Observa Infância da Fiocruz aponta aumento nessa faixa etária
Larissa Martins
Altamente transmissível por meio de gotículas de saliva, a coqueluche é uma infecção respiratória que pode evoluir e causar complicações como pneumonia, convulsões e, nos casos mais graves, até levar à óbito bebês e crianças.
Informações da Secretaria Municipal de Saúde mostram que, em 2024, foram registrados 70 casos de coqueluche em Petrópolis, 13 deles em crianças menores de 5 anos. Em 2025, foram confirmadas, até o momento, oito ocorrências , sendo quatro em crianças nessa faixa etária.
Sintomas
O período de incubação da coqueluche varia entre cinco e dez dias. Os primeiros sintomas incluem febre baixa, mal-estar, coriza e tosse seca, que se intensifica com o tempo. A fase mais grave envolve episódios de tosse intensa, chamados de crises paroxísticas, que podem durar semanas e acontecem principalmente à noite.
“Nos bebês, as crises podem levar à apneia, vômitos e até risco de morte. Durante os acessos de tosse, a pessoa tem dificuldade para respirar, podendo apresentar congestão, lacrimejamento e secreção abundante”, explica Flaubert Serra de Farias, infectologista pediátrico do Hospital e Maternidade São Luiz Osasco, da Rede D’Or.
Ocorrências em escolas
No ano passado, algumas escolas de Petrópolis confirmaram a transmissão entre alunos e informaram ter tomado as medidas cabíveis para evitar a evolução da infecção na comunidade escolar, o que incluiu a comunicação à Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde de Petrópolis.
Imunização
A melhor forma de evitar as formas graves da infeção é por meio da imunização com a vacina adsorvida difteria, tétano e pertussis (DTP). O esquema vacinal prevê três doses no primeiro semestre de vida (aos 2, 4 e 6 meses), além de reforços aos 15 meses e aos 4 anos. A vacinação de gestantes com a dTpa (vacina tríplice bacteriana acelular tipo adulto) deve ser feita a cada gestação, preferencialmente no terceiro trimestre, para proteger o bebê desde o nascimento.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que, atualmente, a cobertura da vacina DTP está com 74,38% em Petrópolis (A meta é 95% de cobertura).
Segundo Fabíola La Torre, coordenadora do pronto-socorro infantil do São Luiz Osasco, a ausência de doses de reforço para adolescentes é um problema.
“No Brasil, o Programa Nacional e Imunização prevê a aplicação da vacina apenas em crianças de 0 a 4 anos. Sem reforços, adolescentes ficam mais vulneráveis, aumentando o risco de transmissão, principalmente se tiverem condições como imunidade baixa, asma ou bronquite”, explica a médica.
Observa Infância
Um levantamento realizado pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) da Fiocruz e da Unifase revela que os casos da doença tem aumentado nesta faixa etária. Em 2024, o Brasil registrou 4.304 ocorrências de coqueluche em crianças menores de 5 anos. O número representa um aumento relativo de 1.253% em relação a 2023, que contou com 318 casos registrados.
Em 2024, as taxas de incidência de casos em cada 100 mil crianças dentro da faixa etária analisada foram mais altas no Paraná (443,9), Distrito Federal (247,1) e Santa Catarina (175,9). São números superiores à taxa média nacional, que registra 95 casos para cada 100 mil crianças. Acre, Espírito Santo e Amapá não notificaram casos no ano passado. Até o mês de agosto de 2025, já foram 1.148 casos notificados. Os estados com maior concentração neste ano são Minas Gerais (229), São Paulo (217) e Rio Grande do Sul (146). Os estados de Rondônia, Acre e Espírito Santo não tiveram registros.
Fatores
Segundo os pesquisadores, o aumento dos casos contrasta com o avanço gradual da cobertura vacinal da DTP (tríplice bacteriana difteria, tétano e coqueluche) em menores de 1 ano. A cobertura passou de 87,6%, em 2023, para 90,2%, em 2024. Porém, apesar do leve aumento, o índice ainda não alcançou a meta nacional de 95% definida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Isso mostra que, apesar da recuperação, ainda há uma margem de vulnerabilidade capaz de favorecer a circulação da doença, especialmente entre bebês mais novos.
"A alta recente de coqueluche no país pode decorrer de um conjunto de fatores que se somam: coberturas vacinais ainda abaixo da meta de 95% e muito desiguais entre municípios, com atrasos nos reforços e baixa adesão à dTpa durante a gestação; retomada dos ciclos naturais da doença no pós-pandemia; intensificação da vigilância e do uso de PCR, elevando a detecção de quadros leves, sem, contudo, explicar sozinha o aumento de internações e óbitos", avalia uma das coordenadoras do Observa Infância, Patrícia Boccolini. "Há também uma possível contribuição de fatores ambientais e sociais desastres, aglomerações e interrupções de serviços , que criam condições para focos locais, além do aumento de casos registrados em toda a região das Américas entre 2023 e 2024", completa.
Hospitalizações
As internações seguiram tendência semelhante: entre menores de 5 anos, foram 1.330 hospitalizações em 2024, contra 420 em 2023, um aumento de 217%. Em 2025, os dados ainda são preliminares, mas até agosto já foram confirmadas 577 internações. O padrão é coerente com a maior vulnerabilidade de crianças lactentes e com a retomada da circulação da doença observada em outros países.
Em 2024, as maiores taxas de hospitalização de crianças (em cada 100 mil na faixa etária estudada) por coqueluche ocorreram no Amapá (158,3 por 100 mil), em Santa Catarina (83,5) e no Espírito Santo (46,0). São números maiores do que a média de 29,4 registrada em todo o Brasil no ano indicado. Acre, Roraima e Mato Grosso do Sul não tiveram registros em 2024. Em números absolutos, destacam-se Minas Gerais (91 internações), São Paulo (84) e Santa Catarina (54).
O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde registrou 10 óbitos por coqueluche em menores de quatro anos entre 2019 e 2023. Somente em 2024, esse número subiu para 14 mortes.
Números maiores há uma década
Apesar dos altos registros em 2024, o número ficou ligeiramente abaixo das notificações de uma década atrás. Em 2015, foram 4.630 casos de coqueluche em crianças menores de 5 anos, índice 7% maior que em 2024. O total de internações de 2024 também permanece abaixo do patamar de 2015, quando houve 4.762 internações (queda acumulada de 72%).
Observa Infância
O Observa Infância é uma iniciativa de divulgação científica que reúne e analisa dados sobre a saúde de crianças de até 5 anos. O objetivo é ampliar o acesso à informação qualificada, facilitando a compreensão sobre dados obtidos junto aos sistemas nacionais de informação.
Pesquisa
As evidências científicas trabalhadas são resultado de investigações desenvolvidas pelos pesquisadores Patricia e Cristiano Boccolini, no âmbito do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e da Faculdade de Medicina de Petrópolis do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (FMP/Unifase).
*Com informações da Fiocruz
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