1 em cada 10 mulheres sofrem com essa doença no Brasil
A endometriose é uma condição crônica que acomete cerca de 10% das mulheres em idade fértil, podendo impactar significativamente a qualidade de vida de muitas. Esta doença ocorre quando o tecido endometrial se desenvolve fora do útero, desencadeando um processo inflamatório crônico. Durante o ciclo menstrual, este tecido reage como o endométrio normal, proliferando e descamando. Isso causa acúmulo de tecido e inflamação nos órgãos afetados, gerando sintomas dolorosos e, em muitos casos, à formação de aderências e cistos.
Segundo a Associação Brasileira de Endometriose, no Brasil, 1 em cada 10 mulheres sofrem com essa doença, e compreender seus sintomas é fundamental para um diagnóstico preciso. Embora os sinais possam variar, os mais comuns incluem dor pelvica intensa no periodo menstrual, por vezes limitante, infertilidade, distensao abdominal, alteracao no fluxo menstrual, dor na relacao sexual, dor lombar, enxaqueca e alteracoes no ritmo intestinal, seja diarreia ou prisao de ventre.
“Existem atualmente 56 sintomas relacionados à endometriose e a presenca desses sintomas vai estar relacionada à localizacao dessa doenca. Como é uma enfermidade que tem uma diversidade de sintomas, muitos deles parecidos com outras doenças, o que acaba dificultando seu diagnóstico, pela pouca suspeição dos médicos que atendem essas pacientes. Em média, as mulheres passam por 6 a 7 médicos diferentes, até que alguém diagnostique a endometriose”, ressalta Lucas Simões, médico especialista em cirurgia ginecológica.
Sentir dores intensas não é normal
Durante o ciclo menstrual, é comum que mulheres, tanto jovens quanto adultas, enfrentam cólicas menstruais, que, mesmo quando intensas, podem ser confundidas com desconfortos típicos da menstruação. No entanto, essas fortes dores podem ser um sinal de alerta e, quando ignorada ou subestimada, pode atrasar o diagnóstico e o tratamento.
“Existe uma questao cultural no Brasil que e “normal” a mulher sentir dor no periodo menstrual. Quantas mulheres têm fortes dores menstruais desde a adolescência, mas ouvem dos seus proprios familiares que e assim mesmo, que sentir dor e normal? Então como é vista como algo normal, demora-se a procurar atendimento médico, podendo chegar a ter dores fortes por anos, mas sem identificar a causa desse sintoma”
Tenho o diagnóstico, e agora?
O diagnóstico da endometriose pode ser um desafio, pois seus sintomas muitas vezes são confundidos com outras condições. No entanto, a combinação de exame clínico e exames de imagem, ultrassonografia pélvica e ressonância magnética, facilita na identificação. Após a comprovação da doença, é fundamental que a mulher procure atendimento médico especializado, com profissionais que compreendam a endometriose e seus tratamentos.
Existem diversas opções terapêuticas, incluindo medicamentos hormonais, analgésicos, anti-inflamatórios e cirurgia minimamente invasiva. Entretanto, a forma de tratamento irá depender de cada paciente, mas algo que deve ser enfatizado para todos é que o estilo de vida saudável é um dos principais pilares no tratamento da endometriose.
“Sabendo que é uma doença crônica, com comportamento inflamatório, e tendo componentes tanto do sistema imunológico quanto genético, temos no estilo de vida um dos principais pilares no seu tratamento. Boa alimentação, exercícios físicos, sono regulado, controle do estresse... são os primeiros passos no tratamento da endometriose. Associada a essas mudanças, deve ser avaliada a indicação de tratamento hormonal, como os anticoncepcionais orais ou dispositivos intra-uterinos. A maioria das pacientes com endometriose irá melhorar com esse tratamento conservador, trazendo de volta a sua qualidade de vida. Aquelas que não conseguirem melhorar, terão na cirurgia a sua possibilidade de tratamento, retirando todos os focos da doença”, frisa o Dr.Simões.
Posso engravidar?
Uma das questões mais impactantes para as mulheres com endometriose é a ligação entre essa condição e a infertilidade, que pode impactar profundamente sua vida emocional. Estima-se que cerca de 30% a 50% das mulheres com essa doença enfrentam dificuldades para engravidar. No entanto, é importante destacar que a endometriose não é sinônimo de infertilidade, embora sua prevalência seja maior nesse grupo em comparação com a população geral.
“Seguir uma prática de estilo de vida mais saudável é o primeiro passo para melhorar a fertilidade, tanto de forma mais imediata, ou preservando óvulos para o futuro. Se essa mulher tentar por 6 meses a 1 ano e não conseguir engravidar de forma natural, temos na cirurgia uma possibilidade de aumentar essas chances de gestação. Sabemos que retirando todos os focos de endometriose, podemos aumentar as chances de gestação natural em 50 a 80%. E mesmo que essa mulher ainda continue a não engravidar, ainda é possível tentar o auxílio de métodos de fertilização”
Para mulheres mais velhas, independentemente de terem endometriose, as chances de infertilidade aumentam. No caso do público feminino com a doença que desejam engravidar, é importante considerar que a idade também pode ser um fator mais determinante do que a própria condição. Sendo assim, buscar orientação de um profissional de saúde especializado é essencial, pois, com o tratamento adequado e o suporte necessário, muitas mulheres podem realizar o sonho da maternidade.
*Com informações da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva
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