Emanuelle Loli estagiária
O Canabidiol é um dos mais de 500 compostos químicos da planta Canabis Sativa. Não proporcionando efeitos psicodélicos, ele tem sido amplamente estudado para tratamentos de diversas doenças como depressão, ansiedade, dores crônicas, Parkinson, Alzheimer, dentre outras.
A Anvisa liberou a importação de medicamentos à base de Canabidiol em 2015, e ano a ano vê-se um crescimento do número de importações. De lá pra cá, mais de 430mil medicamentos entraram no Brasil legalmente.
De acordo com dados da Anvisa, foram importados de janeiro a outubro deste ano, 139.673 de medicamentos à base de cannabis, cerca de 21% a mais do que no mesmo período que o ano passado.
Atendendo em consultório na cidade de Petrópolis e no SUS, a Doutora Inoã Viana, médica formada pela UNIRIO, especialista em Medicina de Família e Comunidade pela UERJ e certificada pela WeCann Academy (centro de formação em Medicina Endocanabinoide), fala sobre sua experiência com o uso do medicamento em pacientes.
Para ela, o interesse a respeito do assunto veio após o acompanhamento de uma paciente com quadro de demência moderada, que familiares relataram melhora no quadro de agressividade após o uso do fitocanabinoide. “Neste momento me dei conta que existia uma medicina diferente daquela que eu praticava no dia a dia, mais moderna, em franco crescimento e com diversas oportunidades de tratamento”, afirmou.
Ela explica que melhoras expressivas são notadas em pacientes de saúde mental e dor crônica (fibromialgia, por exemplo). Há também uma redução expressiva de sintomas comportamentais, como agressividade e agitação em crianças portadores de TEA e a melhora no neurodesenvolvimento. “Pacientes que anteriormente tinham atraso na fala ou mesmo comportamento mais agressivo apresentam melhora expressiva”, explicou.
Contudo, por se tratar de um medicamento advindo de uma planta que é muito comum ser usada para fins de recreação de forma ilícita, pacientes ainda tem preconceito com seu uso, principalmente idosos.
Doutora Inoã enfatiza a necessidade de desmistificar o uso de medicamentos derivados da Canabis Medicinal. Ela explica que hoje em dia, há diversos estudos clínicos que garantem a eficácia e a segurança do tratamento. “Em muitos quadros onde o tratamento tradicional não trouxe alívio dos sintomas e das queixas, o uso de fitocanabinoides pode ser a possibilidade de uma maior qualidade de vida tanto para o paciente como para os seus familiares”, ressaltou.
Uma questão super recorrente a respeito do canabidiol é sobre o receio que as pessoas tem com os efeitos psicodélicos. “Precisamos inicialmente diferenciar do que é um medicamento com efeito psicoativo e um medicamento com efeito psicomimetico (podendo apresentar efeitos psicodélicos)”, falou Inoã. De acordo com a doutora, o canabidiol é um composto químico com efeito psicoativo, ou seja, tem ação no nosso cérebro sem que haja alterações de consciência ou percepção. Sendo assim, o paciente não precisa se preocupar com efeitos psicodélicos do canabidiol.
Hoje, conseguir a medicação ficou um pouco mais fácil. O paciente pode conseguir através de 3 caminhos:
- Farmácias comuns: O paciente necessita apenas da receita azul B e um termo de consentimento livre e esclarecido.
- Associações de pacientes: É necessária uma receita branca comum, junto a um laudo médico especificando a patologia e a necessidade do tratamento com fitocanabinoides.
- Importação de medicamentos: É necessário a liberação da ANVISA podendo ser realizada pelo próprio paciente, de maneira on-line através do portal Gov.br . O processo é simples e rápido, onde o paciente preenche seus dados pessoais e dados sobre o produto que está solicitando a importação.
Ao contrário dos medicamentos tradicionais, onde a dose terapêutica é padrão para todos os pacientes, no caso dos fitocanabinoides a dose ideal é individualizada, ou seja, o custo do tratamento pode variar de pessoa para pessoa.
Infelizmente ainda não é possível conseguir o canabidiol pelo SUS na cidade de Petrópolis. Pacientes conseguem obter a liberação do medicamento através do processo de judicialização, quando comprovado que já foram realizados tratamentos anteriores com outros tipos de medicamentos, e que o uso de fitocanabinoides é a opção ideal para este paciente. “Essa falta de acesso facilitado não deve ser um empecilho para aqueles que precisam do uso, uma vez que temos opções nacionais mais economicamente viáveis, sem perda de qualidade do tratamento”, explicou.
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