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segunda-feira, 15 de abril de 2024


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Trevo de Bonsucesso e rotatória próximo ao Terminal Itaipava: os gargalos na mobilidade da região

Estudo da Coppe/UFRJ aponta que esses são os dois trechos com maiores congestionamentos e perda de tempo em três horários de pico

Foto: Arquivo
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Rômulo Barroso - especial para o Diário

O motorista sente na pele esses problemas há muitos anos, mas agora, além do que já é conhecido no dia a dia, a cidade tem dados que mostram as dificuldades na mobilidade no corredor Bonsucesso/Itaipava. O estudo elaborado pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ) apontou que o Trevo de Bonsucesso e a Rotatória que fica entre o Bramil e o Terminal Itaipava são aqueles onde se formam os maiores congestionamentos e onde se perde mais tempo para atravessar o trecho. Foram identificados três horários de picos e também foram apresentadas soluções para o trânsito. No entanto, a prefeitura ainda não sinalizou quais medidas serão adotadas e quando.

Para a produção do relatório, foram feitas diversas análises em pelo menos cinco pontos principais no corredor Bonsucesso/Itaipava: na Ponte de Bonsucesso, no Hortomercado, na Rotatória entre o Bramil e o Terminal Itaipava, na saída para BR-040 e na Ponte do Arranha-Céu. Um dos testes foi a contagem de veículos para verificar os maiores gargalos e principais horários de pico nesse trecho, tanto em dias úteis quanto em fins de semana. Durante a semana, os picos são por volta de 08h e 17h e aos sábado, mais ou menos às 11h.

Essas análises permitiu estimar, por exemplo, a quantidade de carros que tenta passar da saída para da BR-040 para o Trevo de Bonsucesso: "Em um cenário de superlotação do tráfego no trevo, estima-se que cerca de 850 veículos entram no trevo pela Rodovia Washington Luiz. Esse valor foi estimado com base nas filmagens do drone e nas contagens dos locais adjacentes ao Trevo de Bonsucesso onde foram instaladas câmeras".

Esse fluxo de veículos é um dos principais motivos para as retenções no trecho do Trevo de Bonsucesso, de acordo com o estudo: "Para o Trevo, o problema é claramente concentrado no fluxo de veículos que vem de Itaipava ou da Rodovia Washington Luiz em direção ao Centro pela Estrada União Indústria, onde estes fluxos se encontram e ocorre um conflito que gera grandes filas, em especial no horário da Tarde".

Rotatória entre Bramil e Terminal Itaipava: problema mais grave

No entanto, está na rotatória entre o Bramil e o Terminal Itaipava o ponto de maior estrangulamento do trânsito, por causa das inúmeras possibilidades de fluxo no trecho: entrada em direção a Teresópolis, seguir em direção aos distritos de Pedro do Rio e Posse, contornar em direção a Bonsucesso, entrada do Bramil, fazer a conversão total (o que vale para ambos os sentidos). "Estas conversões mais intensas podem ser consideradas os fluxos críticos do sistema, com as propostas de intervenção devendo buscar justamente o alívio estes fluxos como forma de se obter resultados melhores para a média geral da interseção analisada".

No horário de pico pela manhã, a fila de carros chega a uma média de 233,6 metros, provocando um delay (perda de tempo) para o motorista de 59,3 segundos; de tarde, a fila média foi 204,5 metros e 55,3 segundos de delay. Vale dizer que esses valores são uma média - durante o período de observação, os responsáveis pelo estudo chegaram a constatar fila de quase meio quilômetro na rotatória e quase dois minutos de perda de tempo para o motorista passar pelo local.

"O que acontece com os volumes mensurados é que eles são tão elevados que uma hora pode ocorrer uma parada no tráfego que só contribui o acúmulo de trânsito por grandes extensões da Estrada União Indústria. As melhorias, ainda que não eliminassem o problema, contribuiriam para atrasar a ocorrência deste acúmulo, evitando um sobrecarregamento tão rápido", destaca o estudo.

Propostas

A partir desse diagnóstico com dados concretos, a Coppe fez diversas simulações de cenários com diferentes propostas de intervenções no corredor: alterações na geometria do Trevo de Bonsucesso, criação de um retorno próximo ao Hotel Buriti (entre Bonsucesso e Nogueira), duplicação da Ponte em Bonsucesso, criação de uma nova ponte no Hortomercado, criação de uma terceira ponte ligando Bonsucesso e o trecho após o trevo, implementação do chamado "Projeto Diamante" (que aproveita um espaço do estacionamento do Supermercado Bramil para estabelecer um novo fluxo na região).

