuação voltada aos cuidados com a população idosa. Segundo ela, o chamado burnout do cuidador é uma condição clínica que merece atenção urgente por parte da sociedade, dos familiares e das equipes de saúde.
“O burnout do cuidador é um tipo de estresse crônico que afeta pessoas que se dedicam a cuidar de outras. Ele se manifesta de forma semelhante ao burnout ocupacional, com sintomas como exaustão física e mental, irritabilidade, isolamento social, distúrbios do sono e do apetite. No entanto, envolve um componente emocional mais delicado: a culpa. Muitas vezes, o cansaço é confundido com negligência, o que dificulta ainda mais o pedido de ajuda”, explica a médica.
Segundo Inoã, diferentemente do cuidado infantil, que tende a se tornar menos intenso à medida que a criança desenvolve autonomia, o cuidado com idosos ou pessoas com doenças crônicas geralmente caminha no sentido oposto: aumento progressivo da dependência, sem previsão de alívio. “Isso gera um horizonte de perdas, o que torna a experiência mais emocionalmente desgastante”, afirma.
Para a especialista, o perfil mais suscetível ao burnout é, historicamente, o feminino. “O cuidado ainda é socialmente associado à mulher, mesmo sem vínculo consanguíneo. Além disso, há a chamada ‘geração sanduíche’ pessoas de meia-idade, geralmente mulheres, que cuidam ao mesmo tempo dos pais idosos e dos filhos. Isso amplia a sobrecarga.”.
Diante desse cenário, a médica defende que o cuidado com quem cuida seja incorporado como uma prioridade nas políticas públicas e nas práticas clínicas. “O primeiro passo é escuta acolhedora, livre de julgamentos. A construção de um plano terapêutico deve envolver tanto o paciente quanto o cuidador, acionando redes de apoio familiares e institucionais. Às vezes, inclusive, é necessário recorrer a uma mediação jurídica para repartir responsabilidades.”.
A profissional também destaca o papel dos grupos de apoio, onde experiências e angústias podem ser compartilhadas com segurança. “A tarefa de cuidar é, muitas vezes, solitária. O grupo valida sentimentos, promove identificação e fortalece o cuidador”, pontua.
Mas o que significa, na prática, o tão falado “autocuidado”? Inoã recorre a uma metáfora simples e eficaz: “Nas orientações de voo, em caso de emergência, primeiro você coloca sua própria máscara de oxigênio. Só assim poderá ajudar os outros. Com o cuidado é a mesma coisa: só é possível oferecer cuidado adequado quando se está bem.”.
No campo das políticas públicas, ela celebra os avanços recentes com a sanção da Política Nacional de Cuidados (Lei nº 15.069/2024), que propõe uma divisão mais justa do trabalho de cuidado, reconhece o direito universal ao cuidado digno e promove o trabalho decente para cuidadores formais. “É uma iniciativa importante, mas ainda em fase inicial. Precisamos garantir a implementação real dessa política nas redes de saúde e assistência.”.
A médica finaliza com um chamado coletivo à corresponsabilidade. “Para cuidar de um idoso com dignidade, também é necessária uma vila. Assim como diz o provérbio africano sobre a criação de uma criança. Cuidar não pode ser tarefa de um só.”.
Mais informações podem ser obtidas médicas podem ser obtidas com a médica Inoã Viana através do e-mail inoaviana@gmail.com , do WhatsApp (21) 99968-7980 e do Instagram @dra.inoaviana, ou ainda presencialmente no consultório à Rua Professor Stroeller, 428, Quarteirão Brasileiro Petrópolis/ RJ, já com a advogada Vilma Seljan, os contatos podem ser realizados por meio do Instagram @seljan.vilma ou ainda pelo telefone/ WhatsApp (24) 97402-6838.
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