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Os bastidores do Comício da Central do Brasil, em 1964

Henrique Pinheiro - Economista e Produtor Executivo de Cinema

Foto: Pixabay
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Meu pai,  João Pinheiro Neto, estava lá, ao lado de João Goulart,  no palanque do célebre comício da Central do Brasil,  em 13 de março de 1964, quando o então presidente da República,  anunciou as Reformas de Base,  que entrariam em prática,  em seu governo, a partir daquele momento histórico,  inclusive a Reforma Agrária.

Jango assinou dois decretos no Comício da Central do Brasil. E, isso

era possível,  de acordo com a Constituição de 1946.

O primeiro decreto era simbólico. Sobre a desapropriação das refinarias de petróleo que ainda não estavam em poder da Petrobras ( atualmente,  a palavra Petrobras é sem acento e muita coisa mudou,  a partir da ditadura militar).

O segundo era o chamado " Decreto da Supra, elaborado por João Pinheiro Neto,  presidente,  na época, da Superintendência da Reforma Agrária.

Pelo decreto da Reforma Agrária,  João Goulart declarava as propriedades subutilizadas como sujeitas à desapropriação.

Organizado pela Central Geral dos Trabalhadores,  CGT , presidida pelo sindicalista e deputado, pelo PTB de Juiz de Fora,   Clodesmidt Riani ( 1920-2024), pelo PTB e trabalhistas históricos, como o jornalista e ex-deputado José Gomes Talarico,  grandes amigos de meu pai, o Comício da Central foi um sucesso.

O palanque , instalado na tradicional Praça da República,  situada em frente à Central do Brasil,  com a Avenida Presidente Vargas , ficava a 133 metros de distância do Palácio Duque de Caxias,  onde funcionava o quartel-general do Comando Militar do Leste,  antigo prédio do Ministério da Guerra ( que,  em 1964, já havia sido transferido para Brasília).

Havia rumores de que Jango poderia sofrer um atentado,  no comício. A primeira-dama,  Maria Tereza Goulart fez questão de comparecer e de ficar do lado direito de seu marido,  presidente da República.

Comandante do I Exército, em março de 1964, o Marechal Moraes Âncora ( que também ficou ao lado de Getúlio Vargas quando os militares golpistas quiseram invadir o Palácio do Catete,  em 1954) ficou a postos,  alerta,  para que nada acontecesse ao querido e pacífico presidente Jango.

Duzentas mil pessoas ( entre admiradores de João Goulart,  sindicalistas,  representantes da sociedade civil,  estudantes, professores,  artistas,  intelectuais e lideranças progressistas ) , pelos cálculos da imprensa e da polícia militar,  estiveram no  Comício da Central do Brasil. Para ouvir o discurso de Jango.

Na ocasião,  João Goulart revelou,  ainda,  que preparava a Reforma Urbana.

Disse que iria diminuir os valores dos aluguéis, que iria fazer a reforma administrativa,  a reforma universitária,  a reforma bancária,  a reforma eleitoral,  a reforma universitária e a reforma fiscal.

Também estavam programados Comícios de João Goulart, no dia 21 de abril ( Dia de Tiradentes)de 1964, em Belo Horizonte, no dia primeiro de maio,  em São Paulo.

No palanque,  também participaram o genial Darcy Ribeiro e os políticos Miguel Arraes e Leonel Brizola,  que,  além de Jango,  eram alvos da oposição ferrenha que Carlos Lacerda,  da conservadora União Democrática Nacional, UDN,  fazia aos trabalhistas, do PTB, e aos setores progressistas do antigo PSD  .

Em resposta ao  Comício da Central do Brasil, no dia 13 de março de 1964, no dia 19 de março,  seis dias depois,  setores da igreja, do meio rural retrógrado

e do empresariado que defendiam o discurso moralista da UDN e representavam as elites e a propriedade privada,  organizaram no dia de São José,  "padroeiro das famílias ", a " Marcha da Família com Deus pela Liberdade ", que teve grande adesão,  principalmente, em São Paulo,  com o discurso do anticomunismo ( eles acusavam o fazendeiro Jango de ser comunista).

Em seu discurso,  no Comício da Central, Jango falou sobre a importância do " inolvidavel Papa João XXIII ", que nos ensinou "que a dignidade da pessoa humana exige o direito ao uso dos bens da terra ".

Ao contrario,  os idealizadores da " Marcha da Família " tinham como grande inspirador o padre irlandês Patrick Peyton,  que ignorava as mensagens de cunho social do Papa João XXIII.

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