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Estudo para substituir animais em testes de antiveneno ganha reconhecimento internacional

Foto: Cláudio Machado/Instituto Vital Brazil
Foto: Cláudio Machado/Instituto Vital Brazil


Pablo Pires (INCQS/Fiocruz)

Uma pesquisa da Fiocruz, que propõe substituir camundongos por ensaios in vitro no controle da qualidade de soros contra o veneno de serpentes do gênero Bothrops, recebeu dois reconhecimentos internacionais. Uma menção honrosa concedida pela organização científica britânica NC3Rs (sigla em inglês para Centro Nacional para a Substituição, Refinamento e Redução de Animais em Pesquisa). E um prêmio da Sociedade Europeia para Alternativa de Testes em Animais no 13º Congresso Mundial de Alternativas ao Uso de Animais.

O gênero Bothrops reúne as serpentes popularmente conhecidas como jararacas, jararacuçus, urutus, cotiaras, dentre outras. Até aqui, a eficácia dos soros contra os venenos desses répteis é testada em camundongos o chamado modelo murino. A pesquisa logrou pré-validar outra metodologia in vitro, na qual, ao invés de roedores, utilizam-se células conhecidas como Vero, inteiramente cultivadas em laboratório. Após fixar as células Vero em placas, aplicou-se uma mistura de soro com veneno. Se as células permanecerem intactas, o soro está aprovado, pois inibiu a ação do veneno; caso se observe qualquer efeito tóxico, o soro está reprovado.

“É uma alternativa à qual chegamos após aplicarmos o chamado princípio dos três Rs, que em português se traduz por refinar, reduzir ou substituir o uso de animais em laboratório. Esta nova metodologia, além de substituir o modelo murino, é mais rápida e barata”, explica a bióloga Renata Norbert, autora do estudo.

O trabalho do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz) foi pré-validado, ou seja, é reprodutível foi aplicado diversas vezes com resultados confiáveis, de modo a permitir sua replicação. “Agora estamos em fase final de validação, na qual pelo menos quatro laboratórios diferentes precisam realizar o novo ensaio”, conta a bióloga.

Com ampla distribuição geográfica, que vai do Nordeste do México até a Argentina, as Bothrops são responsáveis por cerca de 90% dos casos de envenenamento por serpentes em humanos no Brasil. Até o momento, só em 2025, o DataSUS registrou 12 mil acidentes. Além da possibilidade de óbito, a peçonha desses répteis pode causar hemorragias, necroses ou mesmo amputações dos membros humanos afetados. Apesar disso, o envenenamento por Bothrops não desperta o interesse comercial da indústria farmacêutica privada, o que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a classificá-lo como doença negligenciada. Ou seja, tanto o antiveneno quanto os ensaios para verificar sua qualidade são inteiramente feitos pelas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), como o INCQS/Fiocruz.

O título do trabalho premiado é A cytotoxicity assay as an alternative to the Murine Model for the potency testing of Bothrops jararaca venom and antivenom: an intralaboratory pre-validation study. Norbert debruçou-se na parte de pré-validação da nova metodologia, ajustando, refinando ou otimizando as etapas necessárias para sua aplicação. A ideia de substituir o modelo murino por células Vero vem do doutorado de um colega do INCQS, o médico veterinário Humberto Araújo.

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