Especialista em Ciência da Felicidade enfatiza a importância de estratégias para superar o pessimismo e cultivar uma visão positiva
Bruna Nazareth
Um novo ano te proporciona estabelecer novas metas e conquistas, além da motivação para explorar novos projetos, sonhos e áreas de interesse, tanto pessoais quanto profissionais. Enquanto muitas pessoas se sentem animadas com a chegada de um novo ciclo e o planejamento de um futuro promissor, outros enfrentam sentimentos de desânimo, muitas vezes influenciados por fatores externos, como as condições econômicas e de saúde pública.
De acordo com uma pesquisa do Datafolha, os brasileiros demonstram menos otimismo em relação a 2025 de forma geral. Embora 47% acreditam que esse ano será melhor que 2024, 25% avaliam que será igual, 25% considera que será pior e 3% não responderam.
Fatores externos como economia, inflação e desemprego contribuem para a desmotivação de parte da população, afetando o otimismo em relação ao futuro. Para 61% da população, a economia brasileira está no rumo errado, apenas 32% avaliam que está no caminho correto e 6% preferem não opinar.
Quando se trata de indicadores econômicos, as percepções variam. Em relação à inflação, 67% dos brasileiros acreditam que irá subir nos próximos meses, enquanto 9% esperam queda, 21% acreditam na estabilidade e 3% não responderam. Sobre o desemprego, 41% preveem alta nos próximos meses, 24% acreditam em redução, 33% projetam estabilidade e 2% não opinaram. Já sobre o poder de compra, apenas 27% esperam melhoria, enquanto 39% acreditam que terá uma diminuição, 31% prevê estabilidade e 3% não responderam.
Impactos na saúde mental
Esse cenário de incertezas e pessimismo reflete diretamente na saúde emocional e na capacidade de planejamento de muitos brasileiros. Chrystina Barros, especialista em Gestão de Saúde e Ciência da Felicidade, pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, destaca que o pessimismo é, muitas vezes, uma postura interna que ocorre independente do cenário externo. Segundo ela, é essencial buscar estratégias para superar essa sensação e cultivar uma perspectiva mais positiva.
“Se a gente fala dessa sensação com problemas sociais importantes, com problemas na economia, talvez a falta de emprego, enfim, algum problema da própria pessoa ou da realidade em que ela vive, sem dúvida nenhuma, isso potencializa a ansiedade, a sensação de impotência, a apatia, a falta de energia, de acreditar. Então, isso dificulta até mesmo o planejamento, tanto pessoal quanto profissional. A gente entra num processo, digamos, de incredulidade. Mas apesar disso, o brasileiro tem uma postura muito otimista. Mesmo no ranking de felicidade, figurando entre os 50 primeiros países, no otimismo a gente figura entre os 3, 4 primeiros. Porque a gente consegue enxergar sempre um caminho, uma perspectiva”
Transformando a preocupação em impulso positivo
O otimismo é um recurso emocional essencial, capaz de nos fortalecer diante dos desafios diários que impactam o país e a mentalidade das pessoas. Sendo assim, é possível transformar a preocupação com o futuro em um impulso para mudanças positivas. A especialista ressalta que o primeiro passo é reconhecer que essa preocupação existe, que estamos nos ocupando antecipadamente com algo que não está no nosso controle. Ao assumir essa tensão prévia, podemos redirecionar a nossa consciência para mudar o foco.
“Mudar o foco, principalmente, para aquilo que a gente pode fazer. Tirar o foco daquilo que a gente não alcança, não controla. A gente não controla se está em uma entrevista de emprego, a gente não controla se o outro vai nos aprovar, mas a gente controla a nossa postura, a nossa confiança, o nosso preparo. Então, se reconhecer, se colocar na posição de protagonista, na hora que a gente percebe essa preocupação, mas a partir dela assume o papel de protagonista, literalmente, a gente começa a dar passos e é importante que a gente comece a reconhecer todos esses passos, porque isso fortalece a gente para os próximos, para passos cada vez maiores, para a estrada”
Embora os problemas que afetam o país não agradam a muitos brasileiros, é fundamental focar no positivo e considerar que pequenas vitórias podem ajudar a cultivar uma visão mais otimista, e as conexões sociais desempenham um papel importante nesse processo.
“O nosso cérebro, a neurociência explica, ele trabalha muito para a defesa, para olhar o que é problema. Então, se a gente já sabe disso, a gente tem que fazer de uma maneira consciente olhar para aquilo que é positivo. Ter boas conexões, né? Os trabalhos sobre felicidade. E a própria dimensão do FIB, da Felicidade Interna Bruta, fala na vitalidade comunitária, que é quando você se percebe em grupo. O grupo tem dois papéis muito importantes, um as pessoas se ajudam, uma rede de colaboração. E outro, vai ter sempre alguém que está bem de humor, de otimismo e vai ter sempre alguém que não está tão bem, que vai estar pessimista. Então vai ser bom, porque quando a gente olha para o outro, e é mais fácil, às vezes, olhar para fora do que para dentro, a gente lembra que em alguns momentos a gente vai estar daquele jeito, ou melhor, ou pior”
É importante ressaltar, de acordo com a especialista, que manter uma alimentação equilibrada, dedicar pelo menos cinco minutos para respirar, praticar atividade física e não ficar longos períodos sem se alimentar, fazem uma grande diferença. O sono também merece atenção, ele deve ser de qualidade, sem o celular por perto, para realmente promover o descanso. Esses cuidados impactam diretamente o corpo e ajudam a facilitar nas mudanças do comportamento, além de favorecer uma visão mais positiva da vida.
*Com informações do Datafolha
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