Diário conversou com dois especialistas sobre medidas de segurança contra incêndios
Rômulo Barroso - especial para o Diário
O sábado (15/06) foi mais um dia de trabalho para o Corpo de Bombeiros e brigadistas do ICMBio no rescaldo do casarão destruído pelo fogo na última sexta-feira (14), quando um botijão de gás explodiu e deu início a um incêndio de grandes proporções na Rua do Imperador, no Centro Histórico. Outros focos precisaram ser apagados pela manhã e houve mais esforços para resfriar a estrutura e a área de mata consumida pelas chamas.
O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil fizeram vistorias nos imóveis, inclusive em alguns dos imóveis vizinhos que foram mais atingidos, como uma loja de roupas. Uma das preocupações no fim da manhã era sobre o risco de desabamento de uma parede de um dos imóveis atingidos pelo fogo na véspera.
No lado ímpar da Rua do Imperador, onde ocorreu o incêndio, várias lojas permaneceram fechadas, inclusive uma padaria e um restaurante, que continuaram com o fornecimento de gás encanado interrompido preventivamente. No lado par, os estabelecimentos comerciais puderam abrir normalmente.
Um caminhão pipa da Águas do Imperador foi deslocado novamente para auxiliar os trabalhos. Também estiveram presentes mais uma vez agentes da CPTrans e da Guarda Civil. O trânsito, que havia sido liberado totalmente ainda na noite de sexta, teve uma faixa bloqueada próximo à região do incêndio na manhã desse sábado. Mas houve congestionamentos, principalmente pela manhã, quando um ônibus quebrou próximo ao Edifício Arabela, complicando ainda mais a movimentação de veículos na principal via do Centro Histórico.
Equipes da Enel, de provedores de internet e de operadoras de telefonia iniciaram o trabalho de manutenção e substituição de cabos destruídos pelo fogo para retomar o fornecimento dos serviços normalmente.
Cuidados contra incêndio
O incêndio de sexta teve início na loja Eletro Brasil, de conserto de eletrodomésticos, quando um funcionário que estava esquentando água para fazer café acabou derrubando um botijão de gás, como contou o proprietário da loja. O imóvel é um casarão antigo, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), e fica próximo a uma região de mata, que integra a Área de Proteção Ambiental (APA) de Petrópolis. O Diário questionou o Corpo de Bombeiros ainda na sexta-feira se o local tinha certificação contra incêndio e pânico, mas não obteve resposta.
O estado do Rio de Janeiro possui um Código de Segurança contra Incêndio e Pânico (Coscip), instituído em 1975 e que passou por uma regulamentação em 2018. Dentro dela, há uma série de normas técnicas que trata, dentre outras tantas questões, sobre as medidas preventivas para edificações tombadas (editada em 2019) e para manipulação, armazenamento e comercialização de gás - seja em botijões ou encanado (editado em 2022). O Diário conversou com dois especialistas sobre a questão.
O engenheiro civil e de Segurança de trabalho e CEO da BrMout, Júlio Carlos Moutinho Souza, listou uma série normas e legislações que devem ser observadas para segurança contra incêndios em imóveis comerciais, entre elas: a Norma Brasileira (NBR) 9077, que define os critérios para a construção e instalação de saídas de emergência; NBR 10898, que estabelece os requisitos para sistemas de iluminação de emergência em edificações; NBR 13714, que define os parâmetros para a instalação e manutenção de sistemas de hidrantes e mangotinhos; NBR 12693, que traz os requisitos para a instalação e manutenção de extintores. Ele também ressalta que é preciso verificar a existência de instruções técnicas próprias do Corpo de Bombeiros local, sobre itens como iluminação de emergência e sistemas de alarme e detecção. E que também deve ser elaborado e aprovado pelo Corpo de Bombeiros um Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI, detalhando todas as medidas de segurança contra incêndio adotadas no imóvel.
Júlio Carlos Moutinho Souza / Divulgação
Casarões antigos e botijões de gás
Júlio Carlos Moutinho Souza ainda detalhou algumas recomendações específicas para o caso de casarões antigos:
"Realizar uma análise de risco detalhada, considerando a estrutura do casarão e suas peculiaridades; consultar órgãos de preservação do patrimônio histórico para garantir que as intervenções de segurança não comprometam a integridade histórica do edifício; realizar uma revisão e modernização das instalações elétricas para prevenir curto-circuitos e sobrecargas; implementar sistemas modernos de detecção e alarme de incêndio, adequados às características do casarão; utilizar materiais e técnicas compatíveis com a preservação do patrimônio, que também ofereçam resistência ao fogo; realizar treinamentos periódicos e simulados de evacuação com os ocupantes do casarão", coloca.
O engenheiro civil e de Segurança de trabalho trouxe ainda orientações sobre o modo de utilizar botijões de gás de cozinha. A NBR 13523 norteia sobre os critérios para a instalação segura de botijões de gás. É preciso levar em consideração questões como localização, manutenção e inspeção, distância de segurança, troca de botijões e extintores de incêndio.
"Botijões devem ser instalados em áreas ventiladas e longe de fontes de ignição. Nunca devem ser armazenados em locais fechados ou mal ventilados. Realizar inspeções periódicas para detectar vazamentos e garantir a integridade das válvulas e mangueiras. Manter uma distância mínima de 1,5 metros de ralos, grelhas de esgoto e tomadas elétricas. Fazer a troca de botijões vazios em locais seguros, utilizando técnicas adequadas para evitar vazamentos. Ter extintores apropriados, de preferência extintores de pó químico seco, nas proximidades dos locais onde os botijões são armazenados", afirma Júlio Carlos Moutinho Souza.
"Existem normas, leis e decretos para a prevenção contra incêndio nos estabelecimentos comerciais, mas a orientação mais importante é saber que existem requisitos específicos de acordo com cada estado e município. Sendo assim é importante consultar não só um especialista, mas ter o Certificado de Aprovação do Corpo de Bombeiro da região", reforça o especialista de gestão de riscos e engenheiro de segurança do trabalho, Diego Azeredo. "Casarões antigos e históricos requerem atenção especial referente a estrutura, sistema de detecção e alarmes, saídas de emergências, extintores e hidrantes e pessoas treinadas", continua. Diego Azeredo ainda complementa sobre os cuidados necessários para segurança no uso dos botijões de gás: "Armazenamento adequado, instalação correta, inspeções planejadas contra vazamentos, ventilação, transporte seguro e um Plano de Ação e Emergência além de seguir as orientações do fabricante", afirma.
Diego Azeredo / Divulgação
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