Relembre a queda de avião que atingiu a Pedra Maria Comprida
Lucas Klin - especial para o Diário
Na noite de 12 de abril de 1972, um dos trechos aéreos mais movimentados do Brasil, a ponte aérea Rio-São Paulo, foi marcada por uma tragédia que até hoje intriga especialistas e familiares das vítimas. Um avião YS-11 da Vasp, popularmente conhecido como Samurai, desapareceu dos radares e se chocou contra a Pedra da Maria Comprida, em Petrópolis. A bordo, 25 pessoas, entre tripulantes e passageiros, perderam suas vidas.
As circunstâncias da queda do Samurai são até hoje um enigma. A aeronave, com uma tripulação experiente e sob condições meteorológicas favoráveis, desviou-se significativamente de sua rota original, um fato que intriga especialistas em aviação. Na época, os jornais reportaram que o desvio de mais de 46 quilômetros da rota original do avião PP-SMI, da ponte aérea, que caiu à noite em Petrópolis, com 25 pessoas a bordo, está sendo considerado inexplicável pelos comandantes de aviação mais experientes, relataram os jornais da época.
Um mistério sem respostas definitivas
A investigação oficial apontou falha humana como a causa provável do acidente, atribuindo à baixa qualidade da navegação realizada pelos pilotos e ao procedimento inadequado com relação ao voo por instrumentos. No entanto, a falta de uma caixa-preta e a ausência de testemunhas oculares deixaram lacunas nas investigações, alimentando diversas teorias e especulações.
A imprensa da época levantou diversas hipóteses para explicar a tragédia. Algumas teorias envolviam a possibilidade de um tumulto a bordo, sabotagem ou até mesmo um sequestro. No entanto, nenhuma dessas hipóteses foi comprovada. A ausência de provas concretas e a complexidade da aviação da época dificultaram a elucidação do caso.
O lavrador Antônio Firmino Santana, morador de Secretário, foi o primeiro a perceber o acidente e praticamente a única testemunha. Ele estava se preparando para dormir quando ouviu um barulho estranho nas proximidades e saiu para ver do que se tratava e notou que a distância se aproximava um objeto, que a princípio não podia distinguir, em chamas. Pouco depois notou se tratar de um avião que passou próximo a sua casa, relatou o jornal Correio do Amanhã na época
Logo após o acidente, Antônio foi à residência de seu genro, Luís Rodrigues da Silva, para contar o que aconteceu. Os dois, juntamente com o vereador da cidade na época, Galdino do Vale, comunicaram a delegacia local e o Corpo de Bombeiros que entraram em contato com a Força Aérea Brasileira (FAB).
Sorte ou destino?
No dia do acidente, um homem chamado Ângelo Teixeira de Branco, estava em São Paulo, providenciando a compra de um imóvel. No entanto, faltava um documento para obter o financiamento na Caixa Econômica Federal (CEF). Com urgência, ele precisava ir ao Rio de Janeiro para buscá-lo.
Ângelo chegou ao aeroporto de Congonhas por volta das 19h30. Ele estava prestes a embarcar em um voo da ponte aérea com destino ao Rio de Janeiro. No guichê, a atendente informou que o próximo voo seria apenas às 20h30. O narrador testemunhou uma situação intrigante: uma pessoa havia comprado uma passagem para o voo das 20h, mas o avião já havia partido. Ao desembarcar no Rio, o narrador soube que o avião anterior, o YS-11 da VASP, havia caído sem sobreviventes. Essa experiência deixou uma marca profunda nele, e toda vez que ouve notícias de quedas de avião, ele relembra o saguão do aeroporto e a expressão das pessoas naquele momento trágico.
Embarquei às 20h30. Voo tranquilo. Devido a minha pressa, desci do avião e, correndo para pegar um Táxi, fui o primeiro a chegar ao saguão do aeroporto. É uma sensação horrível você se dar conta que aquele avião que saiu antes não chegou, olhar a expressão no rosto daquelas pessoas que esperam seus entes queridos, lamentou Ângelo. Ele se salvou por conta de meia hora.
Legado e impactos
O acidente do Samurai teve um impacto significativo na aviação civil brasileira. A tragédia serviu como um alerta para a importância da segurança operacional e impulsionou a adoção de novas tecnologias e procedimentos de segurança. A partir da década de 1970, o sistema de controle de tráfego aéreo brasileiro foi sendo progressivamente dotado de radares, o que permitiu um monitoramento mais eficiente das aeronaves.
Além disso, o acidente também levou a uma revisão dos procedimentos de treinamento de pilotos e à implementação de novos equipamentos de navegação a bordo das aeronaves. A caixa-preta, que se tornou obrigatória em todos os voos comerciais após o acidente, se tornou uma ferramenta fundamental para a investigação de acidentes aéreos.
Um capítulo fechado, mas não esquecido
O acidente do YS-11 da Vasp em Petrópolis é um capítulo trágico da história da aviação brasileira. A falta de respostas definitivas e a complexidade do caso o transformaram em um dos mistérios mais intrigantes da aviação civil. Apesar de terem se passado décadas desde o ocorrido, o acidente continua a ser lembrado e estudado por especialistas e entusiastas da aviação.
A tragédia do Samurai serve como um lembrete da importância da segurança operacional e da necessidade de aprimoramento constante das tecnologias e procedimentos de segurança na aviação civil. A busca por respostas para este mistério continua, mas o legado do acidente é a constante busca por um transporte aéreo cada vez mais seguro e eficiente.
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