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Em 10 anos, Petrópolis registrou 302 acidentes com serpentes

Homens são as principais vítimas

Foto: Reprodução Butantan
Foto: Reprodução Butantan


Larissa Martins

Nessa sexta-feira (19) foi celebrado o Dia Internacional de Atenção aos Acidentes Ofídicos, ou seja, lesões causadas pela picada de uma serpente, podendo ou não levar ao envenenamento. A data busca ampliar a visibilidade para os riscos e impactos gerados por esse animal.

Segundo o Painel Epidemiológico do Ministério da Saúde, Petrópolis registrou 302 acidentes com serpentes em 10 anos (entre 2015 e 2025). Anualmente, as ocorrências são baixas, com uma média de 27 registros. Neste ano, até o momento, houve 15 casos, sendo 66,67% deles na área urbana; 26,67% na área rural e 6,67% sem informação.

O Painel aponta que as principais vítimas são homens, em 67% dos registros, enquanto as mulheres representam 33% dos atendimentos. A idade média é de 38 anos.

Em relação ao local da picada no corpo, o pé representa 40% dos casos, seguido pelos dedos dos pés e das mãos, que correspondem a 20% cada. Logo, aparece a perna e o braço, com 13,33% e 6,67%, respectivamente.

Sintomas

Durante a picada, algumas espécies de serpentes produzem uma peçonha em suas glândulas veneníferas capazes de perturbar os processos fisiológicos e bioquímicos normais de uma possível vítima, causando alterações como, por exemplo, salivação excessiva, diarreia, hemorragia, necrose, dor e inchaço.

Tipos mais comuns

Segundo o Ministério da Saúde, os acidentes causados por estas serpentes são divididos em quatro grupos, de acordo com o gênero da serpente causadora:

Acidente botrópico: É causado por serpentes da família Viperidae, dos gêneros Bothrops e Bothrocophias (jararacuçu, jararaca, urutu, caiçaca, comboia). É o grupo mais importante, com cerca de 30 espécies em todo o território brasileiro, encontradas em ambientes diversos, desde beiras de rios e igarapés, áreas litorâneas e úmidas, agrícolas e periurbanas, cerrados, e áreas abertas. Causam a grande maioria dos acidentes ofídicos no Brasil;

Acidente crotálico: É causado pelas cascavéis (Família Viperidae, espécie Crotalus durissus). As cascavéis são identificadas pela presença de guizo, chocalho ou maracá na cauda e têm ampla distribuição em cerrados, regiões áridas e semiáridas, campos e áreas abertas;

Acidente laquético: Também é causado por serpentes da família Viperidae, no caso a espécie Lachesis muta (surucucu-pico-de-jaca). A surucucu é a maior serpente peçonhenta do Brasil. Seu habitat é a floresta Amazônica e os remanescentes da Mata Atlântica;

Acidente elapídico: É causado pelas corais-verdadeiras (família Elapidae, gêneros Micrurus e Leptomicrurus). São amplamente distribuídos no país, com várias espécies que apresentam padrão característico com anéis coloridos.

Outras serpentes também podem causar acidentes, ou mesmo envenenamento, mas sem gravidade. Independentemente de ser peçonhenta ou não peçonhenta, o recomendado ao avistar uma cobra de qualquer espécie é se afastar e respeitar o espaço do animal. Caso ele seja encontrado em ambiente urbano, é preciso informar as autoridades locais para ajudar a prevenir acidentes.

Dados nacionais

Segundo o Instituto Butantan, os acidentes com serpentes peçonhentas continuam sendo um importante desafio de saúde pública no Brasil. Em 2024 foram 31.735 notificações e 127 mortes em decorrência do problema no país.

Os dados mostram que os trabalhadores rurais estão entre os mais atingidos e que a região Norte concentra as maiores taxas de ocorrência. A população indígena, embora represente menos de 1% dos brasileiros, aparece proporcionalmente mais exposta. Além disso, os atrasos no atendimento médico continuam sendo um dos principais fatores que aumentam o risco de complicações e de óbito.

A análise do perfil dos acidentados em 2024 mostra que os homens representaram 76% das vítimas, enquanto as mulheres corresponderam a 24%. Já a faixa etária mais atingida foi entre 20 e 49 anos, grupo em idade produtiva.

Dados sobre o território onde os acidentes ofídicos ocorreram indicam uma possível relação do problema com o trabalho desempenhado no campo: 75% das notificações aconteceram em áreas rurais, contra apenas 20% em zonas urbanas. Também corrobora a hipótese o fato de que 18% das notificações ocorreram em contexto laboral, ainda que muitas vezes em ambiente informal o número pode ser ainda maior, já que quase 13% das fichas não apresentavam a informação.

O local da picada no corpo também ajuda a compor o cenário, uma vez que picadas em pés e pernas correspondem a mais de 60% dos casos. Tal indicador evidencia a possível exposição dos trabalhadores rurais, frequentemente em áreas de roçado ou agricultura de subsistência, em beira de rios, mata fechada e florestas. Em muitos casos, a falta de uso de equipamentos de proteção individual aumenta ainda mais a vulnerabilidade do grupo.

Uso dos antivenenos

O Butantan é responsável pela fabricação de cinco antivenenos utilizados no tratamento dos agravos por picada de serpente. Esse é reconhecido como a única alternativa terapêutica específica para o envenenamento ofídico.

Em 2024, quase 80% dos pacientes picados no país receberam algum tipo de soro. Desse total, mais da metade recebeu o soro antibotrópico, utilizado para combater os efeitos da picada de serpentes do gênero Bothrops, como jararaca, jararacuçu, urutu e surucucu.

O Painel Epidemiológico mostra que 56% dos acidentes foram classificados como leves, 30% como moderados e 7% como graves. Entre as complicações mais frequentes estão infecção secundária, insuficiência renal, necrose e, em situações extremas, amputações.

Os números também mostram que o tempo decorrido entre o momento da picada e o atendimento médico é fator determinante: quando o socorro acontece até três horas após o acidente, a taxa de letalidade é de 0,29; porém, se a demora supera 12 horas, o coeficiente salta para 1,13.

Em relação ao número de óbitos, o Centro-Oeste registrou o maior índice de letalidade em decorrência do ofidismo. Enquanto a média nacional foi de 0,40%, a região apresentou uma taxa de 0,76%, quase o dobro da taxa geral

Para onde ir?

Em casos de acidentes, a população deve procurar socorro médico sempre e imediatamente. Os soros são aplicados por via endovenosa e o tratamento precisa de acompanhamento e avaliação contínua, por isso, somente pode ser administrado em ambiente hospitalar, por equipe treinada. A referência para atendimento em Petrópolis é a Unidade de Pronto Atendimento de Cascatinha.

Com informações do Butantan

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