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O efeito do uso das redes sociais e da tecnologia na qualidade do sono

Foto: Divulgação
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Bruna Nazareth - especial para o Diário

O momento de dormir deveria ser uma ocasião tranquila para o descanso do corpo e mente. No entanto, para relaxar e aliviar o estresse do dia, muitas pessoas acabam passando alguns minutos nas redes sociais antes de dormir. O que começa com um breve momento de entretenimento, muitas das vezes se estende por uma ou duas horas diante do celular. Como consequência, o tempo de descanso é reduzido e o uso de dispositivos eletrônicos acabam prejudicando a qualidade do sono.

Segundo o Dr. Saulo Teixeira, neurocirurgião e docente do Instituto de Educação Médica (IDOMED), durante o período noturno, o nosso corpo passa por diversas mudanças que permitem que aconteça uma reparação tecidual enquanto dormimos. Os batimentos cardíacos diminuem, a pressão arterial fica baixa e a temperatura corporal sofre uma leve redução, e tudo isso acaba sendo comandado por determinadas áreas do cérebro.

“O cérebro utiliza esse período de repouso noturno para se recuperar de algumas agressões que naturalmente acontecem ao longo do dia. Para permitir que isso aconteça existe um eixo complexo que diz respeito a alguns sentidos, particularmente a visão e inclusive o eixo hormonal, que está sediado em uma glândula chamada de pineal e que produz um hormônio chamado de melatonina. O que acontece é que durante a noite quando nós somos expostos a menos iluminação, portanto menos estímulo luminoso e menos estímulo visual, a atenção naturalmente diminui e o cérebro vai se preparando e fazendo com que esses eixos se integrem e funcionem de modo a permitir o sono reparador noturno”

No entanto, segundo o especialista, quando acrescentamos o uso de dispositivos eletrônicos e o consumo excessivo de redes sociais a nossa rotina antes de dormir, acabamos interferindo no ciclo circadiano natural, que regula a percepção de dia e noite. Esse hábito desestabiliza todo o sistema, prejudicando o preparo do corpo para o descanso noturno.

“Na medida em que esses dispositivos expõem os nossos olhos e consequentemente o nosso cérebro a uma luminosidade que não é adequada para o horário, eles acabam mantendo a pessoa com um nível de atenção mais alto ao estar mais atenta, ao ficar recebendo conteúdo, mesmo que seja de maneira superficial, mas permitindo que aquelas informações sejam processadas pelo cérebro. A gente está fazendo o oposto do que deveria ser feito e mantendo esse cérebro alerta, portanto, em menor situação de repouso. Assim a gente muda a chamada arquitetura do sono e aquelas ondas de sono mais superficiais e mais profundas, que acontecem em todas as pessoas, elas acabam ficando distorcidas e isso impede que haja essa mesma reparação que eu falei de uma forma adequada. Num primeiro momento isso leva a um sono de pior qualidade, portanto um sono não reparador”

Consequências

Com a queda na qualidade do sono, o indivíduo pode desenvolver diversos tipos de insônia, caracterizadas pela dificuldade em adormecer, o que agrava ainda mais o problema. O sono não reparador deixa a pessoa mais cansada no dia seguinte, com menos capacidade de atenção, foco, retenção e memorização de informações importantes. Quando o problema evolui para a insônia, ou seja, uma privação mais severa do sono, isso pode levar a questões de saúde ainda mais graves e comprometer o bem-estar geral.

“Daria  atenção, por exemplo, nas crises convulsivas, naquelas pessoas que têm predisposição genética para que elas ocorram, ou que têm alguma anormalidade estrutural no cérebro, para que elas ocorram. Chamaria a atenção também das cefaleias, particularmente a migrânea ou enxaqueca, que piora em indivíduos que estão com o ciclo sono-vigília alterado. E por último, mas não menos importante, chamaria a atenção para os transtornos de ordem psiquiátrica. Porque essa privação do sono pode funcionar como gatilho para uma grande variedade de doenças psiquiátricas, inclusive episódios depressivos, tentativa de suicídio, alucinações visuais relacionadas a várias doenças psiquiátricas e crises de pânico, daquelas pessoas que são predispostas”, frisa o neurocirurgião.

Moderação no uso da tecnologia

De acordo com o Dr.Teixeira, não há uma quantidade segura de tempo para o uso da tecnologia antes de dormir, o mais recomendado é reduzir ao máximo o uso desses dispositivos no período noturno.

“O que a gente consegue afirmar é que esse uso deve ser minimizado ao máximo nos períodos que antecedem a hora de dormir, justamente para permitir que o cérebro vá entrando naquele modo de repouso. Se for muito necessário, que ele seja feito fora do ambiente da cama, ou seja, que a pessoa não fique deitada lendo ou vendo esses conteúdos de rede social, porque isso inclusive tem uma questão comportamental envolvida que vai atrapalhar o sono. Como falei, quando muito necessário, que a luminosidade do aparelho seja calibrada de uma maneira adequada e que o modo noturno dos aparelhos sejam utilizados, principalmente depois das 20h, para fazer parte desse processo que vai levar ao adormecer”, ressalta.

O especialista enfatiza que tudo na vida está relacionado ao equilíbrio, e o mesmo vale para o uso de dispositivos eletrônicos e redes sociais. Procurar esse equilíbrio é essencial para uma exposição saudável. O profissional que passou o dia inteiro trabalhando, por exemplo, pode sim usar as redes sociais à noite para se distrair e aliviar o estresse acumulado ao longo do dia, só que o ideal é manter esse hábito de forma moderada e fora da cama.

“É até um momento de prazer acompanhar esses conteúdos que lhe apetece, mas que aquilo não aconteça imediatamente antes de dormir e que você não vá para a cama com dispositivo e fique minutos e minutos ou às vezes horas rolando conteúdo em tela, e usar os modos noturnos nos dispositivos. E se possível dar espaço no seu dia a dia para acrescentar um livro ao invés do telefone durante a noite, já que os livros não tem iluminação própria e não chamam a atenção de formas variadas com áudio, vídeo e várias tonalidades de cor como dispositivo eletrônico”, conclui.

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