Pe. Anderson Alves, artigo de 18/04/24
Dissemos que Santo Tomás procurou sintetizar agostinianismo e aristotelismo, corrigindo os erros dos representantes desses grupos que pareciam defender teses extremas.
De fato, o agostinianismo puro se opunha ao aristotelismo recém-descoberto, principalmente a partir de teses fundamentais:
a) dualismo: implicava uma forte distinção entre o mundo material e o mundo das ideias, sendo que as últimas seriam as mais reais e imutáveis;
b) doutrina da iluminação divina: acreditavam que o conhecimento humano ocorre devido a uma intervenção divina na mente humana, em oposição à observação empírica e à racionalidade naturalista aristotélica;
c) desconfiança na realidade sensível: entendia-se o mundo sensível como algo menos confiável para a obtenção de verdade, em contraste com a abordagem mais empírica de Aristóteles;
d) enfatizava a introspecção, a experiência interior como caminho para o conhecimento de Deus, em vez da observação externa e causal.
As principais ideias do Averroísmo, por sua vez, eram:
a) a existência de uma única verdade, com dois caminhos para alcançá-la: através da filosofia e da religião (ideia original de Averróis); alguns averroistas posteriores afirmaram haver duas categorias de verdade que podem se contradizer e subsistir: as de razão e as de fé;
b) A crença na eternidade do mundo e a consequente negação do seu início temporal, conforme diz a Revelação bíblica; a afirmação da eternidade do mundo e do seu início temporal seria possível à partir da teoria da dupla verdade;
c) a divisão da alma em duas partes: uma individual e outra divina;
d) a afirmação da não eternidade da alma individual;
e) a ideia de que todos os seres humanos compartilham um único intelecto agente separado (monopsiquismo);
f) a afirmação da possibilidade de felicidade humana na vida presente; pensava-se que o caminho para a felicidade consistia numa ascensão intelectual à contemplação de seres cada vez mais elevados, culminando na contemplação da causa primeira e na união temporária do intelecto possível com a fonte da compreensão intelectual, o intelecto agente; o intelecto agente seria uma substância separada e distinta de Deus.
Tomás enfrentou o problema e realizou algo inesperado: sintetizou duas correntes culturais paralelas, dando origem a uma nova teologia, agostiniana e aristotélica, segundo os parâmetros científicos da época. A antropologia agostiniana-platônica passaria a ser enriquecida agora pela antropologia, psicologia e ética aristotélicas, e os excessos do agostinianismo puro e do averroismo deveriam ser corrigidos.
E Tomás continuou a obra realizada por Santo Agostinho: buscou conhecer a Deus através do homem, e o homem através de Deus. Ele não se contentou em elaborar e aprimorar as vias cosmológicas para afirmar a existência de Deus (esse deum, dizia); ele também aprimorou a via psicológica, descoberta por Agostinho.
Podemos comprovar isso em diversas obras de Tomás, especialmente as que agora especialmente estudamos e comentamos, o De Veritate, especialmente a questão 10, que trata da mente do homem como imagem de Deus. Desses temas continuaremos a falar nos próximos artigos.
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