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Da Semelhança ao Conhecimento de Deus: Uma Análise em De Trinitate

Pe. Anderson Alves, artigo de 25/09/2025

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Em De Trinitate, Livro IX, Capítulo XI, Santo Agostinho aprofunda a discussão sobre a relação entre a mente humana e a realidade divina através do conhecimento. Ele investiga como o conhecimento nos torna semelhantes ao que conhecemos e como a alma, sendo imaterial, realiza operações imateriais.

Santo Agostinho começa afirmando: todo conhecimento é semelhante àquilo que é conhecido (Sed omnis secundum speciem notitia, similis est ei rei quam novit). A alma, ao alcançar um conhecimento perfeito, sente-se satisfeita. Por outro lado, ela desaprova o conhecimento das privações. Quanto mais conhecemos a Deus, mais nos tornamos semelhantes a Ele, embora não tenhamos uma semelhança de igualdade, pois não podemos conhecê-Lo como Ele realmente é.

Quando conhecemos corpos sensíveis, a semelhança deles é armazenada na alma, especificamente na memória. Essa semelhança é imaterial, elevando o ente material a uma condição superior. A alma, por ser imaterial, realiza operações imateriais como o ato de conhecer. Santo Tomás de Aquino, em De veritate, q. 10, reforça essa ideia ao afirmar que “o conhecimento acontece segundo o modo de ser do cognoscente”. Como o cognoscente é imaterial, o conhecimento do material também é imaterial. Enquanto os sentidos conhecem a realidade sensível e particular, o intelecto conhece o conceito universal. O intelecto agente transforma o universal em potência, presente no ente sensível, em universal em ato.

A filosofia medieval debateu se os universais estão na realidade ou na razão. Realistas, como os platônicos, acreditavam que os universais existiam na realidade. Já os nominalistas defendiam que os universais existiam apenas no intelecto. Santo Tomás de Aquino propôs uma síntese, argumentando que os universais estão na realidade em potência e no intelecto em ato.

Agostinho argumenta que o conhecimento de Deus nos torna melhores, especialmente quando nos leva a amá-Lo. O verbo é a semelhança de Deus na nossa alma, embora seja inferior a Ele. Quando conhecemos o material, elevamos a realidade material ao imaterial. Quando conhecemos a Deus, reduzimos esse conhecimento, pois tal conhecimento não é igual a Deus. Deus conhece todas as realidades ao conhecer a Si mesmo, sendo a origem de todas elas. O conhecimento de Deus causa o ser dos entes, enquanto nós conhecemos o que já existe. Em nós, o conhecimento é certo efeito das realidades criadas. Deus é a causa do ser das criaturas e do nosso conhecimento delas.

Deus conhece e as realidades passam a existir; nós conhecemos o já existe. Em nós, o conhecimento é inferior ao ser, pois não alcança todo o ser das realidades conhecidas. O conhecer de Deus é a causa do ser. Deus, ao se conhecer, conhece todas as coisas. Nós, ao conhecermos qualquer coisa, conhecemos um pouco do seu autor, Deus. Conhecer a verdade, mesmo que indiretamente, nos leva a conhecer Deus.

Quando conhecemos o material, elevamos a realidade ao imaterial. Quando conhecemos a Deus, reduzimos esse conhecimento. Ao conhecer nossa própria alma, temos um conhecimento adequado e igual. A alma não é inferior ou superior à mente; a alma é a mente. O verbo é o conhecimento que a alma tem de si, e esse conhecimento é igual à alma mesma.

Agostinho distingue entre três tipos de conhecimento: a) Conhecimento humano de Deus, que é limitado e reduzido, resultando em um “verbo imperfeito”; b) Conhecimento humano da realidade material, que eleva a realidade material, transformando-a em imaterial, resultando em um “verbo elevado”. c) Conhecimento que a alma tem de si, que é igual à alma mesma, resultando em um “verbo adequado” ou notitia verbum. Continuaremos.

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