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Desenrola Fies: 352 petropolitanos já renegociaram dívidas

Valor dos contratos passou de R$ 16 milhões para R$ 3,4 milhões com os descontos

Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Daniel Xavier -  estagiário

Até o dia 1º de abril, 352 petropolitanos renegociaram dívidas por meio do Desenrola Fies. Segundo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), antes da renegociação, o valor dos contratos pendentes junto ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) no município era de R$ 16.000.568,30. Após os descontos, passou a ser de R$ 3.469.656,75. O programa oferece redução de até 99% nos valores das dívidas de estudantes, referentes aos contratos firmados até 2017 e com débitos em 30 de junho de 2023. Aqueles com dívidas do Fies deverão solicitar a renegociação ao agente financeiro com o qual têm contrato.

O valor médio das parcelas para os contratos renegociados em Petrópolis é de R$ 2.601,68. Só com o pagamento da entrada, R$ 915.791,08 já retornaram aos cofres públicos, segundo o FNDE. No município, até o dia 30 de junho de 2023, 679 estudantes estavam inadimplentes por conta do não pagamento do financiamento estudantil. O número considera os contratos aptos à renegociação.

Vanessa Santos, professora e coordenadora do curso de Ciências Econômicas da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), coloca os principais fatores que levam os jovens a descontinuar o pagamento do Fies.

"Muitos optam por não dar continuidade à amortização do financiamento após a formatura devido à falta de condições financeiras estáveis, priorizando outras despesas básicas, como aluguel, alimentação e transporte. A inadimplência pode ser prolongada devido à dificuldade de regularização financeira, já que esses jovens têm de escolher cortar algum gasto para fazer o orçamento caber no salário e o Fies, por vezes, é a menor das prioridades deles", explica.

Vanessa Santos / Divulgação
Vanessa Santos / Divulgação

O pós-graduado Gabriel Carvalho é um dos petropolitanos que têm tido dificuldades para pagar o financiamento estudantil.

"Meu Fies se estende até 2037. O pagamento sempre pesa, ainda mais que o salário mínimo é baixo. No momento, eu acabei de ser desligado da empresa em que estagiava. Minha mãe vai me ajudar a pagar, mas pesa muito no bolso. São muitas contas, uma despesa alta, e, agora, um orçamento menor do que tínhamos antes o que atrapalha muito", conta ele.

O Desenrola Fies termina no dia 30 de maio deste ano.

Empecilhos levam à inadimplência

Os dados disponibilizados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação ao Diário ainda detalham que dos 679 contratos inadimplentes em Petrópolis, 222 deles estão com atraso entre 90 dias e cinco anos (32%). Os outros 457 contratos estão com atraso superior a cinco anos (67%).

Fatores esses que influenciam os descontos ofertados pelo Desenrola Fies: para contratos com débitos vencidos e não pagos há mais de 90 dias, há desconto de 100% sobre encargos, com pagamento em até 150 parcelas; para contratos com débitos vencidos e não pagos há mais de 360 dias, o desconto é de 77% sobre o valor total da dívida, pagas em 15 prestações mensais e sucessivas.

João Magalhães, especialista em educação e presidente do conselho do grupo Primum Educacional, explica que a ausência de planejamento é um dos principais motivos que dificultam o pagamento do financiamento.

"O jovem faz um planejamento financeiro considerando os custos atuais, e não o cenário pós-formado. Não considera fatores como a mudança da casa dos pais, ter de arcar com os custos de vida sozinho... Porque há uma alta expectativa do salário inicial pelo pós-graduado, que crê que a remuneração será muito maior do que é de fato. É bom que pesquise a remuneração média da profissão que está seguindo antes de se arcar com um compromisso", aconselha.

Foto: João Magalhães / Divulgação
Foto: João Magalhães / Divulgação

Descontos para inscritos no CadÚnico

Para os financiados cadastrados no CadÚnico ou que tenham sido beneficiários do Auxílio Emergencial em 2021, o Governo Federal concedeu descontos exclusivos: para contratos com débitos vencidos e não pagos há mais de 360 dias, desconto de 92% sobre o valor total da dívida em até 15 prestações mensais. Para aqueles que estão inadimplentes há mais de um ano, o desconto é de 99%.

Dos contratos renegociados na cidade, 201 se enquadram nestas diretrizes.

"[Essa ação foi tomada] como forma de apoiar os estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, garantindo-lhes oportunidades de regularização financeira e acesso a condições favoráveis de pagamento. Assim, os estudantes poderiam ter condições mais favoráveis para quitar seus débitos, facilitando a gestão financeira pós-formatura", pontua Vanessa Santos.

João Magalhães, por sua vez, destaca o cunho social da iniciativa.

"Isso tem de ser levado em consideração, já que o jovem não tem um colchão próprio ou familiar, por conta da situação de pobreza. Esses estudantes enfrentam dificuldades adicionais para arcar com os pagamentos, mesmo com programas como o Desenrola, devido às dificuldades adicionais que enfrentam para gerenciar as finanças. Há um cunho social importante nesta ação para que se desafogue famílias mais vulneráveis da inadimplência", finaliza.

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