Bruna Nazareth - especial para o Diário
O Brasil se destaca por sua diversidade de crenças religiosas, abrigando uma variedade de estabelecimentos, os quais não incluem apenas igrejas, mas também templos, sinagogas, centros e terreiros. Segundo dados do Censo 2022 do Estatuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem uma média de 286 estabelecimentos religiosos para cada 100 mil habitantes.
Apesar disso, o Brasil continua enfretando diversos episódios de discriminação e violência motivados pela intolerância religiosa, que vão desde atos de violência fisica, psicológica até práticas de exclusão e preconceito. Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e do “Disque 100” revelam que, no primeiro semestre de 2024, foram registrados 1.698 violações da liberdade de religião ou crença. Em Petrópolis, foram registradas 10 violações, 7 denúncias e 6 protocolos de denúncia relacionados à liberdade de religião ou crença entre 1º de janeiro a 20 de outubro de 2024.
A cartilha "Como garantir a igualdade e combater a discriminação religiosa?" recém publicada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), em colaboração com a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), define a discriminação religiosa como qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência motivada por razões religiosas que visam anular ou deficiências o reconhecimento, usufruto ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais em condições de igualdade.
Diante desse cenário, é fundamental promover a igualdade e o respeito à diversidade, garantindo a proteção dos direitos humanos. E um dos caminhos para fomentar a igualdade, cultivar o respeito e a empatia, é através da educação desde a infância.
Como as famílias podem educar seus filhos sobre diferentes religiões?
Criar um filho é uma tarefa desafiadora, pois envolve os preparar para o mundo, os ensinando a serem pessoas melhores e conscientes da importância de ajudar e respeitar os outros.
Nesse contexto, um assunto que pouco se comenta é que o preconceito e a discriminação podem se desenvolver desde a infância. O comportamento dos adultos, principalmente dos familiares, serve de exemplo para as crianças, que são observadoras e absorvem as atitudes ao seu redor. Eles percebem como os adultos tratam os outros, que podem ser de diferentes etnias, gênero, deficiência ou com uma crença diferente e, com o tempo, tendem a reproduzir essas atitudes, sejam elas positivas ou negativas.
Com o objetivo de auxiliar os pais no contexto das religiões, a psicopedagoga Viviane Leal, orienta como os responsáveis podem introduzir o conceito de diversidade religiosa às crianças de maneira lúdica e educativa.
Atividades lúdicas: Os pais podem usar jogos, como quebra-cabeças ou jogos de tabuleiro, que incluam símbolos e histórias de diferentes religiões.
Contação de histórias: Ler livros infantis que abordem diferentes tradições e festas religiosas de forma leve e acessível.
Artes e Ofícios: Promover atividades de arte onde as crianças possam criar símbolos religiosos de diversas culturas.
Os pequenos são naturalmente curiosos sobre tudo e todos, o que pode levar os pais a enfrentar situações em que seus filhos expressam curiosidade ou dúvidas sobre religiões diferentes da família. Nesse caso, é possível abordar essas questões de maneira construtiva e educativa, como orienta a especialista. Para lidar com essas situações, os pais podem adotar as seguintes estratégias:
Respostas claras e ensaiadas: Ao receber perguntas, responder de forma honesta e adequada à idade da criança, usando linguagem simples e exemplos claros.
Exploração conjunta: Se a criança expressar curiosidade, os pais podem pesquisar juntos sobre a religião em questão, utilizando livros, vídeos ou até mesmo entrevistas com amigos da família que praticam diferentes crenças.
Incentivar a reflexão: Auxiliar as crianças a pensar sobre as semelhanças e diferenças entre as religiões, ajudando-as a entender que cada crença tem suas próprias histórias e valores.
Leal destaca algumas práticas e abordagens que as famílias podem adotar para ensinar às crianças sobre o respeito e a empatia por diferentes religiões, evitando o desenvolvimento de preconceitos.
Discussão aberta: Criar um ambiente onde os filhos se sintam à vontade para fazer perguntas sobre diferentes religiões, promovendo diálogos sinceros.
Visitas a outros locais de culto: Se possível, levar as crianças para conhecer templos, sinagogas, mesquitas ou igrejas e explicar o que acontece nesses lugares.
Modelagem de comportamento: Os pais devem demonstrar respeito pelas crenças dos outros em suas conversas e interações cotidianas.
“Essas abordagens podem ajudar as crianças a crescerem em um ambiente que valoriza e respeita a diversidade, promovendo a empatia e a aceitação desde cedo”, conclui.
*Com informações da Agência Gov e do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC)
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