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terça-feira, 27 de maio de 2025


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Terapia + Fé = Saúde mental!

Lenilson Ferreira Psicanalista

Foto: Freepik
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O tema desta coluna surgiu da pergunta enviada por uma leitora. “Quais relações surgiram entre Saúde Mental, Terapia e Fé depois da Pandemia?” ela perguntou através do e-mail contato@lenilsonferreira.com .

A pandemia Covid-19 trouxe muitas mudanças à forma como as pessoas passaram a buscar o suporte da terapia. A mais impactante, sem dúvida, foi a expansão da terapia realizada via Internet. Antes da pandemia, apenas cerca de 10% dos meus pacientes eram atendidos via Internet. Quando precisei me isolar por causa da pandemia, cerca de 90% passaram a ser atendidos online. Cerca de 10% optaram por interromper sua terapia. Menos de um mês depois, todos já haviam retornado à terapia no formato Internet! Uma senhora me chamou muito a atenção. Iniciou sua terapia em plena pandemia e, para minha surpresa, logo disse que a modalidade era muito confortável para ela. “Eu só estou conseguindo fazer minha terapia porque estou no ambiente seguro do meu quarto!”, ela disse.

A pessoa doente geralmente não tem energia física e mental para se movimentar e buscar ajuda. Uma comprovação deste fato é que em muitas das reuniões do Grupo de Apoio à Pessoa com Ansiedade e Depressão (GAP) entre os presentes encontram-se muitas mães, irmãs e esposas e muitos pais, filhos e maridos. Essas pessoas sempre comparecem às reuniões em busca de orientação sobre como ajudar aqueles em seu convívio que estão em sofrimento. O segundo grupo mais comum é o dos que buscam ajuda para seus amigos.

Entre os conselhos mais comuns dados por quem está perto de quem sofre um Transtorno Mental temos a procura por uma instituição religiosa. Sabemos que a fé é um dos mais poderosos aliados quando enfrentamos uma doença mental, principalmente quando ela fortalece a autoestima, gera esperança e fortalece a perspectiva de que o futuro possa ser melhor do que as dores do passado e do presente. Entretanto, algumas convicções religiosas são prejudiciais àquele que sofre, principalmente quanto a doença mental é relacionada a uma suposta falta de fé, de convicções religiosas e congêneres. Recebi muitas pessoas que foram aconselhadas por seus líderes religiosos a abandonar o tratamento e confiar exclusivamente em Deus. Felizmente, estamos vivendo no Brasil e no mundo fortes movimentos em direção oposta. O estudo da correlação entre a fé e a saúde tem se fortalecido sistematicamente nos últimos anos, inclusive com inserção nos currículos de renomadas faculdades de medicina.

Estudar a correlação entre Fé e Saúde é uma tendência em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) entende que a fé exerce impactos positivos sobre a saúde física e a saúde emocional. Ter fé pode reduzir os riscos de doenças como depressão, insuficiência renal e acidente vascular cerebral, dentre outras possibilidades. Pesquisa realizada pela Universidade de Duke na Carolina do Norte (Estados Unidos) concluiu que pacientes que exercem alguma forma de espiritualidade têm uma redução de 40% na probabilidade de sofrerem de depressão durante o tratamento de doenças em geral. Existe, atualmente, a compreensão generalizada de que a fé pode proporcionar reforço ao sistema imunológico. No Brasil, por exemplo, o Conselho Federal de Medicina (CFM) criou a Comissão de Saúde e Espiritualidade para estudar os benefícios proporcionados pela prática da fé, com o aumento da expectativa de vida proporcionado por fatores como a redução do número de casos de depressão, de suicídio, de AVC e de infarto agudo do miocárdio. Um dos objetos de estudo da comissão será a oração. Pesquisas de médicos indicam que, por exemplo, durante a prece há liberação de neurotransmissores do bem-estar no cérebro.

“Em tempos de crise, a fé é uma fonte de apoio, consolo e orientação para milhares de milhões de pessoas, particularmente para muitos daqueles que estão em situações mais vulneráveis”, declarou o Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) na abertura de um webinar (seminário via Internet) promovido pelo Conselho Mundial de Igrejas em 2021.

Outra habilidade muito importante para quem convive com quem sofre dores emocionais é a empatia. Ela tem uma origem muito interessante, assim como as outras duas palavras que estão muito próximas dela: a simpatia e a antipatia. Empatheia vem do grego e se refere à capacidade de se colocar no lugar do outro entendendo seus sentimentos e suas emoções. Sympatheia significava estar junto ao outro e antipatheia, a aversão àquilo que o outro sente. Se você convive com alguém que sofre dores emocionais, seja empático a esta pessoa, busque entender o que ela sente, por que ela sente e como ela sente. Naturalmente, não é uma atitude simples. Não, não é! É necessário haver algo parecido com amor para que consigamos dar o suporte de que esta pessoa precisa. Por causa desta dura realidade, é fundamental também darmos suporte às pessoas que convivem quem sofre dores emocionais. Ao mesmo tempo, é necessário que quem está em sofrimento permita que pessoas se aproximem e lhe apóiem. A qualidade do relacionamento é fundamental para que as pessoas percebam que precisam de ajuda. É muito importante escutar a dor além de ouvi-la.

Você pode enviar suas dúvidas sobre Saúde Mental para contato@lenilsonferreira.com e elas serão respondidas na próxima edição da coluna.

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