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Os 40 anos dos CIEPs: Modelo Revolucionário

Henrique Mathiesen -   Coordenador do Centro de Memória Trabalhista, com pós-graduação em Sociologia

Foto: Divulgação
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Quando Leonel Brizola contrariou  toda a lógica política da época e venceu as eleições para o governo do Estado do Rio de Janeiro em 1982 enfrentando, inclusive,  a tentativa de fraude eleitoral, articulada pela Proconsult, com apoio do regime militar  , o   líder trabalhista idealizou,  junto com o professor Darcy Ribeiro e com o arquiteto Oscar Niemeyer, a implantação do mais avançado e revolucionário projeto educacional da história do Brasil: Os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs).

O primeiro CIEP ( Centro Integrado de Educação Pública) foi inaugurado, no Rio de Janeiro,  em 8 de maio de 1985.

A primeira unidade,  no Catete,  recebeu o nome de Tancredo Neves,  presidente eleito em janeiro de 1985 e que morreu,  em abril daquele mesmo ano,  por problemas causados, a princípio,  por uma diverticulite aguda.

O CIEP Tancredo Neves ofereceu aos alunos, na época, escola de tempo integral,  com quadras de esportes, atendimento médico e odontológico,  professores e orientadores de leituras,  artesanato,  teatro e música.

A concepção dos CIEPs representou uma das mais arrojadas e visionárias iniciativas educacionais já realizadas no país, fruto do olhar estadista de Brizola e da genialidade intelectual de Darcy Ribeiro.

Tratava-se de uma escola pública de excelência, popular e comunitária, que compreendia a educação como um processo integrado. E, reunia profissionais qualificados, infraestrutura adequada e práticas pedagógicas inovadoras.

Resposta concreta à necessidade de democratizar o acesso ao conhecimento no Brasil pós-ditadura, os CIEPs foram criados como escolas de tempo integral voltadas às classes populares, com o objetivo de formar cidadãos plenos.

Eram centros vivos de cultura, convivência e lazer, abertos à comunidade e enraizados nas realidades locais, onde os saberes populares eram respeitados e incorporados ao cotidiano escolar. Ao unir educação e cultura como pilares indissociáveis da cidadania, os CIEPs apontavam para um futuro promissor, sem romper com as raízes do povo brasileiro.

O projeto trouxe inovações profundas à educação pública. Com funcionamento das 8h às 17h, os CIEPs ofereciam muito mais do que ensino formal. Garantiam alimentação adequada, higiene, atendimento de saúde, atividades esportivas, culturais e artísticas, reconhecendo que todas essas experiências fazem parte do processo educativo.

Voltados prioritariamente às periferias urbanas, evidenciavam a escola como um espaço público plural gratuito, laico, inclusivo e sustentado pelo Estado onde a comunidade tinha voz e vez. A estrutura pedagógica rompia com o modelo tradicional: Equipes multiprofissionais, currículo integrado e atividades interdisciplinares valorizavam a diversidade e os saberes locais.

A presença dos animadores culturais, a participação ativa da comunidade e o combate aos currículos excludentes revelavam a intenção clara de formar sujeitos críticos, conscientes e emancipados.

A  genialidade dos CIEPs residia justamente na simplicidade poderosa de sua proposta: Nenhuma criança pode aprender com fome, sem saúde, sem acesso à cultura, ao esporte, ao lazer e ao afeto. Brizola e Darcy entenderam, como poucos, que cidadania se constrói desde a infância, com dignidade e oportunidades reais.        Os países desenvolvidos já haviam provado essa lógica  e os CIEPs a materializaram em solo brasileiro. A proposta integrava escola, cuidado e cultura em um mesmo espaço, mostrando que o saber floresce quando a vida da criança é respeitada em sua totalidade.

Alimentação, saúde, arte e conhecimento andavam juntos  e isso, no Brasil, chamava-se CIEPs.

No entanto, o projeto foi duramente atacado pelas elites retrógradas e por setores de uma esquerda desinformada,  que combateram os CIEPs com argumentos mesquinhos e reducionistas, como a ideia de que “escola não é pensão”, ou que o projeto era caro demais.

Acusavam Brizola de populista educacional, sem compreender, ou sem querer aceitar, a dimensão transformadora da proposta.

Desmontaram o projeto mais inovador e humanizador que o Brasil já conheceu.

Em seu lugar, restaram as velhas escolas burocráticas e desonestas, que reproduzem um modelo fracassado, útil apenas à manutenção das desigualdades e das elites que se opõem ao desenvolvimento, ao povo e à emancipação social.

Quarenta anos depois, os CIEPs continuam atuais, necessários e profundamente inovadores. Em seu terceiro mandato como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva chegou a reconhecer publicamente o erro seu e de setores de seu partido ao não apoiarem os CIEPs no passado.     No entanto, ainda não implantou a concepção plena desse modelo em sua gestão. Cabe a reflexão: Até quando o Brasil negligenciará sua educação, ou seja, seu próprio futuro?

E cabe, também, o registro histórico da grandeza e da visão revolucionária de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, que ousaram construir não apenas escolas, mas um projeto de nação.

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