Ferramenta do Cemaden pretende lançar alertas com 72 horas de antecedência; no momento, Petrópolis tem risco "extremamente baixo"
Rômulo Barroso - especial para o Diário
O Governo Federal lançou na última segunda-feira (17/02) um novo sistema para detectar o risco de deslizamentos de terra. A maior inovação dessa ferramenta, a GeoRisk, é a possibilidade de prever a possibilidade de movimento de massas com até 72 horas de antecedência - até aqui, os modelos existentes conseguiam lançar alertas com no máximo 24 horas de antecedência. Nesse momento, o GeoRisk aponta risco "extremamente baixo" até sábado (22/02).
Essa ferramenta, criada pelo Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), usa uma base de dados de diferentes modelos meteorológicos, informações ambientais e históricos de desastres. A relação entre a chuva dos dias anteriores e a previsão para os próximos dias é levada em consideração para a realização do cálculo de risco e foi estabelecido um limiar crítico para os municípios monitorados. Quando o cálculo alcança valores maiores que 1.0, o Cemaden aponta que "há possibilidade de ocorrer deslizamentos de terra naquela determinada região (risco moderado ou superior)". Além disso, "Quanto maior o índice, maior é a probabilidade de ocorrência de deslizamentos, bem como a magnitude do evento associado (deslizamentos pontuais, esparsos, generalizados ou corridas de massa / fluxo de detritos)".
O Diário consultou o GeoRisk nessa quarta-feira (19), que calculou o risco de 0.02 para quarta e quinta (20), 0.04 para sexta (21) e 0.07 para sábado (22). Isso significa risco "extremamente baixo" de deslizamentos em Petrópolis. Vale dizer que a cidade vem tendo um período com muito menos chuva que o normal para época de verão: o Diário mostrou na edição dessa quarta que o volume de chuva registrado neste ano é menos de 20% do registrado em janeiro e fevereiro de 2023 e de 2024.
Quase 200 deslizamentos registrados em Petrópolis desde 2017
Segundo o Cemaden, o GeoRisk começou a ser desenvolvido em 2019 e, desde o início dos testes, foi possível detectar 90% das principais ocorrências de deslizamento de terra, com exceção daquele que foram derivados de chuvas muito localizadas e imprevisíveis por qualquer modelo de previsão numérica de tempo. O Cemaden informou que alcançou um aumento de 13% na taxa de detecção de ocorrências de deslizamentos e de 15% na taxa de acerto das análises de risco, quando comparado com os métodos tradicionais.
Parte dessa ferramenta leva em consideração o histórico de deslizamento. Em Petrópolis, o GeoRisk registrou 175 deslizamentos desde 2017. A maioria são de pequeno porte, mas também há 12 de médio e um de grande porte (esse ocorrido no dia da maior tragédia natural da cidade, em 15 de fevereiro de 2022). Essas informações são tanto da base de dados do próprio Cemaden, com dados oficiais como o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), órgão vinculado ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), como de relatos da Defesa Civil local e de notícias veiculadas pela mídia.
Ferramenta pode salvar vidas, diz ministra da Ciência
Com essa ferramenta, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) entende que será possível aprimorar a capacidade de previsão e monitoramento de deslizamentos de terra, contribuindo para um maior suporte à tomada de decisão para envio de alertas.
"Lançar este novo sistema, que aprimora a qualidade das previsões de risco de deslizamentos, nos coloca na vanguarda da antecipação de riscos. Trata-se de uma ferramenta inovadora, com o potencial de salvar vidas e evitar perdas materiais", afirmou a ministra da Ciências, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.
O Cemaden previa entregar esse novo sistema apenas em 2027, mas conseguiu antecipar finalizar o projeto dois anos antes. "O sistema GeoRisk foi um modelo de esforço conjunto, de baixíssimo custo, que nos coloca em outro patamar. A previsão de risco de deslizamentos está no novo ciclo, nos esforços de salvar vidas", disse o coordenador-geral de Operação e Modelagem do Cemaden, Marcelo Seluchi, no evento de lançamento do GeoRisk.
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