Ataualpa A. P. Filho - professor
Na França, uma ação que durou apenas sete minutos, em uma manhã de domingo (19/10/2025), fez parecer fácil entrar no Museu do Louvre, o mais visitado do mundo, e roubar joias preciosas com importância histórica.
Mas não venho aqui questionar a vulnerabilidade do sistema de segurança do Museu. Trago apenas algumas indagações que podem ser consideradas ingênuas, contudo exponho-as, porque considero de extrema crueldade a audácia de entrar em um museu para roubar peças de valores históricos que fazem parte de um acervo que precisa ser preservado por pertencer ao patrimônio da humanidade.
Uma obra como “Mona Lisa” de Leonardo Da Vinci, que se encontra no referido museu, tem mais valor pela sua história, pela sua beleza do que pelas cifras que alguém possa dar por ela. Não há como comercializá-la. É uma obra que não aceita proprietário. É da humanidade. Tenho dificuldade para entender o insano desejo dos que querem só para si o que é de todos.
Que mérito pode ser atribuído a alguém que retém consigo e só para si o que deve ser compartilhado com todos?
O vazio da ambição só reflete a pobreza humana.
Neste momento, talvez, as pessoas que planejaram o roubo estejam comemorando o “êxito” das suas ações. Porém não há crime perfeito. Cedo ou tarde, serão revelados os nomes dos que cometeram tal roubo. A própria ousadia desse crime passou a exercer uma pressão sobre as autoridades francesas para que esclareçam o ocorrido. A direção do museu está tentando justificar as falhas do sistema de segurança. As autoridades políticas do país estão procurando dar explicações ao mundo sobre o sumiço de peças que registram uma história que pertence à memória da humanidade.
Não há dúvidas que o roubo foi bem planejado. Não há dúvidas que a segurança do museu falhou:
Como um caminhão equipado com elevador de carga estaciona ao lado do museu. Aciona o elevador, homens disfarçados de funcionários têm acesso à janela do museu, usam pequenas motosserras para quebrá-la, entram, roubam as joias e saem sem nenhuma ação dos agentes de segurança para impedir o assalto?
Foram roubadas nove peças da Coroa Francesa. Uma foi recuperada, a coroa da Imperatriz Eugénie, composta por 1.354 diamantes e 56 esmeraldas. Foi encontrada, horas depois, danificada em uma rua próxima ao museu. No broche roubado dessa Imperatriz, há mais de dois mil diamantes incrustados. O valor do que foi levado estima-se em 88 milhões. Isso corresponde a R$ 550 milhões.
Entre as peças roubadas também se encontra um colar que pertenceu a Maria Luísa, segunda esposa de Napoleão. Esse colar é composto por 32 esmeraldas e 1.138 diamantes. Entre as hipóteses sobre a motivação que levou ao roubou, encontra-se a que considero a mais danosa: o desmanche de tais peças para a retirada das pedras preciosas que podem ser usadas na confecção de outras joias e comercializadas clandestinamente. Em síntese, essas peças originais podem sumir completamente. Nesse caso, a lesão histórica tornaria irreparável. E aqui saltam outras perguntas:
Será que essa indignação que paira no mundo sobre esse roubo sensibilizará os assaltantes a ponto de eles devolverem as peças roubadas?
Por dinheiro, vale tudo?
Qual o grau da insensibilidade humana?
O que ocorreu na França serve de alerta para os demais museus espalhados pelo mundo. A preservação de um acervo histórico requer uma atenção redobrada, pois carrega a memória de um povo, de uma nação.
Hoje as autoridades francesas também estão tentando encontrar quase duas mil moedas que foram roubadas da Maison des Lumières (Casa do Iluminismo) em Landres no Nordeste da França. Quando os funcionários abriram a casa, na segunda-feira passada (20/10), não encontraram as moedas avaliadas em 90 mil, o que equivale a R$ 563 mil. Esse museu é dedicado ao filósofo Denis Diderot (1713-1784). 1.633 moedas eram de prata e 319 de ouro, cunhadas entre 1790 e 1840.
E para finalizar este meu triste lamento, lembro aqui a Taça Jules Rimet, que a Seleção Brasileira de 1970 ganhou pelo tricampeonato mundial realizado no México. Foi roubada na noite de 19 dezembro de 1983. Encontrava-se na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), no Rio de Janeiro.
As pessoas que cometeram o crime foram identificadas, porém a taça não foi recuperada. Segundo as investigações realizadas na época, ela foi derretida e transformada em barras de ouro. Esse roubo também teve repercussão internacional. Mas o que hoje temos é uma réplica da taça conquistada pela melhor seleção de futebol que já tivemos.
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