Leandro Bellini - Diretor da Academia Brasileira de Cultura e secretário de Cultura da Fundação Cesgranrio
Em meio ao turbilhão de debates sobre as últimas tendências pedagógicas, as promessas da tecnologia educacional e as metodologias que almejam revolucionar o aprendizado, um elo fundamental, e, por vezes, surpreendentemente negligenciado, persiste: A intrínseca e vital relação entre cultura e educação.
Longe de serem esferas isoladas, cultura e educação formam um binômio indissociável, um casamento de ideias que, quando celebrado com a devida atenção, tem o poder de transformar a experiência educacional.
A cultura, em suas diversas e multifacetadas manifestações das artes visuais à música, do teatro à literatura, da dança às novas mídias não deve ser relegada ao papel de mero acessório no currículo escolar. Pelo contrário, ela emerge como um componente essencial, um alicerce para a construção do desenvolvimento integral dos alunos. Em sua essência, reverbera no rendimento escolar, acende a chama do interesse pela escola e molda a formação humana. Ao levar os estudantes a um ambiente repleto de estímulos culturais, a escola não apenas expande seus horizontes, mas também aguça sua sensibilidade e instiga um senso crítico apurado.
Um dos mais notáveis benefícios da simbiose entre cultura e educação reside no desenvolvimento do pensamento abstrato, essa pedra angular do raciocínio lógico. A educação artística, nesse contexto, assume um papel de protagonista, impulsionando o desenvolvimento dessa capacidade essencial. Ao desvendarem os mistérios de uma tela de Van Gogh, por exemplo, os alunos não se limitam a contemplar a beleza estética. Mergulham nas técnicas empregadas, nas emoções que emanam das pinceladas e no contexto histórico que envolve a obra. Essa análise complexa, por sua vez, exercita a capacidade de abstração e aprofunda a compreensão da intrincada teia da realidade.
Para além do desenvolvimento cognitivo, a cultura desempenha um papel crucial na formação humana, na formação de cidadãos conscientes e engajados. O acesso irrestrito às diversas expressões artísticas ilumina a mente dos alunos e revela a existência de múltiplas perspectivas, de formas de pensar que, embora divergentes, enriquecem o debate e a compreensão do mundo.
Um exemplo eloquente dessa transformação é a leitura de obras literárias de autores de diferentes culturas e origens. Ao se depararem com histórias e vivências diversas, os alunos desenvolvem a empatia, aprendem a valorizar a diversidade e a dialogar com o diferente, construindo pontes em vez de muros.
Não se pode ignorar, ainda, o impacto da cultura no despertar do interesse dos alunos pela escola, um desafio constante no cenário educacional contemporâneo. A escola, por vezes, parece distante da realidade dos estudantes, incapaz de despertar sua curiosidade e paixão pelo aprendizado. Ao valorizar a cultura local, ao promover atividades artísticas que dialoguem com os anseios e interesses dos jovens, a escola se transforma em um ambiente mais acolhedor, relevante e estimulante. Um exemplo inspirador é a realização de projetos que envolvam a pesquisa e a celebração das tradições culturais da comunidade, desde a música e a dança até a culinária e o artesanato.
Para que a integração entre cultura e educação seja mais do que uma mera utopia, é imperativo que as escolas adotem uma abordagem interdisciplinar e plural, quebrando as barreiras disciplinares e integrando os saberes. A interação entre ciência e arte, nesse contexto, deve ser incentivada em todas as áreas do conhecimento. Os professores de matemática, por exemplo, podem explorar as fascinantes relações entre os números e a música, enquanto os professores de história podem utilizar o teatro como uma ferramenta poderosa para dar vida aos eventos do passado. É, igualmente, importante que as escolas incentivem a participação ativa dos alunos na produção cultural, transformando-os em protagonistas da cena artística.
A cultura e a educação são elementos interdependentes e complementares, que se enriquecem mutuamente em uma dança harmoniosa. Ao investir na integração entre cultura e educação, as escolas não estão apenas cumprindo um dever, mas sim semeando as sementes de um futuro mais promissor, preparando os alunos para serem cidadãos mais críticos, criativos, sensíveis e engajados com o mundo que os cerca.
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