“As doenças que mais chamam a atenção quando muda a temperatura e esfria, no caso, são esses vírus respiratórios”, explica médico infectologista
Mariana Machado Estagiária
Após semanas de sol quente na cidade, os dias chuvosos chegaram e a temperatura caiu. Com isso, é muito importante se atentar aos perigos que uma mudança climática pode trazer à saúde.
Por isso, o médico, pediatra e professor de Doenças Infecciosas da UFRJ, Edimilson Migowski, explica que “quando o tempo está mais frio, a umidade do tempo é maior, tem menos sol, e alguns agentes infecciosos que as pessoas eliminam, como o vírus influenza, coronavírus e outros vírus, ficam mais tempo viáveis no meio ambiente, então acaba sendo um reservatório para que algumas pessoas se contaminem.”
Ele ressalta que o uso de repelentes é muito importante, “principalmente em regiões onde esteja circulando muito o mosquito da dengue, que é o Aedes aegypti, e também o maruim, que agora é o transmissor da febre oropouche. Então, realmente evitar o contato e a picada do inseto é bom. E se você não sabia, eu ressalto que o animal que mais causa mortes em seres humanos no mundo não é a aranha, não é a cobra, não é o tubarão, é o mosquito, aliás, a fêmea do mosquito.”
Ele explica que o risco de exposição aumenta por conta da maior viabilidade de agentes infecciosos no meio ambiente, devido ao tempo mais frio. “Se você espirrou na mão, colocou a mão em cima de uma mesa ou de um corrimão, ou apertou o botão de um elevador, pode ter contaminado esses utensílios. A pessoa que vier depois, porque o vírus fica viável mais tempo no meio ambiente, essa pessoa, não tendo feito uma boa higiene das mãos, acaba tocando no botão do elevador e leva a mão à boca, aos olhos, ao nariz, introduzindo em si próprio esse vírus que pegou no meio ambiente”, explica.
Como formas de prevenção, o médico ressalta que “a prevenção de qualquer enfermidade, infecciosa ou não, passa pela observação criteriosa do que a gente chama de elos da medicina do estilo de vida. Esses elos, Harvard, em 2004, falou que seriam seis elos e eu ousei criticar Harvard e botei o sétimo elo. Então, os pilares ou elos originais são: dormir bem, comer bem, atividade física, gerenciar estresse, bons relacionamentos, não abusar de drogas, seja lícita ou não, por exemplo, bebida alcoólica. São os seis pilares originais de Harvard e eu propus o sétimo pilar, que é o cuidado com a saúde oral, que é um pontapé muito importante para você manter a sua saúde. Então, mantendo esses pilares de boa hidratação, você vai ter uma saúde melhor.”
“Tem um ditado popular que diz que ‘casa que entra sol não entra médico’, então, quando tem uma chuva, e você fecha a sua casa, o sol não entra, há acúmulo de fungos, de mofo, que são condições que aumentam o risco de alergia respiratória, e essa alergia aumenta o risco de doenças infecciosas que podem ocorrer depois de uma reação de marinite, por exemplo”, explica.
“Tem uma música do Tom Jobim que diz assim, 'Águas de março fechando o verão'. Pois é, o risco é de enchentes, e com isso, algumas doenças infecciosas vêm à mente, como a leptospirose, que é o que chama mais atenção, e a hepatite A, também, que é uma virose adquirida por ingestão de água ou alimentos contaminados, como água de esgoto ou fezes. E se a pessoa ingerir essa água contaminada, tem ainda as infecções parasitárias intestinais. Então, esse é o cuidado que tem que ter. Não só evitando o contato dessa água contaminada com a sua pele, como também evitando ingerir alimentos ou colocar na boca utensílios que foram contaminados com água de esgoto, sem uma higiene perfeita, para que você possa ter mais segurança. Também evitar contato com essa água de enchente”, reforça o especialista sobre os cuidados necessários para prevenção.
“As doenças que mais chamam a atenção quando muda a temperatura e esfria, no caso, são esses vírus respiratórios, quer pelo confinamento das pessoas em ambientes fechados, aquecidos, climatizados, quer porque o vírus se mantém viável mais tempo no meio ambiente, favorecendo, então, a maior transmissibilidade e o maior contágio”, conclui o médico, reforçando a importância do cuidado com vírus e mosquitos, por conta da mudança climática.
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