Mauro Peralta - médico e ex-vereador
Os últimos acontecimentos em Petrópolis justificam, com sobras, o título deste artigo. Greve de ônibus, tentativas de estelionato nas barracas da Bauernfest e dificuldades graves no atendimento à saúde, inclusive com falta de medicamentos, têm dominado as redes sociais e gerado revolta. A população petropolitana votou de forma expressiva no prefeito Hingo Hammes, apostando em uma virada de página na forma de governar. Infelizmente, ainda estamos esperando. Mas ainda há tempo.
A cidade aguarda providências concretas. Espera-se, por exemplo, que as secretarias desnecessárias criadas no governo anterior sejam extintas ou incorporadas a outras, como sinal de responsabilidade com o dinheiro público. Também seguimos aguardando a divulgação da auditoria realizada pelo Ministério da Previdência no INPAS. É fundamental que os responsáveis pelo desaparecimento dos recursos do fundo de aposentadoria sejam identificados e punidos.
Outro ponto que exige transparência é o das dívidas acumuladas na COMDEP, CPTrans e SEHAC. O que justifica a prorrogação dos contratos de lixo, se houve tempo suficiente (mais de seis meses) para realizar nova licitação? O governo anterior pagava mais de 173 reais por tonelada. O valor caiu para cerca de 133 reais, com transbordo incluso, com a mesma empresa. O que explica essa redução? O valor antigo era abusivo? E se era, por que os contratos foram prorrogados?
Na saúde, a crise é ainda mais sentida. Faltam medicamentos e sobram judicializações por obrigações que o SUS deveria cumprir espontaneamente. É preciso planejamento. A redução de portas de entrada, a racionalização dos gastos e o encurtamento do tempo de permanência nos hospitais, com exames mais ágeis, podem economizar recursos e, mais importante, aliviar o sofrimento de quem depende do sistema público.
Também queremos saber quanto a Faculdade de Medicina de Petrópolis paga mensalmente pelo uso do Hospital Alcides Carneiro e dos postos de saúde. A população tem o direito de conhecer os termos desses acordos.
Há exemplos internacionais de austeridade e gestão eficiente. O presidente argentino Javier Milei recuperou a confiança do mercado e da população com medidas de austeridade. Reduziu o número de ministérios, impostos e subsídios, enxugando a máquina pública, que só suga o dinheiro da população sem contrapartida. Petrópolis não precisa copiar fórmulas externas, mas pode e deve se inspirar em bons exemplos.
É preciso ter coragem de nomear pessoas capacitadas para os cargos estratégicos nas secretarias e empresas públicas. Companheiros de campanha podem ser amigos e receber agradecimentos, mas não devem ocupar funções técnicas se não têm preparo. Isso é básico. É o mínimo de respeito ao cidadão pagador de impostos.
Os mais velhos lembram do coronel Fontenelle, no governo Carlos Lacerda, no Rio de Janeiro. Rebocava até carros de juízes estacionados em locais proibidos. E o trânsito funcionava. Precisamos de um choque de ordem em Petrópolis, com transparência e ação.
Ainda há tempo para virar o jogo. É na crise que surgem as oportunidades, mas é preciso austeridade, pulso firme e, acima de tudo, honestidade na comunicação com o povo. Seguimos esperando, para podermos voltar a cantar com alegria o nosso hino: “quem pensa que é feliz em outra terra é porque ainda não viveu aqui.”