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Por que caímos: uma crônica do engatinhar à maturidade

*Mario Donato D’Angelo médico e pesquisador

Foto: Divulgação
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Antes de dizer que a queda é uma vilã, convém lembrar que ela foi, e é, a primeira professora do ser humano.

Quando o bebê descobre o engatinhar, ele não está só brincando de ir e vir. Está iniciando o seu diálogo com a força da gravidade, essa força invisível que rege a vida e as quedas. A criança aprende a perceber seu corpo (propriocepção,) em movimento, enquanto seu cérebro ajusta, com precisão surpreendente, o que mais tarde chamaremos de equilíbrio.

É uma fase crucial. Sem cair, o bebê não aprende a ficar de pé. Aliás, cair nessa idade não é acidente. É currículo obrigatório.

E logo após sustentar-se em pé, segurando um móvel aqui ou ali, ele dá os primeiros passos e tropeços. Curiosamente, quase ao mesmo tempo, começa a falar. Isso não é coincidência. A marcha bípede e a fala se desenvolveram lado a lado no processo evolutivo.

Quando o ser humano ergueu-se do chão, não foi só para alcançar frutos mais altos ou escapar de predadores. A postura ereta levou a laringe a descer no pescoço, ampliando as possibilidades vocais. Assim, falar e caminhar são primos evolutivos. E, claro, ambos exigem prática. Para caminhar, tropeçar é inevitável. Para falar, errar palavras também.

A queda infantil, portanto, é mais que aceitável. É essencial! Por isso, é fundamental permitir que a criança explore, mova-se, tropece, e aqui vai um conselho simples e poderoso: Deixe a criança andar descalça!

Mas há um paradoxo moderno.

As mães, por amor, por zelo, por ternura e, não raro, por brincadeira carinhosa, começam a vestir os bebês como pequenos adultos.

Roupinhas encantadoras, sapatinhos duros, miniaturas de gente grande.

Claro, isso é inofensivo em ocasiões especiais. Quem resiste a uma criança vestida com elegância?

Mas no dia a dia, é preciso lembrar: a criança não é um adulto em miniatura. Ela é um projeto em desenvolvimento, um ser em construção dinâmica. Na verdade, um ser tão complexo que precisou nascer antes do tempo.

Os estudiosos da evolução chamam isso de exterogestação, o bebê humano nasce antes de estar plenamente pronto, ao contrário de muitos mamíferos, ele continua sua “gestação” fora do útero, nos braços da mãe e no chão do mundo.

Por isso, ele precisa de liberdade para crescer. Precisa cair para aprender a levantar.

Na velhice, entretanto, a queda volta a ser parte da vida, mas por uma razão oposta. A queda do idoso não é um aprendizado. É um desaprendizado.

Perdeu força muscular (sarcopenia), perdeu sensibilidade plantar, perdeu agilidade e, muitas vezes, perdeu a confiança no próprio movimento.

A queda na velhice não é um rito de passagem. É uma fatalidade, mas que pode ser evitada.

Ao contrário do que muitos pensam, as quedas não são uma sentença inevitável. São, na verdade, um lembrete. Um aviso do corpo que diz:

“Você precisa se preparar para continuar de pé.”

E o preparo começa em qualquer idade.

Treinar o equilíbrio, fortalecer músculos, manter a mobilidade e a propriocepção não são vaidades. São atos de autonomia.

E, curiosamente, no fim das contas, o bebê e o idoso são o mesmo ser em duas estações da vida: Enquanto o bebê cai porque ainda não sabe, o idoso cai, porque o corpo esqueceu...

Mas em todas as idades, é possível, e necessário, ficar de pé.

Porque, esse é o grande ciclo da vida: cair, levantar e continuar caminhando...

*Ps: Se você se interessar por esse conteúdo, te convido    a me visitar no    Instagram  @mariodonato.dr

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