O Natal é uma época repleta de magia, alegria e amor, marcada por encontros com amigos e familiares que tornam a data ainda mais especial. Embora presentes e toda a comilança sejam parte da tradição, o verdadeiro significado desta data vai muito além. Trata-se de celebrar, sob a ótica religiosa, o nascimento de Jesus Cristo, além de praticar o bem, estendendo a mão ao próximo e cultivando a caridade.
Inspirado por esse espírito de solidariedade, um grupo de pessoas de Petrópolis criou a Paz no Prato, uma iniciativa que promove uma ceia vegana para levar amor e alimento a quem está em situação de rua.
Patrícia Vieira da Cunha, nutricionista e uma das coordenadoras do projeto, junto com Claudia Luiza Cabral Bogea Gschwend, Elisabeth Ziehe Andriolo e Livia Vieira da Cunha Monteiro, conta que a ideia surgiu em 2018, após a sua participação no primeiro CONGREMOVE, Congresso Anual do Movimento Pela Ética Animal Espírita (MOVE), realizado na cidade.
“Na ocasião eu tinha uma empresa de congelados vegetarianos e veganos, e ofereci o lanche para o congresso, mas acabou que participei até da confecção do almoço, e vendo tanta gente reunida em defesa da vida animal e sendo eu nutricionista, me inspirou a realizar algo nesse sentido. Então em 2019 começamos nossas atividades em março, e todo mês levávamos refeição para crianças em um trabalho realizado pelo Centro Espírita Missionários da Caridade, essa parceria durou 1 ano. O motivo de realizar a ceia já era um sonho antigo, sempre quis no mês do Natal viver mais voltada para o amor ao próximo, e se pudesse incluir o amor para todas as espécies seria melhor ainda. Os moradores de rua sempre foram pessoas que me tocaram muito pela sua invisibilidade social”, conta.
A primeira edição do projeto aconteceu em 2019. Entretanto, devido à pandemia, não pôde ser realizada em 2020 e 2021. O retorno ocorreu em 2022, e este ano marca a 4ª ceia em seis anos de atuação. O evento, que acontece neste sábado (07), será realizado no calçadão do Shopping Center Pedro II, localizado na Rua do Imperador, 288, no Centro de Petrópolis. A ceia está programada para começar às 21h.
A ceia
O projeto transforma um local da cidade em um verdadeiro cenário natalino, com coral que canta músicas tradicionais e um cardápio que encanta a todos que o degustam.
Os organizadores desejam proporcionar uma ceia que vá além da simples distribuição de quentinhas. Eles almejam que as pessoas em situação de rua, assim como qualquer um que passe pelo local, sintam-se acolhidas e convidadas a participar da celebração.
“Montamos um mini restaurante na calçada do Shopping Pedro II, servimos a refeição em isopores forrados, e colocamos mesas e cadeiras com toalhas e enfeites de Natal. Convidamos corais para se apresentar, e temos sempre uma obra de arte, oferecida por um de nossos voluntários, Fernando Menezes, que é artista plástico. É um clima de festa, os componentes do coral cantam e depois se alimentam com a gente, sentados junto com a população de rua e vira uma festa da verdadeira fraternidade multiespécie”
Segundo Patrícia, a ceia vegana representa um ato de resistência contra a opressão de humanos e não-humanos, destacando a invisibilidade social do sofrimento causado pela criação de animais para consumo humano. O cardápio deste ano inclui canudinhos de homus tahine, arroz colorido e quibe de proteína de soja, acompanhado de suco. Para a sobremesa, será servido banoffee no pote.
“A culinária vegana é muito rica em sabores e naturalmente nutritiva pois utiliza-se alimentos ricos em vitaminas, minerais, proteínas, gorduras do bem e compostos bioativos. Estamos há quase 6 anos realizando esse trabalho e a aceitação tem sido sempre excelente. Esse é um dos nossos objetivos, demonstrar como é saboroso, saudável, compassivo e sustentável comer alimentos à base de plantas, especialmente no Natal, que se comemora o aniversário de Jesus. Costumamos dizer, no Natal não coma o presépio, considere o valor das refeições à base de plantas”
O projeto, em média, produz cerca de 300 refeições por edição, sendo sempre um jantar muito elogiado e consumido por completo. A logística é complexa, já que os organizadores montam um verdadeiro restaurante ao ar livre. Sendo assim, é necessário todo cuidado para garantir que a comida seja servida quente, nutritiva e dentro dos padrões de segurança alimentar.
“Preparamos os alimentos com a ajuda de voluntários, parte na minha casa e parte em nossa pequena cozinha que fica na Rua Teresa, 72, nos fundos de um estacionamento. Esse espaço foi generosamente cedido pelos amigos Raul Veiga e Edir Mello, que são os proprietários do estacionamento. É onde cozinhamos, distribuímos cestas básicas, fazemos oficinas de alimentação vegana com as famílias que nos acompanham e algumas festas por ano”, compartilha Patrícia.
Apoio
A Paz no Prato conta, ao longo do ano, com o apoio de pessoas físicas e jurídicas que contribuem para a realização de suas atividades. Para o Natal e outras ações que envolvem o preparo de refeições, o grupo sempre divulga uma lista com os ingredientes necessários, recebendo tantas doações quanto recursos para adquirir.
“Nossas atividades se desenvolvem durante todo o ano e tem no Natal a sua culminância. Todo mês fazemos uma ação que se chama Paz No Prato vai à praça, que é o preparo de 50 quentinhas veganas e 30 sanduíches que distribuímos na Praça da Inconfidência para a população de rua e qualquer pessoa que se interesse em receber essa refeição. Durante a ação divulgamos que são alimentos 100% vegetais e agora eles já nos conhecem e elogiam a refeição, isso é tudo que precisamos para que possamos nos manter firmes nesse caminho”
Patrícia enfatiza que o maior privilégio desses eventos é estar rodeado de pessoas, compartilhando histórias e espalhando amor.
“A Paz no Prato nos abre a porta para uma convivência muito ampla, são os voluntários, são as famílias que estão conosco, são as pessoas que vivem na rua, é um universo de possibilidades de troca. Para nós é um privilégio ter contato com tantas pessoas e levar a mensagem de que a natureza somos todos nós, humanos e não humanos, todos os seres da criação buscando juntos um mundo onde a justiça e a paz seja para todos”, conclui.
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