Saúde Mental Lenilson Ferreira Psicanalista
O Brasil viveu no último fim de semana a segunda e última fase do segundo maior vestibular do mundo, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Mais de quatro milhões de pessoas fizeram as provas que são um autêntico rito de passagem entre o Ensino Médio e o Ensino Superior. Um forte stress emocional marca este exame, pois milhões de sonhos e de vidas são influenciados por seus resultados.
A palavra vestibular vem do latim vestibulum que significa passagem. Este é precisamente o significado do Enem: passagem para uma nova fase da vida ao entrar na faculdade ou para a repetição de mais um longo ano de preparação para aqueles que não tiveram êxito em atingir seus objetivos.
O exame é um drama existencial principalmente para quem precisa conseguir uma vaga em uma faculdade pública porque não pode pagar os custos do ensino superior privado.
Os cinco cursos mais concorridos em 2023 foram Medicina, Engenharia de Computação, Direito, Ciência da Computação e Engenharia Civil. Naturalmente, os candidatos a ingressar nas instituições públicas foram os mais submetidos a pressões emocionais.
As famílias, infelizmente, costumam tornar a vida desses jovens ainda mais difíceis. Ansiosas por verem o sucesso de seus filhos, tendem a fazer com que o stress emocional chegue às raias do insuportável.
“Meus pais passaram o ano todo falando no Enem. Diziam que eu não estava estudando o suficiente e que muitos outros candidatos estavam se preparando muito melhor do que eu. Eu me sentia um bosta o tempo todo”, disse H., um jovem de 16 anos aluno do terceiro ano de uma escola privada em Petrópolis.
Os pais de H. provavelmente entendem que pressionar o filho é melhor maneira de motivá-lo. Ledo engano. Esta é uma fórmula infalível para gerar ansiedade, depressão ou outras doenças emocionais fortemente incapacitantes.
Em janeiro saberemos se este jovem conseguirá realizar o sonho de estudar em uma universidade pública ou se enfrentará o duro desafio de estudar mais um ano as matérias do Ensino Médio e, mais uma vez, passar pelo duro teste do Enem.
Imaginem quantos talentos poderão ser desperdiçados ou verem sua caminhada acadêmica se complicar por falta de apoio emocional por parte de suas famílias, amigos e professores.
“Você não servirá para nada!”. Sabe quem ouviu esta frase de um professor? O Físico Albert Einstein, uma das mentes mais brilhantes da ciência de todos os tempos. Ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1922, depois de ter sido indicado nada menos do que 62 vezes desde 1910. Foi sua teoria que permitiu usarmos atualmente o GP. Este gênio enfrentou muitas dificuldades na escola até chegar à faculdade.
Dois outros exemplos mais recentes são Sergey Brin e Larry Page, os fundadores do Google, uma das marcas mais valiosos do mundo atualmente. O caminho dos dois para o sucesso não foi tão simples. Chegaram, inclusive, a ouvir que o Google era apenas um projeto de doutorado e que não tinha chances de ter sucesso comercial.
Aos jovens que não conseguirem atingir seus objetivos no Enem 2024, lembro a famosa fase do Henry Ford, o criador do primeiro automóvel comercializado em massa no mundo. “O insucesso é apenas uma oportunidade para começar de novo com mais inteligência”.
Acolher e apoiar. Buscar entender e estimular. Evitar criticar apenas sob o viés negativo. Este é o caminho para pais, amigos e professores criarem um contexto emocionalmente saudável para os vestibulandos. É fundamental entender que o que falamos tem poder de influenciar toda uma vida, principalmente quando sabemos que 83% daqueles que fizeram o Enem este ano têm até 19 anos de idade.
É importante lembrar também que, como a população brasileira tem vivido cada vez mais nas últimas décadas, a ideia de “estar perdendo tempo” para um jovem com menos de 20 anos de idade não significa mais o que significava em passado recente. Qual a diferença entre entrar na universidade aos 18 ou aos 19 anos?
Charles Darwin, o famoso criador da Teoria da Evolução, desistiu da carreira médica e ouviu de seu pai: “Você só liga para caça e cachorros.” Em sua biografia, Darwin escreveu: “Eu era considerado por todos os meus mestres e por meu pai um garoto comum, intelectualmente bem abaixo do padrão médio.”
Louis Pasteur, cujas descobertas científicas levaram à redução da mortalidade por febre puerperal e à primeira vacina para a raiva, é considerado um dos três principais fundadores da microbiologia. Ele foi rotulado como um aluno medíocre em Química e foi classificado em 15º lugar entre 22 alunos da disciplina em seu bacharelado. Suas idéias eram consideradas tolices por seus professores e colegas de faculdade.
Após conhecer a vida estudantil desses homens que a humanidade se habitou a chamar de gênios, devemos ter muito cuidado quando criticamos os jovens que nos cercam. “A diferença entre o possível e o impossível está na vontade humana”, afirma Pasteur.
Vida longa e próspera aos nossos jovens depois do Enem!
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