Pedro Peralta - bacharel em economia
O conceito de direita e esquerda surgiu na Revolução Francesa. Na Assembleia Nacional Constituinte, à direita estavam os que defendiam as tradições e a monarquia, enquanto à esquerda estavam os que apoiavam reformas e a eliminação da monarquia absolutista. Com a queda da monarquia e a ascensão da república, o significado original de direita e esquerda deixou de fazer sentido. A direita passou a representar os defensores do novo regime republicano e da ordem estabelecida, enquanto a esquerda passou a representar os que buscavam mudanças mais radicais no sistema político.
Com as muitas transformações políticas e sociais que ocorreram em diferentes contextos históricos, os significados continuaram a evoluir. Atualmente, a bússola política, conhecida também como compasso político, é a maneira mais adequada de classificar a posição política de um indivíduo. Em vez de classificar apenas em uma linha horizontal com esquerda e direita, a bússola introduz um segundo eixo vertical, resultando em quatro quadrantes. O eixo horizontal é econômico e classifica as posições políticas com base em visões sobre o livre mercado, determinando se alguém está mais à direita ou à esquerda. Já o eixo vertical é social e avalia as opiniões sobre os costumes e valores da sociedade, determinando se alguém é socialmente liberal ou conservador.
Assim, um indivíduo é classificado como de direita se defender o livre mercado e menor intervenção estatal na economia, enquanto é classificado como de esquerda se apoiar restrições mais rigorosas à liberdade econômica. Um indivíduo é considerado de direita liberal se defender a soberania do indivíduo em relação ao Estado tanto na esfera econômica quanto na moral. Este é o quadrante mais individualista, sendo o mais cético em relação à autoridade do Estado. Por outro lado, alguém que apoia o livre mercado, mas tende a acreditar que o Estado deve regular questões sociais, é classificado como de direita conservadora. Portanto, se você defende a liberdade econômica, mas acredita que o Estado deve intervir em temas como aborto, drogas e casamento homoafetivo, é provável que você seja de direita conservadora.
Pela esquerda, temos a esquerda liberal, que inclui aqueles que defendem restrições ao livre mercado, mas tendem a ser contra a intervenção do Estado em pautas sociais. Por fim, há a esquerda conservadora, um termo que pode parecer estranho à primeira vista, mas que descreve aqueles que defendem o coletivismo em ambas as esferas, econômica e social. Esses não defendem o conservadorismo tradicional que todos estão acostumados, que é liberal economicamente, mas também adotam uma postura conservadora nos costumes. É o quadrante mais coletivista, onde o coletivo sempre se sobrepõe às liberdades individuais.
Na direita liberal, encontramos liberais clássicos, minarquistas e anarcocapitalistas. Na direita conservadora, encontramos liberais-conservadores e a grande maioria dos monarquistas. Na esquerda liberal, encontramos social-democratas e anarquistas clássicos. Na esquerda conservadora, encontramos socialistas, fascistas e nacional-socialistas.
Muitas pessoas acreditam que o fascismo e o nacional-socialismo são ideologias de extrema-direita, mas essa classificação é completamente errônea e sem justificativa. Para ser considerado de direita, o único critério é defender o liberalismo econômico, e tanto o fascismo quanto o nacional-socialismo são contrários ao livre mercado. A única diferença entre o fascismo e o socialismo é que, enquanto o socialismo propõe o fim da propriedade privada, o fascismo propõe o controle total da propriedade privada por parte do Estado sem aboli-la por completo. Já a diferença entre o fascismo e o nacional-socialismo é que este último é explicitamente racista.
Benito Mussolini, fundador do fascismo, expressou de forma concisa essa ideologia com a frase: Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado. Outra frase famosa do ditador é: Se o liberalismo equivale a individualismo, o fascismo equivale a governo. Antes de fundar o fascismo, Mussolini integrou o Partido Socialista Italiano, que defendia o socialismo revolucionário. Desde sempre oposto ao livre mercado, é evidente que ele sempre teve uma orientação de esquerda, coletivista em todos os aspectos.
A bússola política nos revela que, conforme os significados atuais de esquerda e direita, a extrema-direita é, na verdade, totalmente contrária a qualquer intervenção do Estado na economia, adotando uma postura completamente individualista. Por outro lado, a extrema-esquerda se opõe completamente ao livre mercado, sendo profundamente coletivista. A esquerda, que originalmente na Revolução Francesa se opunha ao sistema vigente, agora defende o status quo. Atualmente, é a direita que se opõe ao establishment, uma vez que o sistema vigente é coletivista, com altíssima intervenção por parte do Estado na economia, mas sem abolir completamente a propriedade privada, apenas controlando-a por meio do aparato estatal, assim como propõe o fascismo.