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Dia da Infância põe exploração e adultização de jovens em alerta, e psicóloga dá orientações aos responsáveis

“A exposição de jovens na internet os deixa vulneráveis a riscos como comparações sociais excessivas para a idade”, afirma psicóloga

Foto: Reprodução
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Mariana Machado estagiária

É celebrado neste domingo (24), o Dia da Infância, criado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), com o objetivo de provocar reflexão sobre as condições sociais, econômicas e educacionais das crianças no mundo, assunto que está em alta no país nas últimas semanas após a publicação do vídeo “Adultização”, do influenciador digital Felca, onde denunciava a sensualização e adultização de jovens nas redes sociais.

No Brasil, a maioria das crianças e adolescentes (93%) usa a internet, e o acesso à rede e ao celular acontece cada vez mais cedo. Segundo dados do Cetic.br , entre 2015 e 2024, a proporção de crianças de 9 a 17 anos que relataram que tiveram seu primeiro acesso à internet antes dos 6 anos de idade aumentou de 11% para 23%. A Internet Watch Foundation, organização que monitora e remove conteúdos de violência sexual contra jovens da internet, registra globalmente mais de 400 mil casos por ano (1,1 mil casos diários).

Como explica a psicóloga de crianças e famílias, Julia Capacio, a exposição de jovens na internet os deixa vulneráveis a riscos como comparações sociais excessivas, cyberbullying, contato com conteúdos inadequados e a busca por validação. Isso porque as crianças e adolescentes ainda estão em desenvolvimento emocional e cognitivo, e por isso, pode impactar a autoestima, aumentar a ansiedade e até favorecer comportamentos impulsivos.

Além disso, as redes sociais ocupam o tempo que poderia ser dedicado a brincadeiras, convívio familiar, interações sociais reais e experiências fundamentais para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social. “O contato precoce e frequente com a internet faz com que eles tenham preocupações e responsabilidades que não correspondem à fase de vida da criança ou adolescente, diminuindo a leveza e a espontaneidade próprias dessa etapa”, afirma.

Por isso, a psicóloga reforça que é fundamental uma postura de proteção ativa por parte dos responsáveis. “Isso envolve estabelecer limites claros para o uso da internet, supervisionar o tipo de conteúdo acessado e refletir antes de expor a imagem da criança em redes sociais, lembrando que fotos e vídeos podem permanecer online por tempo indeterminado”, explica.

“Outro ponto muito importante é o diálogo aberto, orientando sobre os riscos da adultização e ajudando a criança ou adolescente a entender que não precisa corresponder a padrões irreais ou responsabilidades que não condizem com sua fase de vida. Assim, os responsáveis garantem um espaço de infância mais protegido e saudável”, completa.

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos das Crianças, toda criança tem direito à alimentação, educação, saúde, lazer, liberdade e ambiente familiar e de sociedade, e devem ser protegidas da discriminação, exploração, violência e negligência.

Questionada sobre quando a exposição de jovens na internet pode se tornar exploração e negligência, a especialista diz que ocorre quando são usadas para gerar lucro, status ou engajamento, sem considerar os impactos emocionais.

“Também configura exploração quando são expostos a conteúdos inadequados para a idade ou colocados em situações que estimulam a adultização, como sensualização precoce. E a negligência ocorre quando os responsáveis deixam de supervisionar o uso da internet, permitindo o acesso irrestrito, não dar orientação e limites, expondo-os a riscos”, alerta ela.

Apenas esse ano, a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos já recebeu mais de 180 mil denúncias, e 1.112.688 violações contra a criança e o adolescente em todo o país. Em Petrópolis, foram registradas, até o dia 18 de agosto, 315 denúncias e 1.880 violações. As principais denúncias, tanto no município como no país, são relacionadas à: integridade (física, psíquica, patrimonial); liberdade (sexual, direitos individuais, religião ou crença, etc); e direitos sociais (proteção à infância, segurança, educação, saúde, etc).

Conforme afirma Julia, as principais preocupações de uma criança deveriam estar ligadas ao brincar, aprender, criar vínculos afetivos e explorar o mundo de forma segura. Entretanto, “muitas crianças acabam expostas a preocupações que não correspondem à sua fase de vida, e esse distanciamento faz com que a infância perca parte da sua leveza e essência, sendo substituída por responsabilidades e ansiedades próprias do universo adulto, para as quais a criança ainda não está preparada”.

Com isso, o Projeto de Lei nº 2.628/2022, aprovado no Senado e que aguarda análise na Câmara, estabelece regras para garantir elevado nível de privacidade, proteção de dados e segurança a crianças e adolescentes no ambiente virtual. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) avalia que é urgente aprovar este PL.

“Sabemos que a internet e as tecnologias digitais oferecem oportunidades para o aprendizado, a liberdade de expressão, e a conexão com outras pessoas, mas também podem expor crianças e adolescentes a riscos graves. Isso inclui assédio, aliciamento, chantagem em troca de conteúdo ou de interação sexual, [...],” afirma Luiza Teixeira, Especialista em Proteção contra Violências do UNICEF no Brasil.

Em Petrópolis, o vereador Wesley Barreto trouxe o tema através do Programa Municipal de Prevenção e Enfrentamento à Sexualização Precoce de Crianças e Adolescentes. Com a lei, quatro eixos de atuação serão implantados para a conscientização da sociedade, fortalecimento de canais de denúncia, entre outros.

“Debater temas como a adultização de crianças e o uso excessivo das redes sociais é fundamental para a saúde mental dos jovens, pois promove consciência crítica, fortalece a autoestima e ajuda a desenvolver limites saudáveis no contato com a tecnologia. Quando esses assuntos são discutidos, os jovens passam a compreender melhor os riscos de se comparar a padrões irreais, de buscar validação apenas externa e de se expor de forma vulnerável. Em longo prazo, isso poderá contribuir para a formação de adultos mais seguros, autônomos e conscientes de seus direitos, capazes de usar a internet como ferramenta de aprendizado e conexão, e não como fonte de sofrimento ou exploração”, conclui a psicóloga.

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