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Quando a Depressão contagia toda uma família!

Lenilson Ferreira - Psicanalista

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

É comum que, quando há uma pessoa na família que tenha depressão e não esteja em tratamento, a atmosfera psíquica que será criada dentro desta família venha a contagiar todos os membros daquela casa. Embora a depressão, naturalmente, não seja transmitida por contágio, seus efeitos são potencialmente destrutivos à saúde mental de todos à sua volta.

A palavra contágio é utilizada aqui no sentido figurado. A ideia é apresentarmos o impacto que a depressão e a ansiedade costumam causam em uma família quando um dos seus membros é atingido por uma ou por ambas as doenças.

“Nós não entendíamos o que estava acontecendo e costumávamos reagir muito mal quando víamos nossa filha encolhida pelos cantos”. Este depoimento é uma bela ilustração de como a ansiedade e a depressão afetam as relações internas das famílias, principalmente antes que se tenha um diagnóstico.

O acesso a informações qualificadas sobre as doenças emocionais é fundamental, principalmente para superar o primeiro ciclo dessas doenças a fase do desconhecimento. Pessoas que têm mais de 60 anos afirmam constantemente que informações sobre doenças emocionais não circulavam comumente fora dos círculos especializados. “Ninguém sabia por que eu tinha aquele comportamento tão estranho. Eu mesmo achava que aquele era o meu jeito de ser,” diz Davi, 72 anos. Seu diagnóstico de depressão chegou pela primeira aos 40 anos de idade. “Tudo mudou depois que eu tive o diagnóstico”, ele diz.

A fase do desconhecimento é uma fase extremamente dolorosa para a pessoa que sofre. Paralelamente, todos os que convivem direta e continuamente com esta pessoa também sofrem. O desconhecimento não blinda ninguém da dor da depressão e da ansiedade. Ao contrário do que se costuma afirma, a ignorância não é uma bênção. É muito comum ouvirmos pessoas afirmando exatamente o oposto. “Eu gostaria de ser um ignorante porque os ignorantes sofrem menos”. Esta crença causa ainda mais mal estar na ceara da saúde mental. Frase emblemática da Fase do Desconhecimento “A Ignorância é uma Bênção”.

Um fenômeno que se difundiu mundo afora por volta do início do século XXI torna a fase desconhecimento e as fases seguintes muito mais complexas do que poderiam ser. Este fenômeno está basicamente ligado à sensação de que sabemosentendemos aquilo que claramente não sabemos e nem entendemos. A isto se deu o nome de Efeito Dunning Kruger um fenômeno comportamental que faz uma pessoa achar que pode falar sobre qualquer coisa, inclusive sobre aquilo de qual não tem o menor conhecimento. Os Psicólogos David Dunning e Justin Kruger concluíram que isto acontece principalmente por causa de escolhas ruins que são feitas devido à arrogância que leva a pessoa a sentir uma superioridade ilusória, superestimando a si mesma e não percebendo seus próprios erros. As pessoas vítimas desta síndrome não conseguem lidar com seus próprios fracassos e com a realidade de não serem tão capazes quanto pensam.

A origem (etimologia) da palavra arrogância nos dá algumas pistas de como a Síndrome Dunning-Kruger age na mente das pessoas incautas. A palavra arrogância surgiu no latim derivada do verbo arrogare que significa ‘atribuir a si mesmo’ ou ‘apropriar-se de’. Como se vê, a ideia é de que a pessoa atribui a si mesma algo que não o possuiu (o conhecimento, a informação). A arrogância estimula o surgimento de algo muito perigoso quando se trata do enfrentamento de doenças emocionais a ignorância. Ignorar significa não saber. Em Latim o prefixo in indica negação e gnarus significa sabedor ou conhecer. O ignorante é aquele que não sabe. Entretanto, atualmente, pode sentir-se e frequentemente se sente sabedorconhecer precisamente daquilo que não sabenão conhece. Arrogância produz ignorância que produz outra coisa tão ou mais nefasta o preconceito. Em Latim, praeconceptus remete a uma ideiaopinião formada antes que se tenha conhecimento sobre algo. Pronto! Está formada a mortífera trilogia ArrogânciaIgnorânciaPreconceito. Nos casos de doenças emocionais principalmente esta combinação pode levar a graves consequências uma vez que impede ou limita a procura por solução para as dores que se sente.

Para avançarmos além da Fase do Desconhecimento é muito importante que as pessoas que convivem com quem sofre com uma doença emocional se libertem de suas impressões equivocadas. Estas impressões costumam incluir ideias de que a pessoa não está bem porque não se esforça, de que o doente sente é parte de sua personalidade e algumas outras crenças limitadoras. O antídoto principal contra o desconhecimento é a informação o que envolve o necessário processo de educação.

É aqui que, em um contexto ideal, entra o conceito de Psicoeducação. O objetivo é fornecer informações e desenvolver habilidades para que as pessoas aprendam como lidar com quem sofre de doenças emocionais, o que devem fazer e o que não devem fazer. Este é o objetivo central deste livro. Tenho exercido este trabalho há mais de 20 anos com encontros, palestras e rodas de conversas nos mais variados locais. De bibliotecas a clubes sociais, de templos religiosos a empresas e, principalmente, em escolas. Professores são canais muito eficientes de divulgação de informações e conhecimentos. Eles podem auxiliar na luta em prol da saúde mental detectando sinais psicopatológicos precocemente e orientar a família a buscar auxílio profissional. Estima-se que uma informação compartilhada por um educador atinja anualmente ao menos 1.000 pessoas considerando-se alunos e familiares, estimativa que pode aumentar muito mais dependendo do contexto em que atua o profissional, sua atuação nas redes sociais e outros aspectos.

No tempo em que as informações sobre saúde mental não circulavam tão livremente como hoje, a tendência era de que a fase do desconhecimento durasse muito mais do que dura atualmente. Isto não significa, naturalmente, que em plena terceira década do século XX não haja multidões que não têm a menor noção das causas dos sofrimentos psíquicos daqueles que estão cotidianamente à sua volta.

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