Edição anterior (3842):
terça-feira, 22 de abril de 2025


Capa 3842

Formar e educar

Foto: Pixabay
Foto: Pixabay

Ataualpa A. P. Filho


Do viver. Duvidar. Felicidade é ponto de chegada. O ponto de partida é a dor. A largada é feita com o corte do cordão umbilical. O ser feliz consiste em um processo de construção. Ninguém chega ao estado de felicidade gratuitamente. É preciso fazer por merecer, por isso os primeiros passos são para edificar o ser. E “ser” é importante. Contudo o processo de formação é contínuo...

Tenho me dedicado à Educação exatamente pelos desafios e pelas indagações que surgem nesta caminhada. E pelas indagações que colho nesta caminhada, sinto-me impulsionado a escrever o vivido, o refletido, o sonhado, o sofrido, o lembrado, até a saudade do esquecido. Há também aquilo que tentamos esquecer, mas permanece em nossa mente à espera das ações do tempo para cicatrizar-se.

Que mentalidades estão sendo formadas em nossos dias?

Iniciei a semana com essa pergunta de uma mãe que se depara com as dificuldades para proteger o filho das avalanches de contravalores que são jogados nas redes sociais. Ela sabe que o filho precisa da ajuda da família para superar os difíceis momentos vividos no ambiente escolar. Em síntese, ele foi vítima de bullying.

A turbulência ainda não passou, pois o caso não se restringiu a “uma briguinha” com um “coleguinha” no recreio. E os oponentes levados à sala da direção para ouvir a “bronca” da diretora que, com uma voz firme, com um semblante severo, consegue pacificar e fazer com que os gladiadores infantis se abracem e voltem para a sala de aula, após a grande ameaça: “chamar os pais à escola”. Acredite, isto, um dia, foi uma ameaça para muitas crianças: chamar os pais à escola pelo mau comportamento dos filhos, pois estes temiam os castigos que possivelmente receberiam.

A indagação da mãe veio depois da notícia do falecimento da menina de 8 anos no Distrito Federal, após inalar gás de desodorante aerossol, possivelmente em “trend”, o “desafio do desodorante”, que circula na rede social Tik Tok. Isso consiste na “batalha” para ver quem consegue inalar mais produtos químicos no menor tempo possível. O avô encontrou-a desacordada dentro de casa. Foi levada para o hospital, mas não apresentou mais reflexos neurológicos. Sofreu uma parada cardiorrespiratória e teve morte cerebral confirmada.

Esse foi mais um caso que colocou em questionamento o processo educacional, tanto no âmbito familiar, quanto escolar, que ainda não conseguiu conter os contravolores, as maldades, os golpes disseminados nas redes sociais. Os pais, os educadores, as autoridades responsáveis pela segurança pública precisam atuar preventivamente para conter as ações que violentam a infância e a adolescência.

No início da manhã da sexta-feira santa (18/04), da janela do décimo sétimo andar de um prédio na capital paulista, vi, com certa nostalgia, uma área de lazer pública, sem nenhuma criança, sem nenhuma pessoa da chamada terceira idade usando os aparelhos de ginástica expostos. Depois de uns goles de café, desci para vê-la de perto. Por volta das nove horas, havia apenas uma criança embalando-se sob os olhos da mãe e um senhor deitado no banco de cimento com uma mochila servindo-lhe de travesseiro. Às onze horas, voltei à janela, vi outra criança correndo atrás de uma bola na quadra do referido parque. E nessa hora, veio a pergunta: “quantas crianças, neste momento, estão dentro de um quarto com um celular na mão?...”

Brincadeiras de roda, amarelinhas, pique-esconde, pega-pega, pula corda, pião, bilboquê, quebra-cabeça, jogo de botões, pingue-pongue, em síntese, a ludicidade analógica contribuía para o prolongamento da ingenuidade das crianças. Os brinquedos eletrônicos estão entre os itens que afastam as crianças do contato com a natureza, com a terra, com as atividades que rompem com o sedentarismo. Já estamos colhendo os frutos de uma geração atada às redes sociais manipuladas por influenciadores que disseminam valores que ferem a ética e a consciência da cidadania.

E caminhando para o final da semana, em conversa com um grande amigo na cidade paulista, ele me falou em tom resignado:

Formar um filho é fácil. Difícil é educá-lo.

Todos os filhos dele têm formação em nível superior e estão bem posicionados no mercado de trabalho. Contudo, mantém o discernimento de que “formar” e “educar” apresentam contextualizações diferentes. Não basta apenas ter o domínio do conhecimento científico, é preciso ser humano. A via que leva  à felicidade passa pelo ser humano...

Edição anterior (3842):
terça-feira, 22 de abril de 2025


Capa 3842

Veja também:




• Home
• Expediente
• Contato
 (24) 99993-1390
redacao@diariodepetropolis.com.br
Rua Joaquim Moreira, 106
Centro - Petrópolis
Cep: 25600-000

 Telefones:
(24) 98864-0574 - Administração
(24) 98865-1296 - Comercial
(24) 98864-0573 - Financeiro
(24) 99993-1390 - Redação
(24) 2235-7165 - Geral