Memória: matéria publicada na edição de 40 anos do Diário
Só 17 anos depois de ser criado, quando o controle acionário foi adquirido pelos Carneiros Dias é que o Diário de Petrópolis, em 1971, passa a ter caráter de um empreendimento profissional. Antônio Carlos Noronha Portella teve a iniciativa de fundar o Diário de Petrópolis, em 1954, e para isso reuniu alguns amigos estreitamente ligados à política, criando uma empresa dentro do sistema de sociedade anônima. Portella nutrira um velho desejo de ter um jornal, insuflado pelo jornalista gaúcho Demóstenes Gonzalez, que vivia em Petrópolis. Isto se tornou possível num encontro casual, com o jornalista campista João Rodrigues de Oliveira, no Palácio Tiradentes, na época, a Câmara dos Deputados Federal, no Rio de Janeiro. O jornalista pediu que Portella o levasse até a Gráfica Pimenta Mello, que estava sendo desativada, vendendo suas máquinas. Noronha Portella atendeu ao amigo e, na gráfica o jornalista se interessou pela compra de um linotipo. Portella se animou e comprou outro e mais uma impressora.
A Gráfica Pimenta Mello editava as Revistas Tico-Tico, Malho e Careta. Portella e João Rodrigues, voltaram para a Câmara dos Deputados e Noronha Portella revelou a nova, de que Petrópolis teria mais um jornal, aos amigos, o deputado Brígido Tinoco, Ivan Serzedelo e Flávio Castrioto, almoçaram juntos e durante o papo ficou definido o nome do jornal, Diário de Petrópolis.
Ivan Serzedelo logo se interessou pelo assunto e ofereceu um galpão que ele tinha nos fundos da Oficina Crédito Móvel, Rua Paulo Barbosa, onde seriam colocadas as máquinas. Mas ainda faltavam alguns equipamentos e Noronha Portella, leigo na atividade, pediu ajuda de João Carneiro, dono do jornal de Cascatinha. Os dois foram ao Rio de Janeiro e compraram o que faltava para colocar o jornal em circulação. A sociedade admitiu sócios, mas Portella ficou como presidente, Ivan Serzedelo vice, Demóstenes como editor, Rodolfo Sixel na administração e Hélio Kolling em serviços gerais. Na oficina, dois linotipistas, o impressor Joaquim e o paginador Leonel Oliveira.
Mais tarde, o controle acionário do Diário de Petrópolis passou a José Crescêncio da Costa, ligado aos políticos Cordolino Ambrósio, Jamil Sabrá, Adolfo de Oliveira, Virgílio de Sá Pereira e Flávio Castrioto. As instalações eram muito precárias e quando Flávio Castrioto se dispunha a ir ao jornal dizia: " Vou à pocilga".
Em meados de 62, o Diário de Petrópolis, passou às mãos de João Laureano Sorzonas que transferiu a sede do jornal para a Rua do Imperador - Na Época Avenida XV de Novembro. A redação ficou no sobrado do prédio onde está o restaurante Falconi e a oficina em outro prédio, onde está a Papelaria Semadri. Só então foi comprado o primeiro equipamento de clicheria da Revista Vida Doméstica, que encerrara as atividades. O Diário de Petrópolis foi pioneiro a ter ilustrações com fotografias e desenhos. Sete anos depois, em 1969, o Diário de Petrópolis passou às mãos de Arinos Afonso Botelho, quando ganhou novo endereço, onde se encontra até hoje. Em agosto de 1972, José Carneiro Dias e Paulo Antônio se tornaram os principais acionistas do Diário de Petrópolis. O país enfrentava grandes dificuldades com a ditadura militar implantada em 64 desde a derrubada do presidente João Goulart.
Os Carneiros Dias não se intimidaram e a orientação política dos donos do Diário de Petrópolis era de que o jornal deveria ter como único compromisso a informação dos fatos. Foi uma guinada de 180 graus, na defesa do estado democrático, contra o militarismo instalado no país. Para promover esta mudança, Paulo Antônio Carneiro Dias trouxe do Rio de Janeiro uma equipe de excelentes jornalistas com tendência de esquerda, dentre eles Douglas Prado, Mário Valle, Diógenes Dagoberto da Costa Filho e outros.
O Diário de Petrópolis passou a ser respeitado em todo o país por suas posições em defesa da democracia. Enquanto a classe intelectual e lideranças trabalhistas aplaudiam, os militares passaram a olhar o jornal como inimigo do regime ditatorial. A diretoria do Diário de Petrópolis e o pessoal da redação era constantemente chamada a dar depoimentos nos inquéritos policiais militares abertos no 32o Batalhão de Infantaria.
Esta luta só terminou com a realização de eleições diretas e a nova Constituição. Atualmente o Diário de Petrópolis é considerado um jornal moderno.
Veja também: