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quarta-feira, 02 de abril de 2025


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Renan Ferreirinha, autor da lei que proíbe celulares nas escolas, conversa com o Diário

“A melhor aposta que um jovem pode fazer é a aposta na educação”, disse o secretário

Foto: Alan Costa
Foto: Alan Costa

Mariana Machado estagiária

O Secretário Municipal de Educação do Rio de Janeiro e Deputado Federal licenciado, Renan Ferreirinha, visitou o Diário de Petrópolis e falou sobre a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas, de sua autoria, além de outras medidas e ações que considera importantes na educação dos brasileiros.

A lei teve início na cidade do Rio de Janeiro, e foi expandida por iniciativa dele para todo o país. A medida superou questões ideológicas, e foi uma pauta suprapartidária, ou seja, envolveu votos de membros da esquerda, da direita, do centro, o que mostra o entendimento da importância da lei por parte dos parlamentares, um “raro consenso suprapartidário num país extremamente polarizado”, ressaltou o secretário de educação.

Diário de Petrópolis: Qual foi a motivação para criar a lei que proíbe o uso de celulares nas escolas, e quais os benefícios que o senhor percebeu depois que a lei foi posta em ação?

Renan Ferreirinha: Faço parte de um grupo de secretários e ministros de educação pelo mundo, e a gente se encontra uma vez por ano na Europa, e começamos a compartilhar um desconforto coletivo, onde tínhamos percebido que essa situação dos celulares precisava ser contida, principalmente nas nossas escolas, em que estamos vivendo uma epidemia de distrações que tem impactado principalmente as nossas crianças e jovens.

Pensando nisso, eu fiquei muito engajado em poder fazer alguma diferença pra essa pauta, e veio um relatório da Unesco em 2023, em que o grande tema central foi clamar que governos tomassem ações contra esse uso excessivo de celulares nas escolas. Com ele em mãos, levei ao prefeito Eduardo Paes, que topou que nós fôssemos a primeira cidade do Brasil a proibir o uso de celulares nas escolas durante todo o período escolar.

Primeiro, acredito que na sala de aula não faz nenhum sentido o professor estar tentando dar uma aula e o aluno estar no TikTok, Instagram, jogo do tigrinho, com muito desrespeito e perda de tempo, tanto para o professor quanto para o aluno. Segundo, que no intervalo também é muito prejudicial, porque deve ser um momento de interação e convivência social.

Foi por isso que a gente adotou essa medida, que deu muito certo no Rio de Janeiro. Tivemos resultados incríveis acadêmicos, melhoria de até 53% da performance dos alunos depois da proibição, em matemática, além de queda nos relatos de bullying e cyberbullying nas escolas.

Isso me motivou a reassumir o mandato de deputado federal para poder contribuir nacionalmente com essa pauta. Eu fui relator dessa medida no Congresso Nacional. O meu texto foi aprovado na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e sancionado integralmente pelo presidente Lula, constituindo, então, a Lei 15.100 de 2025, que proíbe os celulares em todas as escolas do Brasil, salvo para uso pedagógico ou motivo de saúde.

A gente viu que os professores apoiaram muito desde o começo, os profissionais de educação, de uma maneira geral, porque sabem do desafio que é tentar educar alguém quando não se tem a devida atenção. Os responsáveis também apoiaram, mas teve um ou outro, que chiou um pouco, falando, “ah, eu quero poder falar com o meu filho, com a minha filha, a hora que eu quiser”, e a gente respondia, “basta ligar para a escola”.

DP: O secretário veio conversar também com profissionais da educação, sobre a implantação da lei no município. Como serão essas conversas?

RF: A gente vai ter uma conversa com professores hoje (ontem) que já acompanham o nosso trabalho como secretário de educação na cidade do Rio, como deputado federal. Eu também tenho conversado com o prefeito Hingo Hammes sobre essa questão. Nossa lei foi pioneira, e é importante que todos os municípios se preparem para isso.

DP: Por meio dessa conversa, caso haja algo que precise melhorar, o senhor pretende falar com vereadores, com o prefeito ou com as próprias escolas?

RF: Acho que as próprias escolas têm totais condições de conseguir fazer a melhor implantação possível. Antes da lei nacional, não se tinha um regramento que determinava o que deveria acontecer. Hoje, a gente tem um regramento muito claro, e existe um desdobramento dessa lei, através de cartilhas que o Ministério da Educação tem colocado, sobre o bom uso das tecnologias, sobre como conduzir quando há uma insistência por parte do aluno, ou seja, é um processo de conscientização muito importante. O que a gente está fazendo agora no Brasil é uma grande adaptação.

