Psicopedagoga esclarece como esses impactos podem afetar a saúde mental de crianças e adolescentes
Bruna Nazareth - especial para o Diário
Recentemente, foi sancionada a lei que garante atendimento médico e psicossocial - que considera questões psíquicas e sociais - para crianças e adolescentes que tiverem pais ou responsáveis vitimados por grave violência ou presos em regime fechado. O texto inclui a medida no Estatuto da Criança e do Adolescente.
O objetivo da lei é assegurar o direito ao atendimento para esse público, que embora não tenham sido vítimas diretas de maus tratos, enfrentam as consequências de desarranjos familiares.
Nesse contexto, a psicopedagoga Viviane Leal, esclarece que esse impacto pode afetar negativamente o desenvolvimento cognitivo e a saúde mental infantil.
“A exposição à violência pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo, resultando em dificuldades de aprendizado, problemas de memória e desenvolvimento do raciocínio. Em termos emocionais, pode levar à ansiedade, depressão, e comportamentos desafiadores, afetando a capacidade da criança de socializar e interagir com os outros”, frisa.
Ela ressalta a importância de receber o apoio psicológico e a necessidade de intervenções adequadas para mitigar esses efeitos. Ambientes seguros, relacionamentos saudáveis e o suporte de profissionais são cruciais para promover a recuperação e o desenvolvimento saudável de crianças e jovens.
“A compreensão e a intervenção precoce são fundamentais para ajudar crianças a superar os traumas e a desenvolver resiliência frente à adversidade”
Sinais de alerta
A psicopedagoga aponta alguns sinais que indicam que essa faixa etária está enfrentando as consequências psicológicas da violência ou da ausência dos pais devido a prisão, tais como:
- Mudanças de comportamento: Agressividade ou apatia.
- Regressão: Retorno a comportamentos infantis, como molhar a cama.
- Isolamento social: Dificuldade em fazer amigos ou em se relacionar.
- Problemas de sono: Pesadelos ou insônia.
- Queixas físicas: Dor de barriga ou dor de cabeça sem explicação médica.
- Dificuldades emocionais: Tristeza, medo excessivo ou raiva.
Sendo assim, o acolhimento psicossocial torna-se essencial para crianças e adolescentes, ajudando a minimizar os danos emocionais diante dessas situações. De acordo com a especialista, esse atendimento oferece um ambiente seguro, onde o público infanto-juvenil pode expressar suas emoções e traumas. Esse suporte ajuda a:
- Processar experiências traumáticas.
- Desenvolver habilidades de enfrentamento e resiliência.
- Melhorar a autoestima e a autoimagem.
- Promover a socialização e a interação positiva com os outros.
“A importância deste apoio reside na prevenção de problemas de saúde mental a longo prazo e no fomento a um desenvolvimento emocional mais saudável”, afirma.
Importância da participação da escola e da comunidade
A especialista enfatiza que o envolvimento da escola e da comunidade no apoio a crianças e jovens que vivenciaram traumas relacionados à violência ou a prisão dos pais é fundamental para oferecer recursos e suporte. Sua participação é crucial pois:
- Cria uma rede de apoio para a criança, ajudando-a a se sentir menos isolada.
- Permite a identificação precoce de problemas emocionais ou de aprendizagem.
- Facilita a implementação de programas de intervenção que promovem bem-estar
emocional e desenvolvimento social.
- Encoraja um ambiente de compreensão e empatia, que pode melhorar a experiência da criança no ambiente escolar e comunitário.
Além disso, os genitores, cuidadores e profissionais da educação podem ajudar a construir um ambiente seguro e acolhedor para esse público durante o processo de recuperação. Estes podem:
- Promover uma comunicação aberta, incentivando a criança a expressar seus sentimentos.
- Estabelecer rotinas consistentes que proporcionem estabilidade e segurança.
- Oferecer apoio emocional, mostrando compreensão e paciência.
- Envolvê-las em atividades sociais e recreativas que promovam a interação com outras crianças.
- Buscar formação contínua sobre trauma e suas consequências, para melhor lidar com os desafios que essas crianças enfrentam.
- Conectar-se com recursos externos, como terapia e grupos de apoio, conforme necessário.
“Através dessas ações, é possível criar um ambiente propício à recuperação e ao desenvolvimento saudável dessas crianças”, conclui Leal.
A Lei 14.987/24 foi sancionada pelo presidente da República em exercício, Geraldo Ackmin, sem vetos e entra em vigor em 90 dias. A norma tem origem em projeto ( PL 1151/23 ) da deputada Laura Carneiro (PSD-RJ), aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.
*Com informações da Agência Câmara de Notícias
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