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Quando a Terra se Estremeceu e o primata se Levantou

*Mario Donato D’Angelo médico e pesquisador

Foto: Pixabay
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Muito antes de qualquer palavra, o mundo falou com terremotos.

Foi um suspiro profundo da crosta terrestre que, um dia, na África, partiu o chão ao meio como quem abre um livro.

Nascia ali o Vale do Rift, uma cicatriz geológica, uma rachadura que empurrou o verde das florestas para um lado e deixou o outro lado nu, seco, ensolarado.

Foi então que alguns primatas, antes protegidos pelas sombras das copas, desceram das árvores. E ali, na planície exposta, o perigo era visível e a salvação dependia de enxergar longe.

Ficar de pé não foi uma escolha. Foi uma resposta. Uma tentativa de manter os olhos acima dos arbustos e o coração a um passo à frente da morte.

O bipedalismo nasceu do susto. Mas também da fome. A fartura das florestas havia se afastado junto com a sombra das árvores. E agora era preciso andar. Andar muito!

Buscar frutos, raízes e caça, espalhados e distantes.

O corpo, esse engenheiro de si mesmo, descobriu que andar com dois pés em linha reta gastava menos energia do que saltar entre galhos ou se arrastar em quatro patas.

Levantou-se, assim, não apenas para ver, mas para resistir.

A verticalidade não foi apenas um triunfo, foi um truque para viver com menos.

Para que pudéssemos andar como andamos, a anatomia teve que se adaptar.

A pélvis, aquela bacia óssea que sustenta o tronco, precisou se transformar. Tornou- se mais larga na

horizontal e verticalmente ficou mais curta e compacta e também mais inclinada para frente. Era preciso garantir equilíbrio, estabilidade e suporte para as vísceras

Mas como tudo na evolução, cada conquista cobra um preço. E o preço da marcha ereta foi cobrado no corpo das mulheres.

O parto humano, que já era mistério, tornou-se desafio. Gerou um verdadeiro dilema evolutivo: como fazer o

Bebê com a cabeça grande passar por uma pélvis agora estreita?

O bebê, de cabeça grande e a mente em expansão, teve que aprender a girar dentro da mãe. Sim, girar, como um dançarino apertado tentando passar por um palco estreito.

A pélvis humana tornou-se uma engenharia de

compromisso, sustentando o corpo de pé durante o dia e entrelaçando destinos à noite, para que a espécie continuasse a nascer... O que nos outros primatas, o nascimento é um gesto simples, no humano não é, o bebê precisa realizar um malabarismo silencioso e preciso: gira dentro do canal vaginal, torce os ombros, molda o crâneo mole às curvas da pélvis e sai de costas para a mãe, cego, frágil e dependente

É o primeiro movimento coordenado da vida, e o mais arriscado... arriscado para ambos!

Esse parto, tortuoso, perigoso, monumental não podia ser solitário.

Foi necessário que alguém estendesse a mão à mãe. Foi necessário que alguém olhasse e compreendesse a dor do outro. E isso, fez que o nascimento deixasse de ser um ato solitário

Foi ali nesse momento, que nasceu a empatia!

Foi ali que um, se inclinou um pouco mais em direção ao outro.

Aquele bebê, que nasce inacabado, antes do tempo, frágil, inútil por anos, não podia viver sozinho.

Precisou de colo. De cuidado. De atenção. De organização social.

E foi no ato de dar a luz, no parto humano, que talvez tenha surgido o primeiro laço social profundo.

Não no fogo. Não na pedra. Mas sim, no momento em que uma mulher gritou, e alguém lhe segurou a mão.

E com isso, a espécie se transformava. Não só porque andava, mas também, porque compartilhava.

Mesmo hoje, com hospitais, anestesias e avanços, o parto humano, é sempre desafiador. Ainda há dor. Ainda há desespero e renascimento. Mas há também, sempre, alguém ao lado...

As mulheres, fundaram a sociedade com o corpo e a dor, foram elas, que sustentaram o futuro com o fruto nas mãos.

Portanto, essa crônica é dedicada a elas, às mulheres do mundo porque todas são mães: mães da vida, do afeto e do cuidado. São faróis na tempestade e vozes que não se dobram. Por isso, elas merecem o nosso respeito, mesmo quando o mundo fecha os olhos e finge não ver...

Ps: Se você se interessar por esse conteúdo, te convido a me visitar no Instagram @mariodonato.dr

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