Em Petrópolis, cerca de 300 mulheres fazem tratamento de endometriose
Mariana Machado estagiária
A endometriose pode causar sérias dificuldades na vida de uma mulher, se não diagnosticada e tratada, impactando a vida profissional, social e mental das mulheres. A estimativa do Ministério da Saúde é de que uma a cada 10 mulheres sofra com os sintomas da doença e desconheça a sua existência. Com mais de 7 milhões de mulheres afetadas no Brasil, o diagnóstico frequentemente demora de seis a sete anos, o que agrava o sofrimento emocional das mulheres vítimas da doença.
O médico cirurgião especialista em endometriose, Lucas Simões, explica que a endometriose é uma doença crônica, que pode acometer mulheres em idade fértil, e se caracteriza pela presença de células de uma camada interna do útero, chamada de endométrio, mas em outros lugares do corpo, como intestino, bexiga, trompas, ovários, etc.
Entretanto, ainda não há a certeza do que causa a doença, mas o médico conta que existem pelo menos seis teorias que tentam comprovar sua causa, porém nenhuma consegue justificar todos os casos dessa doença. “Sabemos atualmente que alterações imunológicas e genéticas podem ter participação nessa causa, mas ainda precisam ser realizados mais estudos”, diz.
Justamente por não conseguir precisar a causa, ainda não se sabe como prevenir a endometriose. “Um estilo de vida mais saudável, com a prática de atividades físicas, alimentação equilibrada e controle do sono podem diminuir as chances de sintomas relacionados à endometriose, porém não vai prevenir a doença em si”, ressalta o médico especialista.
Outra dificuldade da doença é que, em média, as mulheres com endometriose demoram de 6 a 7 anos para diagnosticá-la. “Isso se deve a dois principais motivos: normalização das dores na mulher, com uma frase que infelizmente ainda é cultural de que “sentir dor menstrual é normal”, e a falta de consciência dos profissionais da saúde em identificar a endometriose, não suspeitando da doença e demorando ao diagnóstico”, ressalta o médico.
Com isso, o ideal é de que as mulheres façam exames ginecológicos anualmente, “não somente pensando em endometriose, mas como uma rotina para exames de mamas e câncer de colo de útero. Não há como prevenir a endometriose, mas o diagnóstico precoce melhora muito as chances de tratamento, controlando os sintomas da doença e melhorando as chances de fertilidade futura”, explica.
Como a endometriose está relacionada ao aumento de ansiedade e depressão?
O especialista explica que “Pacientes com endometriose tem uma chance aumentada de desenvolver quadros psicológicos como ansiedade e depressão, principalmente pelos sintomas da doença e seu impacto na qualidade de vida, como dor crônica e infertilidade. Além disso, há uma possibilidade de desregulação do sistema nervoso, com alteração em neurotransmissores como dopamina e serotonina, diretamente ligados ao humor”.
Além disso, quem tem endometriose tem uma chance aumentada de ter ansiedade, conta o médico. Entretanto, não significa que toda paciente com endometriose terá esta outra doença também. E completa dizendo que, “Alterações de humor, mau controle do estresse e desregulação do sono podem piorar os sintomas decorrentes da endometriose”.
Um dos sintomas da doença é a cólica intensa durante a menstruação. Na endometriose, essa cólica menstrual é constante e progressiva. Outros sintomas são: dor durante as relações sexuais; dor e sangramento intestinais e urinários durante a menstruação; e dificuldade de engravidar.
Além disso, Edmund Baracat, médico ginecologista e obstetra, professor universitário, titular da disciplina de Ginecologia do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), destaca que “Quanto mais tempo se leva para um diagnóstico, mais a endometriose vai se disseminando no interior do abdome, podendo levar a infertilidade por alterações anatômicas, obstrução das trompas, alteração na ovulação. Por isso, o ideal é a detecção e o tratamento precoce”.
Atendimentos na cidade
Em Petrópolis hoje, cerca de 300 mulheres estão fazendo o acompanhamento clínico. No país, em 2021, mais de 26,4 mil atendimentos foram feitos no Sistema Único de Saúde (SUS), e oito mil internações haviam sido registradas na rede pública de saúde.
O atendimento na cidade é realizado no ambulatório do Hospital Alcides Carneiro desde 2014, com serviço de patologia ginecológica, pacientes com diagnóstico de endometriose.
Quando é recomendada a cirurgia, a paciente é encaminhada para regulação da Secretaria de Estado de Saúde, que encaminha para hospitais de referência, como o Hospital Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro.
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