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Ozempic pode afetar a saúde ocular, de acordo com pesquisa

Ainda são necessárias outras pesquisas para obter confirmação da relação entre o medicamento e a doença

Foto: Shutterstock
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Mariana Machado - estagiária

O Ozempic é um medicamento indicado para o tratamento do diabetes tipo 2, e conhecido por seus efeitos para o emagrecimento. O remédio tem sido usado fora das indicações da bula para a perda de peso, por conta da semaglutida, seu principal componente.

Apesar de esse princípio ativo ser aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento da obesidade, o uso desse medicamento para perda de peso sem orientação e acompanhamento médico pode trazer riscos à saúde, e um deles é para a saúde dos olhos.

Um estudo realizado por pesquisadores do Mass Eye and Ear, hospital-escola da Universidade Harvard, identificou uma relação entre o uso de semaglutida e um risco aumentado de desenvolver neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA), uma doença rara que atinge o nervo óptico e pode levar à cegueira. Entretanto, o estudo apresenta limitações, sendo necessárias outras pesquisas para obter confirmação da relação entre o medicamento e a doença.

No estudo, foi observado que “dos mais de 17 mil pacientes com doenças neuro-oftalmológicas de uma clínica especializada, 710 tinham diabetes e 979 apresentavam obesidade. No total, 555 se tratavam com semaglutida e, entre eles, 6,6% foram diagnosticados com NOIA-NA. Já entre as 1.134 pessoas com diabetes ou obesidade que não usavam essa medicação, apenas 0,79% teve a mesma doença”, uma diferença significativa, estatisticamente.

O Dr. Ricardo Filippo publicou no site Clínica de Oftalmologia Integrada, que os primeiros indícios de que o Ozempic poderia estar associado a problemas de saúde ocular surgiram a partir de relatos de pacientes que, “após iniciar o uso do medicamento, começaram a apresentar sintomas como visão turva e, em alguns casos, perda parcial da visão. A situação preocupou os médicos, especialmente porque a saúde ocular não havia sido uma área de foco nos estudos clínicos iniciais da semaglutida”.

A doença é causada pela redução do fluxo sanguíneo para o nervo óptico. A condição é mais comum em pessoas com fatores de risco como hipertensão, diabetes e apneia do sono. O Dr. Ricardo explica que o Ozempic poderia causar essa condição por conta da forma em que a semaglutida age no corpo humano. “Além de seus efeitos sobre o controle da glicose e o apetite, há indícios de que ela pode influenciar a perfusão da cabeça do nervo óptico”, o que pode contribuir para o desenvolvimento da doença.

Ainda explica que, “quando o fluxo de sangue para o nervo óptico é reduzido, ocorre um déficit de oxigenação na região, o que pode levar à perda permanente da visão. Embora essa hipótese ainda precise de mais estudos para ser confirmada, as evidências iniciais são suficientes para justificar a investigação”.

Sobre a pesquisa, a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, disse que há “limitações metodológicas fundamentais”, e como o número de pacientes da amostra é pequeno, e que a NOIA-NA “não é uma reação adversa ao medicamento de acordo com as respectivas bulas aprovadas”, não há como precisar a relação entre os dois. “A segurança do paciente é uma prioridade máxima” da empresa, concluíram.

É o que diz também o líder do estudo de Harvard, Joseph Rizzo, em comunicado, “Nossas descobertas devem ser vistas como significativas, mas provisórias, pois estudos futuros são necessários para examinar essas questões em uma população muito maior e mais diversa”.

A Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) também comentou sobre o caso, em julho deste ano, explicando que “indivíduos com uma doença neuro-oftalmológica prévia, como os frequentadores da clínica, podem já ter um risco elevado, sendo precipitado extrapolar esse resultado para todo o universo de pacientes com obesidade e diabetes”. “Além disso, os pesquisadores não avaliaram a aderência ao tratamento com semaglutida ou a dose utilizada no momento do diagnóstico da doença ocular. Tampouco levaram em conta fatores de risco notórios para NOIA-NA, como o tabagismo, a duração do diabetes e até a morfologia de estruturas oculares. Isso seria fundamental”, concluem.

Logo, recomendaram àqueles que tenham manifestado NOIA-NA no passado, interrompam o uso da semaglutida, assim como quem sofreu perda súbita ou recente de visão. “No mais, a semaglutida deve continuar sendo indicada para tratar a obesidade e o diabetes em quem não tem sintomas de doenças neuro-oftalmológicas”.

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