Bruna Nazareth - especial para o Diário
A diabetes, doença causada pela produção insuficiente ou má absorção de insulina, hormônio que regula a glicose no sangue e garante energia para o organismo, tem sido uma preocupação crescente em crianças, embora seja comumente associada a adultos. A doença pode aumentar os níveis de glicose no sangue, e essas altas taxas podem resultar em complicações no coração, nas artérias, nos olhos, nos rins e nos nervos.
Segundo dados do Atlas da Federação Internacional de Diabetes, 92.300 crianças e adolescentes têm diabetes tipo 1 no Brasil, colocando o país em 3º lugar no ranking de incidência de DM1 infantil no mundo, ficando atrás apenas da Índia (229.400) e Estados Unidos (157.900).
A endocrinologista pediátrica, Dra. Ana Carolina Martelli, explica que o diabetes tipo 1 é o mais comum em crianças e adolescentes. Essa condição autoimune de destruição de células que produzem insulina, pode aparecer em qualquer etapa da infância, especialmente entre os quatro e seis anos e entre os 10 e 14 anos. Dessa forma, um diagnóstico precoce de diabetes na vida do público infantojuvenil tem um impacto significativo para as famílias, já que é uma condição crônica que acompanha o indivíduo por toda a vida.
“O especialista infantil faz a diferença, para orientar as famílias tanto no tratamento, que vai ter que fazer as injeções de insulina todo dia, mais de uma vez ao dia, quanto para esse controle da glicemia de ponta de dedo, esse controle glicêmico que ela vai precisar fazer. E as orientações em relação à alimentação. Mas eu sempre reforço que o objetivo é tratar ela bem, ela ser um indivíduo saudável, apesar do diagnóstico de diabetes, mas levar uma vida mais próxima de uma criança da idade dela. Então ela vai frequentar festas de aniversários, vai frequentar a casa de um amigo, vai frequentar a escola e fazer as atividades da escola, mas sempre com orientação. Ela pode comer as coisas que tem na festa, ela pode comer as coisas que tem no evento da escola, desde que ela não coma demais ou leve um lanche adaptado para ela, mas a gente evita até delas serem muito diferentes. Não precisa necessariamente ser tudo diet, pode ser um lanchinho igual das outras crianças, só não pode ser uma quantidade exagerada”
Como adaptar a rotina?
Nessa fase da vida, é fundamental que os pais incentivem hábitos saudáveis para todas as crianças, independentemente de terem diabetes ou não. Para a endocrinologista pediátrica, uma alimentação saudável, com o mínimo de alimentos industrializados, é benéfica para todos. A prática regular de atividade física também traz benefícios tanto para quem é diagnosticado com diabetes quanto para os demais. Além disso, esses estímulos devem ser constantes, sem a necessidade de eliminar totalmente o açúcar.
“A gente orienta de forma que você possa comer esses alimentos, para ela não ser restrita e ter uma vida saudável e equilibrada. A doença não traz limitações, a maior preocupação que eu acho que é para os pais que tem uma criança com diabetes, são os episódios de açúcar baixo, de hipoglicemia. Esses que são angustiantes, porque isso não tem hora para acontecer, às vezes, a criança desmaia, tem tremor e fica desorientada, esses são os maiores temores e os mais difíceis para os pais e para as crianças, são esses episódios que o açúcar varia muito. Fora isso, é estimular sempre a atividade física e alimentação saudável para todas as crianças”, ressalta a Dra. Martelli.
Em relação à atividade física, é importante que esse público escolha algo de que goste, como natação, futebol, academia ou qualquer outra modalidade que pratique com prazer. A intensidade deve ser ajustada para minimizar o risco de hipoglicemia, controlando os níveis de glicose regularmente e monitorando como o organismo de cada indivíduo reage ao exercício.
Sinais e sintomas
Pais e professores devem estar atentos aos principais sinais de alerta e sintomas para auxiliar no diagnóstico precoce de crianças e adolescentes. Entre esses sinais estão a perda de peso, fome excessiva (polifagia), sede intensa (polidipsia) e aumento na frequência urinária (poliúria). Embora a criança possa comer mais, ela ainda assim não ganha peso, pois seu corpo não utiliza o açúcar, sua principal fonte de energia, da maneira adequada. Isso faz com que o organismo recupere as reservas energéticas acumuladas, levando à perda de peso. Ao notar esses sinais, é recomendado realizar um teste de glicemia para verificar a possibilidade de diabetes.
A especialista também destaca a importância de reconhecer sinais de crises de hiperglicemia ou hipoglicemia.
“Se os professores já têm um aluno que tem um diagnóstico de diabetes, o mais importante é eles saberem que essa criança tem a doença e que ela vai ter algumas necessidades, às vezes, mais imediatas do que as outras crianças. Se ela tiver com a glicemia baixa, ela vai ter sintomas de tontura, boca pálida, fome e ela pode desmaiar. Quando ela sinalizar que ela está tendo esses sintomas, é importante deixar essa criança comer o lanche que ela já tem ou fazer o mel, para reverter essa hipoglicemia antes de passar mal e ter alguma coisa mais grave”, frisa.
A Dra. Martelli alerta que os responsáveis devem orientar os professores e que estes devem levar as instruções a sério. Isso é especialmente importante em situações em que uma criança pede para ir ao banheiro ou precisa comer fora dos horários regulares, como no casos em que apresenta sintomas de hipoglicemia.
“Se ela tiver açúcar alto no sangue, ela vai precisar beber mais água e fazer mais xixi, então é importante que o professor deixe ela sair de sala. Às vezes eu vejo meus pacientes falarem “Eu peço para sair de sala porque eu preciso fazer xixi e não me deixam porque está tendo a explicação”. Naquele momento ela vai ter que perder a explicação, porque ela tem uma necessidade maior. Se ela estiver com sintomas de hipoglicemia tem que deixá-la comer, mesmo que não seja na hora do recreio. Eu normalmente mando essas orientações para a escola, reforço com os pais que tem que passar, mas nem sempre todo mundo é orientado”
A importância da autonomia
Por serem pequenas e ainda não terem a capacidade de assumir responsabilidades, as crianças não têm autonomia no cuidado com o diabetes. No entanto, é essencial que os adolescentes com a doença desenvolvam essa independência e responsabilidade, aprendendo a monitorar seus níveis de glicose, aplicar a própria insulina e seguir o tratamento. Contudo, essa “liberdade” deve ocorrer sempre com supervisão e apoio dos pais.
“A gente estimula essa autonomia, que é importante para ele levar para a vida, para ele ter uma vida mais autônoma. Mas eles ainda precisam ter um pouco de supervisão, de vez em quando os pais têm que checar se realmente eles estão tomando a insulina, ver se a insulina está acabando ou se não está, se eles estão anotando e medindo essas glicemias, checar quanto é que está, o dia que está em casa fazer junto com o filho para ver se o filho sabe fazer mesmo, se ele está fazendo direitinho com a quantidade que foi orientada de fazer de insulina. Essa orientação a gente sempre recomenda e a gente vai adaptando de acordo com cada paciente”, conclui.
*Com informações da Sociedade Brasileira de Pediatria e Ministério da Saúde
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