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Fotorreceptores

Ataualpa A. P. Filho - professor

Foto: Pixabay
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O mundo é policromático. A diversidade das cores estabelece o colorido que nos encanta. Os tons de verde de uma floresta são fascinantes. As cores no outono sempre me levam a refletir sobre a efemeridade da vida, sobre a transitoriedade que exige adaptações diante da dinâmica do existir.

Pela dialética da vida, a realidade é colocada em prismas que permitem múltiplas visões. Um dos obstáculos da democracia paira exatamente no respeito à diversidade. A intolerância somada ao ódio tem sido o estopim de várias cenas de violência.

A facilidade com que se perde a paciência não é a mesma para encontrá-la. No trânsito, nas casas legislativas, em locais de trabalho, em ambiente familiar, as agressões têm sido frequentes. Temos que usar as nossas mãos para afagar e não para afogar. Muitos atiram pedras sem olhar para o teto de vidro que possui.

É bem verdade que ninguém tem total domínio sobre o seu estado de espírito, porém a violência não se justifica por um temperamento explosivo que sempre se manifesta com uma agressividade desproporcional aos fatos que o desencadeiam. E essa desproporcionalidade recai, com frequência, sobre pessoas que não estão envolvidas nos problemas em questão.

Por trás de um temperamento agressivo, geralmente, há uma insegurança emocional. Nesses momentos em que a raiva explode, às vezes, as palavras saltam como navalhas afiadas na ira e ofendem profundamente.  Nem sempre é possível reatar uma amizade ferida por um descontrole emocional. Por isso não se deve perder a oportunidade de medir as palavras no silêncio e só usá-las em autodefesa, mas com a sensatez da verdade.

Constata-se, no dia a dia, mais cenas agressivas do que ternas. A afetuosidade anda em baixa. Plantar gentileza para gerar gentileza consiste em conter o instinto de vingança. A paz é simbolizada pela cor branca. Contudo, no espectro de luz branca, temos todas as cores do arco-íris.

Hoje o mundo carece de luz. Quem se deixa guiar pela Luz Divina enxerga o próximo e torna-se mais aberto às ações solidárias. A Luz que brilhou na história humana apontou o caminho do Bem. No entanto, em vários momentos, deixou claro que não veio para condenar. Isso reitera a prática cristã que se materializa na caridade, movida pelo amor que também se manifesta no ato de perdoar. Não há reconciliação sem perdão. O amor religa, plenifica a Paz.

A consciência do pertencimento nasce com as mãos na massa. O unir para construir persevera na solidariedade. O viver é mais leve quando compartilhado. A empatia, o altruísmo alimentam a satisfação do ser útil.

Em nossa alma, em nossas retinas, em nossa consciência, existem fotorreceptores. Precisamos conceber a luz para contemplar a beleza das cores. Seres OpaCOS não carregam luz dentro de si.

Para serem visualizadas, as cores precisam de luz: o que adianta o colorido sem luz?

A monotonia, quando se apropria do tédio, cansa, desestimula, desanima, desmotiva, cai na rotina da previsibilidade. Reconheço que é difícil desalojar-se da zona de conforto. Contudo, é preciso entender que o comodismo atrofia. O desafiar-se exige coragem.

O medo de perder, às vezes, rouba a oportunidade de ganhar. Todo projeto tem seu risco. A realidade é que faz nascer verdades. Foi Guimarães Rosa quem disse, em “Grande Sertão: Veredas”, que “o correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.”

“Pedra que rola não cria limo”, diz o ditado popular. Mas quem quer criar limo? O novo não vem pela estagnação.

A generosidade ainda serve como termômetro para aferir o grau de civilidade existente nas relações humanas, uma vez que expõe a reciprocidade do respeito. O amor, que se materializa em doação, sabe que a partilha une fraternalmente. E para concluir esta nossa prosa, transcrevo um trecho de um parágrafo da primeira Exortação Apostólica (“Dilexi te” “Eu te amei”) do papa Leão XIV, publicada em 04/10/2025:

“Observar que o exercício da caridade é desprezado ou ridicularizado, como se fosse uma fixação somente de alguns e não o núcleo incandescente da missão eclesial, faz-me pensar que é preciso ler novamente o Evangelho, para não se correr o risco de o substituir pela mentalidade mundana. Se não quisermos sair da corrente viva da Igreja que brota do Evangelho e fecunda cada momento histórico, não podemos esquecer os pobres.”

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