Número de casais que não querem filhos cresce mais a cada ano
Mariana Machado estagiária
Com o passar dos anos, cada vez mais casais optam por não ter, ou ter menos, filhos, o que impacta diretamente na natalidade das cidades, e futuramente na economia da mesma, principalmente em Petrópolis, em que 21,3% da população tem mais de 60 anos, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quando 59.429 dos petropolitanos eram idosos. A população no último censo era de 278.881 pessoas no município.
Em 2018, foram registrados o nascimento de 4.234 bebês em Petrópolis, e em 2024 o número caiu em mais de mil crianças, quando 3.145 nasceram. No estado o impacto é ainda maior, uma vez que 2018 registrou 241.427 nascimentos, e no ano passado caiu mais de 30%, chegando a 165.830. Neste ano, 1.534 bebês já nasceram em Petrópolis, e 84.809 no estado.
A psicóloga clínica, Isabella Stutzel, diz que tem observado que a decisão de ter ou não filhos atualmente passa por um filtro muito mais criterioso do que no passado. “Os principais motivos que escuto no consultório são questões financeiras, o desejo de manter a liberdade pessoal e, especialmente no caso das mulheres, o cuidado com o corpo, saúde mental e estilo de vida”, afirma.
Isso porque ter um filho envolve um investimento emocional enorme, mas também um investimento financeiro contínuo. “Além disso, vejo também muitos casais que valorizam a qualidade da relação a dois, o tempo juntos, a liberdade de viajar, estudar, crescer na carreira. E a chegada de um filho muda completamente essa dinâmica, o que não é um problema em si, mas uma escolha que precisa ser muito bem pensada”, completa.
No caso das mulheres, ela conta que pode ser ainda mais desafiador ter filhos, porque muitas delas se sentem sobrecarregadas, julgadas e não tem uma rede de apoio, e “isso tudo impacta muito na saúde mental e faz com que algumas prefiram não seguir esse caminho”, esclarece.
Questionada se ela vê que as pessoas se preocupam com possíveis julgamentos da sociedade ao optar por não ter filhos, e psicóloga ressalta novamente a situação das mulheres, que muitas vezes se sentem culpadas quando escolhem não ter filhos, principalmente por conta do famoso discurso de que “ser mãe é a maior realização de uma mulher”.
“Mesmo quando os casais estão certos da sua decisão, ainda assim são afetados emocionalmente pelo julgamento da sociedade”, afirma a psicóloga.
Além disso, ela ressalta que em locais como Petrópolis, em que há um custo de vida alto, muitos casais não se sentem seguros para assumir esse tipo de responsabilidade. “Percebo que nos últimos anos, Petrópolis, assim como todo o Brasil, tem enfrentado um aumento no custo de vida, dificuldades no acesso a serviços públicos (como creches e escolas de qualidade), além de problemas de segurança. Tudo isso pode entrar no “cálculo” da decisão quando se está pensando em ter filhos. O contexto em que um filho vai ser criado importa e quando a cidade não oferece suporte, muitas famílias preferem adiar ou até desistir desse desejo”, conclui Isabella.
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