A cidade de Petrópolis conta com um Servo de Deus reconhecido pelo Vaticano: o Padre João Francisco de Siqueira Andrade, conhecido como Pe. Siqueira. Fundador da Escola Doméstica Nossa Senhora do Amparo e da Congregação Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo, o sacerdote pode estar mais próximo da canonização. Recentemente, as Irmãs do Amparo entregaram ao bispo diocesano, Dom Joel Portella Amado, a documentação necessária para a abertura do processo diocesano de beatificação.
Para a congregação, esse é um passo significativo, dada a importância da obra fundada por Pe. Siqueira ainda no século XIX, com o apoio do imperador Dom Pedro II. A iniciativa surgiu para atender meninas órfãs e em situação de vulnerabilidade. A Escola Doméstica Nossa Senhora do Amparo é uma das instituições citadas no quarto volume do livro Almanaque de Petrópolis Memórias da Educação, publicado pelo Museu Imperial e fruto de uma pesquisa conduzida pelas professoras Regina Helena de Castro Resende e Carolina Moreira da Silva Knibel.
Na obra, as autoras destacam a preocupação de Pe. Siqueira com a educação de meninas pobres e órfãs, que não tinham as mesmas oportunidades de estudo e trabalho no futuro. O projeto foi iniciado em 1871 com 18 alunas, ampliando-se nos anos seguintes. Atualmente, a instituição segue ativa, adaptando-se às novas realidades, mas fiel ao propósito inicial de acolher e educar meninas em vulnerabilidade em Petrópolis e outras regiões do Brasil.
Caminho de fé e dedicação
Pe. João Francisco de Siqueira Andrade nasceu em Jacareí, São Paulo, em 16 de julho de 1837, filho de Miguel Nunes de Siqueira e Claudina Maria de Andrade. Ingressou no Seminário Diocesano de São Paulo, concluindo seus estudos antes de seguir para a Província de São Pedro, no Rio Grande do Sul. Lá, foi acolhido pelo bispo Dom Sebastião Dias Laranjeiras e ordenado sacerdote em 8 de dezembro de 1864.
Desde o período de seminário, demonstrava forte preocupação com a educação juvenil. "Como estudante, minha grande preocupação era a educação da juventude brasileira. Decidi que, depois de ordenado, fundaria uma casa para educar meninos pobres", escreveu.
Pe. Siqueira estudou a realidade do país e concluiu que o bem-estar social e religioso dependia de uma educação acessível ao povo. Durante a Guerra do Paraguai, atuou como voluntário da pátria e, ao retornar, buscando aliviar os efeitos da tuberculose, fixou-se em Petrópolis.
A realidade da orfandade gerada pela guerra e a falta de oportunidades para mulheres chamaram sua atenção. Em 1866, diante dos primeiros debates sobre a emancipação dos escravizados e a necessidade de trabalho livre no Brasil, percebeu que era o momento de iniciar sua missão educacional. "Minha convicção de que era chegado o tempo e de que a obra era de Deus, que nunca deixou de velar sobre este país, era tão forte que minha divisa única foi e é: 'Ou a morte, ou o triunfo de uma empresa que considero divina'", declarou no documento Apelo ao País, de 1877.
O projeto foi apresentado ao imperador Dom Pedro II em 15 de julho de 1868. Dois meses depois, recebeu aprovação, com o monarca enfatizando que a ideia era "boa e humanitária, porém dificílima".
A missão que transcendeu o tempo
Determinado, Pe. Siqueira percorreu fazendas no interior do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo para arrecadar apoio à sua iniciativa. Cavalgar sob o sol e a chuva, enfrentar críticas e desafios nunca foram empecilhos para sua missão. "Caminharei de rua em rua, de casa em casa, até percorrer a cidade toda com ânimo, disposto a aceitar, em nome de Deus, qualquer escola que me queira dar", declarou ao Jornal Mercantil em 5 de maio de 1875.
Consciente de sua vocação, escreveu: "É justo que, tendo feito o voto mais firme de minha existência em prol da infância desvalida e me consagrado ao bem da Igreja e da nossa pátria, use de toda a franqueza para com o público, confessando diante de Deus a sinceridade e a abnegação com que trabalho".
O legado de Pe. Siqueira permanece vivo. Sua obra ultrapassou séculos e continua impactando a vida de inúmeras crianças e adolescentes. As Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo seguem dando continuidade à missão do sacerdote, reafirmando sua dedicação ao ensino e ao acolhimento dos mais vulneráveis. Seu exemplo de fé e serviço reforça a importância da educação e inspira gerações.
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