“Para mim o braile é a representação das pessoas cegas, não importa o quanto a tecnologia avance”, diz professora de braile
Mariana Machado estagiária
Neste sábado (04), comemora-se o Dia Mundial do Braille, criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2018. A data foi escolhida com o objetivo de homenagear o aniversário do francês Louis Braille (1809-1852), criador do sistema de escrita e leitura tátil para pessoas com deficiência visual.
O braile é um sistema de combinação de seis pontos, que formam 63 caracteres em relevo, e permitem o registro de letras, números e qualquer outro tipo de símbolo necessário para a comunicação. A leitura é feita da esquerda para a direita, com a pessoa usando uma ou as duas mãos.
Infelizmente, o aprendizado do sistema braile não é tão acessível. Por isso, grande parcela da população não sabe ler e escrever em braile. A iniciativa de universidades e instituições que disponibilizam o curso de braile gratuito ajuda a mudar este cenário e difundir o uso desse sistema para a sociedade.
Com isso, Arlene Vieira é professora voluntária de braile, e disse, em conversa com o Diário, que considera crucial ter um dia para relembrar de algo que, “foi e é tão importante para as pessoas com deficiência visual e jamais permitir que caia em esquecimento aquele que desenvolveu esse método de comunicação. Louis Braille só teve o seu método conhecido após sua morte e não podemos permitir que o seu esforço caia no esquecimento, para mim o braile é a representação das pessoas cegas, não importa o quanto a tecnologia avance”.
Entretanto, locais como restaurantes, bares e até mercados ainda não são preparados para receber pessoas com deficiência visual, uma vez que a grande maioria dos estabelecimentos não têm cardápios em braile, e nem pisos táteis, para direcionar essas pessoas pelo local.
Questionada se a comemoração deste dia pode aumentar a conscientização sobre a necessidade do braile nestes estabelecimentos, ela diz que, “Talvez. Ter apenas um dia comemorativo não resolve o problema, é importante conscientizar aqueles que prestam o serviço de que existem pessoas que ocupam esses espaços, não é necessário que elas apareçam para que se adapte, e sim que se adapte para que elas apareçam. Isso é um trabalho que tem que ser feito diariamente”.
Em 2021, foi aprovado no Senado, e está em análise desde então na Câmara dos Deputados, o PL 1.550/2019, que prevê que bares, lanchonetes e restaurantes devem oferecer pelo menos um exemplar do cardápio em braile, mas apenas em estabelecimentos que disponibilizem menus impressos e que tenham capacidade para atender a pelo menos 90 clientes. Os restaurantes self-service estariam excluídos dessa obrigação. O autor da proposta é o senador Confúcio Moura (MDB-RO).
Além deste, outro projeto de lei (PL 757/2021), torna obrigatória a transcrição em sistema braile em embalagens e placas de produtos ofertados ou comercializados, as informações sobre suas características, como qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, bem como sobre os riscos que possam apresentar à saúde e à segurança dos consumidores. Este está ainda na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado.
Mas para a professora, a maior barreira enfrentada pelos cegos ainda é o preconceito. “As pessoas não se interessam em perguntar e simplesmente rotulam as pessoas cegas como incapazes. Isso impossibilita que tenhamos quaisquer chances, "na opinião deles", no trabalho, nos relacionamentos e uma vida social”.
“Por terem esse pensamento, não temos lugares preparados para receber pessoas com deficiência, e isso inclui faculdades, entretenimento, trabalho e nem profissionais capacitados para lidar com as necessidades específicas dessas pessoas”, completa.
Em Petrópolis, a vereadora Gilda Beatriz conta sobre o Centro de Referência em Educação Inclusiva João Pedro de Souza Rosa, que é uma das escolas que educa jovens com deficiência na cidade. “O CREI foi criado após uma indicação minha, no meu primeiro mandato. Foi uma conquista muito grande, afinal, só quem tem um filho (a) com deficiência, sabe da importância desse equipamento. A minha luta é muito grande para que os direitos das pessoas com deficiência sejam respeitados. A inclusão não pode ser exclusão. Agora, a frente da pasta de defesa das pessoas com deficiência, quero poder fazer ainda mais e tenho certeza que o nosso Prefeito Hingo Hammes também tem um olhar diferenciado para a causa.”
A professora Arlene Vieira, questionada se considera a sociedade atual mais consciente sobre o assunto, diz que “Sim, mas infelizmente é a minoria. Nas grandes cidades metropolitanas as pessoas têm um certo conhecimento, embora bem limitado. No geral, muitas pessoas com deficiência vivem de modo bem primitivo, e falta muito conhecimento tanto para elas como para as pessoas ao redor”.
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