Bruna Nazareth
O uso de redes sociais antes de dormir afeta significativamente a qualidade do sono, especialmente entre crianças e adolescentes. Isso ocorre devido à exposição à luz azul das telas, que inibe a produção de melatonina, o hormônio responsável pelo sono. Além disso, a hiperestimulação causada pelo conteúdo dinâmico das redes sociais pode dificultar o relaxamento, resultando em insônia ou sono fragmentado.
“Quando os adolescentes passam muito tempo rolando o feed antes de dormir, o cérebro entra em um estado de hiperatividade, dificultando a transição para o sono profundo. Isso ocorre porque as redes sociais ativam o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer e à motivação. Esse mecanismo reforça o comportamento viciante, fazendo com que o adolescente continue consumindo conteúdo por mais tempo do que o planejado. Além disso, a exposição constante a estímulos rápidos e variados pode comprometer o controle da impulsividade e a capacidade de focar em atividades menos imediatas, como os estudos e interações sociais presenciais”, ressalta o psicanalista e professor sênior da Associação Brasileira de Psicanálise Clínica (ABPC), Artur Costa.
Uma pesquisa da TIC Kids Online Brasil 2024 revelou que 93% da população de 9 a 17 anos é usuária da internet no país, totalizando cerca de 25 milhões de pessoas. Aproximadamente 23% dos usuários de internet de 9 a 17 anos acessaram a internet pela primeira vez até os 6 anos de idade, uma taxa que, em 2015, era de apenas 11%.
Dentro desse contexto, com o objetivo de limitar o tempo de navegação do público infanto-juvenil durante a noite, o TikTok lançou a ferramenta “Hora do Sono”. Com esse recurso, é possível definir os horários em que os menores podem acessar a rede social, reduzindo o impacto do uso excessivo no sono, na rotina e na saúde mental desse público. A ferramenta exibe um aviso na tela, acompanhado de música suave, caso um usuário com menos de 16 anos esteja no TikTok após as 22h.
Além da “Hora do Sono”, a plataforma lançou outras ferramentas, como a pausa programada, que permite que os responsáveis definam os horários em que os adolescentes podem ou não usar a rede social. Os menores de idade podem solicitar um tempo extra de uso, mas apenas o responsável pode aceitar ou recusar a alteração. Outra novidade é a sincronização familiar, que aprimora o controle parental, permitindo que pais e responsáveis verifiquem quem o adolescente segue, quem o segue de volta e quais perfis foram bloqueados.
Cabe ressaltar que o uso excessivo das redes sociais não afeta somente o sono, mas também a rotina diária do usuário. Entre as consequências estão as dificuldades de concentração, fadiga, irritabilidade e queda no desempenho escolar. A longo prazo, o uso descontrolado pode contribuir para ansiedade, depressão e baixa autoestima, especialmente quando há comparação com padrões irreais exibidos na internet.
Estratégias para os pais
Esse recurso pode, de fato, ajudar os jovens a reduzir o tempo de tela. No entanto, em algumas situações, ele pode ser facilmente contornado, tornando essencial o envolvimento dos pais e responsáveis.
Diante disso, o psicanalista compartilha algumas estratégias complementares que podem ser adotadas para incentivar o uso mais equilibrado das redes sociais, tais como:
Estabelecer rotinas saudáveis: Definir horários fixos para o uso de telas e estimular atividades offline, como esportes, leitura e momentos em família.
Criar um ambiente propício ao sono: Evitar o uso de telas pelo menos uma hora antes de dormir e substituir esse hábito por atividades relaxantes, como ouvir música calma ou ler um livro.
Educação digital e diálogo aberto: Ensinar os adolescentes sobre os impactos do uso excessivo das redes sociais e incentivá-los a desenvolver um senso crítico sobre o conteúdo consumido.
Dar o exemplo: Os responsáveis devem monitorar seu próprio uso das redes sociais, pois os filhos tendem a reproduzir comportamentos observados em casa.
“Para evitar conflitos, o diálogo deve ser empático e baseado no respeito. Em vez de impor regras rígidas, os pais podem envolver os adolescentes no processo de definição dos limites, explicando os motivos e ouvindo suas perspectivas. Dessa forma, o jovem se sente mais responsável pelo próprio bem-estar e tende a aderir às mudanças de forma mais natural”, conclui o especialista.
Com informações do G1
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