Bruna Nazareth
Com o avanço da idade, muitas pessoas acreditam que terão mais tempo para descansar. No entanto, o padrão de sono passa por mudanças naturais, e diversas alterações podem resultar em noites mal dormidas e em um cansaço persistente ao longo do dia, afetando diretamente a qualidade de vida dos idosos.
A insônia, caracterizada pela dificuldade em adormecer ou manter o sono, é um problema que pode ocorrer em qualquer fase da vida, mas torna-se especialmente comum após os 65 anos. Fatores como envelhecimento, questões psicossociais, doenças clínicas e psiquiátricas, além do uso de medicamentos, podem contribuir para o seu desenvolvimento.
“O ritmo biológico do corpo, responsável por regular os períodos de sono e vigília, tende a se modificar com o envelhecimento. Esse ajuste faz com que muitos idosos adormeçam mais cedo à noite e acordem mais cedo pela manhã, fenômeno conhecido como avançamento do ritmo circadiano. Em alguns casos, isso pode interferir na quantidade de sono, mesmo quando há necessidade de descanso. Os cochilos diurnos podem fazer parte do problema, ao reduzirem a urgência de dormir no horário convencional ou serem consequência de uma noite mal dormida. Mais da metade dos insones relatou cochilos diurnos, o que pode ter influência negativa na vida social desses pacientes e aumentar o risco de acidentes, como quedas”, ressalta o médico neurologista Carlos Regoto.
Vale destacar que, com o avanço da idade, a produção de melatonina - hormônio responsável por regular o sono - tende a diminuir. Essa redução também pode dificultar o adormecer e comprometer a continuidade e a qualidade do descanso.
Quantidade ideal de sono
De acordo com o Dr. Regoto, a quantidade ideal de sono varia conforme a idade e as condições de saúde de cada indivíduo. Para idosos acima de 65 anos, a National Sleep Foundation recomenda de 7 a 8 horas de descanso por noite.
“Embora a quantidade de sono recomendada para homens e mulheres idosos seja semelhante, há algumas diferenças que podem influenciar a percepção e as necessidades de sono entre os sexos. As mulheres, especialmente após a menopausa, podem experimentar alterações no padrão de sono devido a mudanças hormonais. Sintomas como ondas de calor, suores noturnos e alterações no equilíbrio hormonal podem afetar a qualidade do sono, tornando-o mais fragmentado. Já homens idosos têm maior propensão a desenvolver apneia obstrutiva do sono, um distúrbio no qual a respiração é interrompida várias vezes durante a noite. Isso pode resultar em sono fragmentado e, consequentemente, em uma necessidade maior de descanso para se recuperar do cansaço causado pela apneia”
Insônia pode ser associada a problemas de saúde
A insônia na terceira idade não é apenas uma consequência natural do envelhecimento. Na verdade, pode estar ligada a diversas condições de saúde, tanto físicas quanto mentais, que comprometem a qualidade do sono, muitas das quais podem ser tratadas ou gerenciadas com o tratamento adequado. De acordo com o neurologista, algumas condições físicas comuns na terceira idade que podem afetar diretamente o descanso, são:
- Doenças respiratórias: Distúrbios como apneia do sono, asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e insuficiência cardíaca.
- Condições musculoesqueléticas: Dor crônica associada a condições como artrite pode dificultar a busca por uma posição confortável para dormir, levando a despertares frequentes e noites mal dormidas.
- Doenças do sistema nervoso central: Transtornos como Alzheimer, Parkinson e doenças gastrointestinais, como refluxo gastroesofágico e doenças da tireoide.
- Diabetes: Flutuações nos níveis de glicose no sangue e complicações como neuropatia diabética (danos aos nervos) podem causar desconforto durante a noite e atrapalhar o sono.
Condições mentais e cognitivas também têm um impacto significativo na qualidade do sono dos idosos, tais como:
- Depressão: Um dos principais fatores associados à insônia na terceira idade. Ela não só compromete a qualidade do sono, mas também reduz o tempo total de descanso.
- Ansiedade: Sentimentos de preocupação excessiva e estresse podem tornar difícil relaxar e dormir.
- Demência e Doença de Alzheimer: Distúrbios cognitivos, como a demência e o Alzheimer, costumam estar acompanhados por padrões de sono irregulares.
- Síndrome das Pernas Inquietas (SPI): Condição neurológica que provoca uma necessidade incontrolável de mover as pernas, especialmente à noite, dificultando o início do sono e causando despertares frequentes.
Hábitos saudáveis melhoram o sono
Adotar hábitos saudáveis pode melhorar significativamente a qualidade do sono, tornando-o mais profundo e reparador. Para a terceira idade, pequenas mudanças na rotina ajudam não apenas a combater a insônia, mas também a promover o bem-estar e a saúde mental. Segundo o especialista, algumas práticas recomendadas são:
- Criar um ambiente confortável para dormir;
- Estabelecer uma rotina de sono regular, com horário consistente para dormir e acordar todos os dias, o que ajuda a regular o ritmo circadiano;
- Praticar exercícios físicos ajuda a reduzir o estresse, melhora o humor e favorece o relaxamento do corpo;
- Evitar estímulos antes de dormir, como uso de celular, cafeína, álcool e refeições pesadas;
- Praticar técnicas de relaxamento, como meditação ou mindfulness.
Em relação a medicamentos que facilitam o sono, é preciso ter cautela, pois o uso frequente pode causar dependência, afetar a cognição, aumentar o risco de quedas e gerar interações com outros remédios.
“Embora os medicamentos possam ser úteis em alguns casos específicos e sob supervisão médica rigorosa, existem várias alternativas terapêuticas que são mais saudáveis e eficazes para combater a insônia em idosos, sem os riscos associados ao uso constante de remédios. A terapia cognitivo-comportamental, a higiene do sono, o exercício físico regular e técnicas de relaxamento, que podem ser eficazes no tratamento da insônia”, frisa o Dr.Regoto.
Por isso, antes de iniciar qualquer tratamento, é essencial buscar orientação profissional para garantir uma abordagem segura e personalizada na melhoria da qualidade do sono.
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