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quinta-feira, 11 de setembro de 2025


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O Verbo Interior e a Verdade Eterna em De Trinitate de Santo Agostinho

Pe. Anderson Alves

Divulgação
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Em De Trinitate, IX, cap. VI, Santo Agostinho fala da relação intrínseca entre a mente humana e a Trindade divina, utilizando uma abordagem psicológica para explicar como as faculdades da alma refletem a natureza divina. Para ele, a mente, o conhecimento de si e o amor de si são três termos relativos que, juntos, constituem uma só essência. Da mesma forma que em Deus há uma essência e três pessoas, Agostinho sugere que, ao compreender a mente humana, podemos chegar a um entendimento mais profundo de Deus.

O conceito de notitia é central na filosofia de Agostinho, referindo-se ao conhecimento da realidade tanto em si mesma quanto na verdade eterna. Agostinho faz uma distinção entre o conhecimento derivado dos sentidos e o conhecimento que a alma tem de si mesma. O conhecimento sensorial é sempre inferior, parcial e limitado, enquanto o conhecimento das verdades eternas é superior, completo e alcançado através da alma, não do corpo.

Agostinho argumenta que não é possível conhecer a alma dos outros através do corpo, mas apenas refletindo sobre a própria alma. Esse processo de introspecção permite que se conheça a alma dos outros ao compreender a própria alma. Embora os sentidos proporcionem um certo grau de conhecimento, a verdade dessas percepções reside na alma, na memória, que é a fonte de juízos de aprovação ou negação. Dessa forma, é possível ter juízos verdadeiros sobre realidades não vistas, como a cidade de Alexandria, por exemplo.

Acima das imagens sensoriais, porém, está o juízo conforme a verdade. Enquanto as representações sensoriais, ou phantasias, são múltiplas e limitadas, os juízos da razão são sólidos e firmes. Agostinho utiliza a metáfora das “nuvens das sensações” para descrever como as percepções sensoriais podem gerar escuridão, obscurecendo a verdade. No entanto, é possível elevar-se acima dessas imagens e alcançar a luz puríssima da verdade.

Santo Agostinho exemplifica isso com o exemplo de um mártir, cuja integridade moral e amor à verdade são admirados. Mesmo que se descubram defeitos morais nessa pessoa, o amor pelas virtudes que ela representava permanece. Isso porque o amor não é direcionado à pessoa em si, mas à imutável e eterna forma da justiça que essa pessoa simbolizava. Essa forma é racional, incorruptível e pura, e faz com que a alma se torne justa.

Outro exemplo utilizado por Agostinho é a admiração por um arco perfeito. Quando admiramos um arco material, é porque temos em nossa alma a forma perfeita do arco, que nos permite julgar e admirar a beleza do arco material. Assim, as imagens sensíveis nos proporcionam um conhecimento limitado das formas e da verdade, enquanto o conhecimento das formas eternas, imutáveis e racionais possibilita nossos juízos verdadeiros.

Os sentidos conhecem parcialmente a verdade, enquanto a mente conhece plenamente a verdade eterna. Sem essa verdade primeira, não seria possível ter a verdade sensível. A verdade eterna garante a validade dos juízos elaborados a partir dos sentidos. O método filosófico de Agostinho envolve passar das realidades externas para as internas e, das internas, para as eternas. Conhecer um arco belo e admirá-lo é possível porque temos em nossa alma a forma perfeita do arco, que é eterna e nos permite julgar a beleza de todos os arcos vistos.

Santo Agostinho argumenta que, embora os sentidos apreendam corpos belos e possam recordá-los ou imaginá-los, é a razão que percebe as razões e leis dessas imagens. A mente humana, ao produzir uma obra de arte bela, gera essa beleza a partir da forma imutável e eterna da beleza que reside nela. Por essa forma, a mente é capaz de julgar e produzir realidades belas. Enquanto Aristóteles defende que a apreensão sensível causa a ideia ou conceito, Platão e Agostinho acreditam que as verdades eternas presentes na alma possibilitam o juízo sensível. Não é o conhecimento sensível que gera as ideias, mas as ideias perfeitas e imateriais, que estão na alma, que possibilitam o juízo sensível.

Agostinho destaca a importância do verbo interior, que é o conhecimento de si mesmo e de todas as coisas. Esse verbo é gerado pela alma e é através dele que nos comunicamos, seja por palavras ou gestos. O verbo eterno está na Verdade eterna e participa do Verbo. Assim, todo conhecimento e comunicação derivam desse verbo interior, que reflete a verdade eterna.

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