“É uma oportunidade para conscientizar, testar, vacinar e tratar. As hepatites virais são um problema de saúde pública global, mas são preveníveis e tratáveis”, afirma infectologista
Mariana Machado estagiária
O Dia Mundial de Combate à Hepatite tem como objetivo reforçar a importância da conscientização e prevenção da infecção. As hepatites virais são infecções causadas por diferentes vírus que provocam inflamação no fígado, e pode variar desde formas leves e autolimitadas até quadros graves com risco de falência hepática, explica o professor da FMP e Infectologista, Dr. Felipe Moliterno.
Em Petrópolis no ano passado, de acordo com dados do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM), foi dispensado no município o tratamento para 34 pessoas com hepatite B e 46 pessoas com hepatite C.
Os principais tipos da infecção são a hepatite A, B, C, D e E, com formas distintas de transmissão, evolução clínica e estratégias de prevenção.
O infectologista explica as diferenças entre os tipos: a hepatite A é geralmente adquirida por água ou alimentos contaminados e costuma se resolver sozinha. Embora seja autolimitada na maioria dos casos e tenha bom prognóstico, exige acompanhamento médico, pois, em situações raras, pode evoluir para formas fulminantes que pode necessitar até transplante hepático; as hepatites B e C são transmitidas principalmente pelo sangue e por relações sexuais desprotegidas, podendo se tornar crônicas e levar a cirrose ou câncer de fígado; a hepatite D ocorre apenas em indivíduos que já são infectados pelo vírus da hepatite B, agravando o curso da doença; e a hepatite E é comum em locais com saneamento precário e, embora geralmente benigna, pode ser grave em gestantes.
As hepatites A e E são transmitidas por via fecal-oral, ou seja, por ingestão de água ou alimentos contaminados. As hepatites B, C e D são transmitidas por contato com sangue contaminado, seringas compartilhadas, transfusões não seguras ou relações sexuais desprotegidas. A hepatite B também pode ser transmitida da mãe para o bebê durante a gestação e parto, chamado de transmissão vertical.
De acordo com o especialista, muitos casos são assintomáticos, principalmente nas fases iniciais. “Quando presentes, os sintomas incluem fadiga, febre, náuseas, dor abdominal, urina escura, fezes esbranquiçadas e icterícia (pele e olhos amarelados). A ausência de sintomas não significa ausência de lesão hepática, o que reforça a importância da testagem”, explica.
O Dr. Felipe Moliterno ressalta que as hepatites A e E, em geral, não necessitam de tratamento específico, mas exigem acompanhamento clínico rigoroso, principalmente em populações de risco, como gestantes e idosos.
Já a hepatite B pode ser controlada com antivirais de uso prolongado que, segundo ele, reduzem a replicação viral, a inflamação hepática e o risco de complicações como cirrose e hepatocarcinoma. “O tratamento costuma ser contínuo e individualizado, com base na carga viral, nos níveis de transaminases e no grau de fibrose hepática”, afirma.
A hepatite C, por sua vez, é atualmente uma das infecções virais crônicas com maior taxa de cura, afirma o infectologista. O tratamento padrão envolve antivirais orais de alta eficácia, inclusive disponíveis no SUS.
O infectologista ressalta que a população ainda não tem a consciência da importância da prevenção como deveria. “Muitos desconhecem que existem vacinas, especialmente para as hepatites A e B, e que há tratamento disponível gratuitamente no SUS. É preciso ampliar o acesso à informação e aos testes rápidos”, diz.
A melhor forma de prevenir a infecção é a vacinação, disponível para os tipos A e B. Para os demais tipos, a prevenção envolve medidas como o uso de preservativos em relações sexuais, não compartilhamento de objetos perfurocortantes, esterilização adequada de materiais e cuidados com higiene e saneamento básico. “Também é fundamental realizar testagem periódica, especialmente em grupos de risco”, completa.
Em Petrópolis, além do Serviço de Assistência Especializada (SAE) Dra Susie Andries Nogueira, todas as unidades de atenção primária a saúde oferecem o teste rápido para as hepatites B e C, o resultado fica pronto em até 30 minutos. O tratamento e acompanhamento dos casos positivos são realizados no SAE.
O maior risco da hepatite é a evolução silenciosa das formas crônicas, como as hepatites B e C, que podem causar fibrose hepática, cirrose e câncer hepático, muitas vezes de forma assintomática por anos. A hepatite fulminante, embora rara segundo o médico, pode ocorrer de forma abrupta, exigindo transplante hepático imediato.
Com o objetivo de ampliar a oferta dos testes, fazer diagnóstico precoce e tratamento oportuno, a equipe do SAE Dra Susie Andries estará realizando os testes rápidos para hepatites B e C nos terminais do Centro e de Corrêas, e na Praça da Inconfidência, também no Centro. No dia 28, além dos testes, serão oferecidas vacinas contra a hepatite B e Influenza.
Para o Dr. Felipe Moliterno, a data é um momento de mobilização mundial. “É uma oportunidade para conscientizar, testar, vacinar e tratar. As hepatites virais são um problema de saúde pública global, mas são preveníveis e tratáveis. A informação salva vidas”, conclui.
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