Empresários e moradores de Itaipava reconhecem a importância dos festivais para a economia local, mas defendem uma realocação
Um grupo de empresários e membros da sociedade civil de Itaipava manifestou preocupações quanto ao impacto dos grandes eventos que têm ocorrido na região. Enquanto reconhecem e valorizam a importância dos mesmos para a economia local, os moradores afirmam que a localização tem trazido desafios para o cotidiano de quem vive ao redor e para os negócios que operam um pouco mais distante do Parque Municipal.
A principal reclamação gira em torno do barulho e som alto que impedem o descanso de moradores, especialmente durante os horários noturnos. Além do incômodo sonoro, os comerciantes locais apontam para a queda nas vendas, atribuindo essa situação ao redirecionamento do público para dentro do evento, reduzindo o fluxo de clientes nos estabelecimentos da região.
“Não sou contra os eventos e afirmo que é importante que eles aconteçam, pois movimentam a economia. Entretanto, as lojas do Shopping Itaipava estão ficando vazias. A movimentação de clientes reduziu 60% no meu empreendimento”, relata Telma Gil Santos, moradora de Itaipava e empresária na área de entretenimento infantil.
A crítica dos empresários e moradores não é contra os eventos em si, mas sim em relação à adequação do local. Sergio Saraceni e sua esposa Raquel, proprietários do Soberano, lamentam a redução do público em seu estabelecimento.
“Reconhecemos a relevância e organização desses eventos, que são necessários para Petrópolis. Eles trazem pessoas de todas as partes do país para cá, movimentando os hotéis e Airbnb. Mas somos contra eles serem realizados no coração de Itaipava, gerando transtornos imensos aos moradores e comércio. Por conta disso, uma grande atração que esteve presente no Soberano na última semana, a Leila Pinheiro, registrou um público menor do que o local está acostumado a receber”, conta Sergio.
De acordo com os empresários e moradores, Itaipava não possui infraestrutura que permita acomodar eventos de grande porte sem alterar a vida da comunidade. Eles sugerem que uma área afastada dos centros residenciais poderia ser uma solução para o problema, permitindo que a cidade continue recebendo atrações sem prejudicá-los.
Dificuldades de locomoção
Outro ponto citado é o trânsito caótico, que mesmo em dias normais já torna difícil a locomoção. A fila quilométrica de veículos gera horas de espera e acaba espantando quem deseja visitar a localidade e seus empreendimentos.
Como exemplo, pode ser citado o Rock The Mountain, iniciado no sábado passado, que comprometeu a operação dos ônibus, diante das inúmeras irregularidades no trânsito, principalmente, nas imediações do Parque de Itaipava.
Os impactos no trânsito foram registrados, de forma mais intensa, entre 11h e 15h, e à noite, por volta das 21h30, com atrasos de até 40 minutos entre as viagens das linhas 602 e 605 - Vale das Videiras, linhas 610, 617, 618, 622 - Araras e, principalmente, a 700 Terminal Itaipava, que totalizou a perda de 12 viagens ao longo do dia, mesmo operando com reforço.
Segundo o Setranspetro, entre o Trevo de Bonsucesso e o Terminal Itaipava foram registradas diversas irregularidades cometidas por ônibus de excursão e vans, que estacionaram em áreas proibidas e também ocuparam recuos e pontos de ônibus destinados ao transporte público.
Os problemas impediram a fluidez no trânsito ao longo do dia, atrapalhando os passageiros e os próprios participantes do evento que optaram pelo transporte público, que tiveram que realizar o embarque e desembarque nas ruas, o que prejudicou, em especial, crianças, idosos e pessoas com mobilidade reduzida.
Estacionamentos lotados
Pelo acúmulo de carros, os frequentadores do Horto Municipal de Itaipava têm enfrentado dificuldades para encontrar vagas de estacionamento durante os dias de shows. O espaço oferecido gratuitamente aos clientes fica lotado de veículos de pessoas que participam dos eventos, causando transtornos.
Geração de emprego e renda
Por outro lado, os empresários e representantes da sociedade civil enaltecem a grandiosidade dos eventos, reconhecendo o impacto positivo na geração de empregos e na atração de turistas para a cidade. Inclusive, o evento citado estima movimentar em torno de R$ 70 milhões, além de gerar mais de 800 vagas de trabalho temporários para vendedores, recepcionistas, vendedores, motoristas, entre outros.
Além disso, anualmente são arrecadadas pelo menos 15 toneladas de alimentos não perecíveis para instituições sociais de Petrópolis. Isso só é possível através do ingresso “Meia Solidária”, onde o público doa os itens e recebe desconto.
Posicionamentos
Os empresários e moradores afirmam que já solicitaram ao governo municipal a realocação dos eventos, mas não obtiveram retorno. A postura das autoridades em relação à demanda faz com Vera Cecília, representante da sociedade civil, veja a nova gestão como uma esperança.
“Acredito que o novo prefeito eleito será uma luz no fim do túnel. A ele vamos reivindicar a transferência de local”, diz.
Questionada sobre o assunto, a Prefeitura de Petrópolis não respondeu ao Diário. A organização do RTM também foi questionada sobre as questões levantadas, mas também não se posicionou.
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