Ele viveu quase 30 anos na cidade e recebeu Título de Cidadão Petropolitano em 2014; ele estava internado no Hospital Santa Teresa
Rômulo Barroso - especial para o Diário
Um ícone, dono de uma voz única, uma referência de jornalismo, e também um petropolitano de alma e coração. O Brasil se despediu nessa quinta-feira (03/10) do eterno Cid Moreira, que morreu aos 97 anos, depois de quase um mês internado no Hospital Santa Teresa. Com enorme ligação com Petrópolis, onde morou por quase 30 anos e ganhou Título de Cidadão Petropolitano, em 2014, ele teve velório no Parque Municipal Prefeito Paulo Rattes, em Itaipava. O município decretou luto oficial de três dias.
Cid Moreira ficou internado por 29 dias para tratar uma peritonite, uma inflamação no peritônio, que é uma membrana que envolve a cavidade abdominal e reveste os órgãos do abdômen. A peritonite pode ser causada por infecção, ruptura ou grave inflamação de um dos órgãos do abdômen. Ele tinha dado entrada no hospital no dia quatro de setembro e fazia diálise peritonial para tratar doença renal crônica, que ficou aguda.
O médico que o acompanhou, o cardiologista Nélio Gomes, disse à TV Globo que ele se manteve consciente durante todo o tratamento. "Ele se manteve lúcido, orientado, bem-disposto no sentido emocional. Sempre disposto a ajudar, sempre querendo melhorar, com um grau de lucidez excelente, trazendo para a gente força para trabalhar e ajudar ele", afirmou. O óbito ocorreu às 08h, por insuficiência renal crônica agudizada, distúrbio eletrolítico e falência múltipla de órgãos.
À tarde, o corpo dele foi levado para o velório no Parque Municipal Prefeito Paulo Rattes, em Itaipava, que foi disponibilizado pela Prefeitura de Petrópolis a pedido da família. Outra cerimônia de despedida acontece nesta sexta-feira, no Palácio Guanabara, sede do Governo do Estado. A despedida será restrita a familiares e amigos das 8h30 às 10h. Em seguida, entre 10h e 13h, a cerimônia será aberta ao público e à imprensa. O enterro será ainda nesta sexta (04), em Taubaté (SP) - era desejo dele ser sepultado ao lado da filha, Nelcy, que morreu em 2020, e do neto, Alexandre, falecido em 1996.
Trajetória
Alcides Alves Moreira nasceu em 29 de setembro de 1927 em Taubaté (SP). Ele começou a carreira na Rádio Difusora de Taubaté, em 1944, e rapidamente foi para São Paulo, onde trabalhou na Rádio Bandeirantes por cinco anos. Em 1951, já estava no Rio, atuando pela Rádio Mayrink Veiga. Também era o início das primeiras transmissões da televisão, e Cid Moreira apresentava comerciais em programas ao vivo da TV Rio. Também na emissora, ele estreou como locutor de noticiários, em 1963, com o "Jornal de Vanguarda".
A chegada à TV Globo foi em 1969, mesmo ano em que foi escalado para a equipe do Jornal Nacional, que estava sendo lançado. Ele dividia a bancada do primeiro telejornal transmitido em rede para todo Brasil com Hilton Gomes. Dois anos depois, começou a parceria com Sérgio Chapelin, dupla que se manteve no programa por 26 anos. O "boa noite" que encerrava o jornal virou uma das grandes marcas dele.
Paralelamente, Cid Moreira também participou do Fantástico, desde a estreia do programa, em 1973. E foi justamente na atração dominical que ele imortalizou, a partir de 1999, o quadro "Mister M", em que fazia locução do ilusionista que contava como eram realizados os truques de mágica. Outro momento icônico dentro do Fantástico foi a vinheta gravada por ele com o nome da bola usada na Copa do Mundo de 2010: “Jabulaaani!”.
gravar salmos bíblicos. O sucesso foi tão grande, que anos mais tarde ele gravou a Bíblia na íntegra.
Amor por Petrópolis
Cid Moreira nunca escondeu que amava Petrópolis - aliás, muito pelo contrário, fazia sempre questão de reverenciar a cidade que ele conheceu na década de 1950, quando se mudou para o estado do Rio. Em 2014, ele recebeu o Título de Cidadão Petropolitano das mãos do então presidente da Câmara Municipal, Paulo Igor, em uma cerimônia realizada no Hotel Quitandinha.
"Quando vim para o Rio no século passado, na década de 1950, mais precisamente em 1951, eu tinha alguns sonhos. Um deles era conhecer Petrópolis, e isso eu consegui quando comprei meu primeiro carro. Vim, passei aqui pelo Quitandinha, admirei, fotografei. Depois fui até a Rua do Imperador e voltei para o Rio de Janeiro. E fiquei apaixonado pela cidade", contou Cid Moreira, numa entrevista para a InterTV, afiliada da Globo, em que também comemorou o título de cidadania.
"Estou muito honrado, contente, feliz, porque realizei um velho sonho meu. Eu gosto muito de serra, sempre senti essa atração por serra. Morei muito tempo no Rio, só mar, mar, mar, mas o meu sonho sempre foi ser serrano e agora estou realizando meu sonho", continuou.
Ele morou em vários lugares da cidade e se mudou em definitivo para Petrópolis em 1996. Desde 2011, vivia com a mulher, Fátima Sampaio Moreira, em uma casa em um sítio dentro de um condomínio em Itaipava. Uma mansão de seis mil metros quadrados com varanda, cinco quartos, piscina, espaço gourmet e uma área anexa para hóspedes. Desde 2020, ele tentava vender o imóvel por quase R$ 3 milhões, mas não encontrava um comprador - ele reclamava que o barulho de vizinhos atrapalhava as gravações que fazia. Por isso, tinha se mudado para Teresópolis há um ano, para uma casa onde construiu um estúdio para manter a produção de áudio e conteúdo para redes sociais.
Bastante ativo na internet, Cid Moreira costumava mostrar nas redes sociais a vida em Petrópolis, os cuidados com a casa e o jardim, idas a restaurantes e outros episódios da rotina. Como quando sofreu um acidente doméstico, em 2020. Ele teve uma queda de escada, que provocou um ferimento leve no braço. Na época, ele procurou atendimento na UPA de Itaipava. "Acabei de dar um susto na Fátima! Voltamos ontem para casa da Flórida e hoje dei uma escorregada e me apoiei na escada e adivinhem: ralei meu braço na lateral da escada! Fomos prontamente atendidos na UPA de Itaipava, com muito carinho! Queridos, como vamos ficando frágeis!", publicou o jornalista em suas redes sociais. A unidade havia sido recém-inaugurada e a presença dele, claro, chamou a atenção de todos.
A última aparição pública foi em um vídeo gravado um dia antes da internação, em 3 de setembro, para o programa "Sem Censura", da TV Brasil, onde fez uma declaração para Boni, que foi um dos principais diretores da TV Globo. "Boni, obrigado por me enviar o livro. Fiquei honrado com o convite para o lançamento, mas chegou o momento que a nossa casa é o melhor e o mais confortável abrigo para a gente enfrentar as limitações da idade", disse Cid Moreira.
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