DP: Quais outras iniciativas de sucesso foram implantadas na educação pelo senhor?

RF: Acho que o caso dos GETs (Ginásios Educacionais Tecnológicos) é muito interessante. Nós temos 202 GETs criados na cidade do Rio, mais de um quinto da nossa rede de ensino fundamental, das 1.557 escolas de ensino fundamental que estão na cidade. Até 2028, o nosso plano e promessa para a cidade é poder chegar em 500 GETs.

Os GETs são escolas em tempo integral, em tempo integral, onde o aluno se prepara para os principais desafios que nós precisamos hoje no mercado de trabalho, e na nossa sociedade. E é muito embasada pela tecnologia. A gente tem celular, tablet, impressora 3D, cortadora laser, mas tudo com intencionalidade pedagógica. Sempre com intencionalidade pedagógica. Isso é o mais importante para a gente, e a gente não abre mão disso.

Mas, para além disso, a gente criou a Olimpíada Carioca de Matemática, que hoje é a segunda maior olimpíada de matemática do Brasil, só atrás da própria Olimpíada Brasileira de Matemática, das escolas públicas. Temos mais de 400 mil alunos participando dessa Olimpíada, e a principal premiação é uma viagem para a Disney e para a NASA, e todo ano tem essa premiação. Você imagina, o filho do Complexo do Alemão, da Rocinha, do Vidigal, da Cidade de Deus, indo para a Disney, e para a NASA, porque mandou bem na Olimpíada de Matemática. Não tem preço, tem um simbolismo muito forte.

Também criamos 25 mil novas vagas de creche, que é um assunto que eu defendo muito, porque criar vaga de creche é ajudar a família que precisa desse apoio, a criança que está no seu momento mais importante de desenvolvimento cognitivo, e geração de emprego.

DP: O senhor também é cofundador do Mapa Educação. Qual é a importância dele para a educação brasileira?

RF: Eu sou cofundador, junto com alguns amigos, a gente começou com o mapa em 2013, através do manifesto Mapa do Buraco, que foi um manifesto que buscou elencar os principais desafios da educação brasileira e caminhos para que a gente pudesse sair deles. Então a gente começou o mapa educação para buscar esses temas e também para trazer o protagonismo jovem. O mapa foi a minha grande escola e que me convenceu que eu queria dedicar a minha vida para políticas públicas e educacionais, para poder trabalhar para que outros jovens pudessem ter oportunidades melhores ou pelo menos similares com aquelas que eu tive.

DP: Como o senhor pretende trabalhar a influência de sites de aposta, como o Jogo do Tigrinho?

RF: A gente (Secretária da Juventude do Rio e o vereador Salvino Oliveira) lançou uma campanha chamada “Não Aposte Seu Futuro”. Eu estou muito preocupado com essa situação, com os jovens estão sendo muito cooptados por sites de aposta, por algoritmos que buscam viciá-los. O jogo do tigrinho talvez seja a interface mais cruel disso, onde você vai cada vez mais adentrando e se comprometendo de uma maneira equivocada. Então a gente precisa mostrar para os jovens e para a sociedade geral, o quão prejudicial tem sido isso. Enquanto eles estão perdendo a sua própria liberdade de discernimento, de falar “olha, basta, para mim isso está gerando dívidas”. Isso está destruindo famílias, e a gente não pode permitir que os nossos jovens estejam entregues a esse processo. Agora estou muito dedicado nessa pauta de convencer os jovens a não apostar seu futuro. A melhor aposta que um jovem pode fazer é a aposta na educação, é a aposta no conhecimento, porque é através do conhecimento que eles podem ter uma perspectiva de futuro muito melhor para eles e para as famílias também.

DP: O senhor acredita ser inspiração a outros jovens e fazê-los acreditar que podem chegar onde almejam?

RF: Eu sempre tive muita gente na minha vida que me inspirou e eu sou muito grato a essas pessoas porque eu acredito que você só decide fazer algo se você sabe que aquilo existe, se você foi apresentado àquilo. Por que eu estou falando isso? Parece óbvio, mas muitas pessoas não têm acesso à informação de que certas oportunidades existem. Foi isso que para mim foi muito definidor da minha trajetória. Eu faço isso com muito amor e sempre que posso eu compartilho da minha experiência, da minha jornada de ter estudado em uma grande escola pública, depois de ter estudado fora do país em uma grande universidade, com jovens que estão buscando fazer isso hoje também, e com quem também está tentando entrar na política, porque a gente precisa de pessoas que queiram fazer o bem, e multiplicar as oportunidades do lado de cá também. É assim só que a gente vai ter uma sociedade mais justa, desenvolvida e igualitária.

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