Dentre essas, a Coppe considerou que a ponte do Horto teria o maior impacto para melhoria efetiva do trânsito da região, mas ressalta que "uma alteração de maior escala que implica em um maior tempo de implementação, de forma que alterações associadas ao trevo poderiam ser realizadas anteriormente para melhorias mais leves para o tráfego". A proposta "Diamante" é considerada positiva, "mas deveria ser executada somente após melhorias mais significativas no Trevo de Bonsucesso, algo que seria trazido pela Ponte no Hortomercado".

Alterações no Arranha-Céu também são boas, embora a Coppe avalie que esse trecho não seja o maior causador de problemas no trânsito no corredor. Já a construção de uma terceira ponte ligando Bonsucesso ao trecho após o trevo "é mais uma alternativa a ser pensada e desenvolvida para um futuro de mais longo prazo".

Reações

Para o vice-presidente da NovAmosanta, Jorge de Botton, o estudo aponta soluções que já são sugeridas há bastante tempo, agora reforçado com dados. Mas cobra que elas sejam implementadas. "Saiu o estudo em fevereiro que disse exatamente o que sabíamos, mas com mais dados. E apresentaram soluções que nós já apresentamos, ratificaram soluções que eram bem óbvias e conhecidas. Mas o que vai ser feito agora? O que vão dizer para a população que sofre com o trânsito de Itaipava há anos?", questiona Botton, que completa:

"Estou cansado de fazer projetos e nada acontece, nunca temos resposta. O estudo da Coppe tem soluções simples, medianas e complexas; baratas, médias e caras. O problema de mobilidade em Itaipava tem solução, o que falta é gestão", critica.

O presidente da Comissão de Transportes Público e Mobilidade Urbana da Câmara Municipal de Petrópolis, vereador Hingo Hammes (PP), cobra que o Plano Municipal de Mobilidade Urbana, finalizado há cinco anos, seja colocado em prática. Entre as propostas estava a construção de rotatórias ao longo da Estrada União e Indústria. Uma delas chegou a ser iniciada, a da entrada do Carangola. "Além dessa, seriam outras quatro, todas ao longo da Estrada União e Indústria. Isso traria mais fluidez ao trânsito, inclusive, em Itaipava", afirma.

Hammes também cobra que avancem as propostas de melhorias que envolvem vias alternativas. "A Rua Agante Moço, que fica atrás do Parque Municipal, é uma delas. Não adianta essas pistas estarem com problemas, esburacadas. Os motoristas precisam ter a certeza que elas estão estruturadas, seguras. Também tínhamos uma proposta de criar uma ponte ligando a Agante Moço até a parte de trás do Hortomercado", diz. "Há um outro projeto que prevê a construção de uma passarela do Terminal Itaipava até o estacionamento de um mercado. Na época, cheguei a conversar com os donos do estabelecimento sobre essa possibilidade. Existem mais coisas que precisam ser feitas, com obras a longo prazo", continua o vereador.

O presidente do Petrópolis Convention e Visitors Bureau (PCVB), Samir El Ghaoui, ressalta que mobilidade tem um duplo impacto para o turismo da cidade: tanto pelas condições de acesso do visitante quanto pelas situações enfrentadas dia a dia pelos petropolitanos que fazem parte da mão-de-obra direta e indireta do setor.

"A mobilidade, não apenas em Itaipava, mas nos distritos, diz respeito a bem receber o visitante e está totalmente ligada à qualidade de vida do morador.  E é esse morador que também precisa ser atendido em mobilidade porque ele é a força de trabalho nas empresas da região, tanto nas que lidam diretamente com o turista quanto as que complementam a cadeia produtiva do setor turístico. Hoje o trabalhador sofre com escassez de transporte e com engarrafamentos. Já o turista é impactado com falta de sinalização, falta de fluidez no tráfego, vagas de estacionamento e muita retenção em gargalos. O visitante, considerando um acesso problemático ao destino, acaba optando por outro local, afetando os negócios em nossa cidade no setor do turismo", coloca.

Samir El Ghaoui aponta que os problemas de mobilidade em Bonsucesso e Itaipava são ainda mais amplos e começam em trechos mais distantes. "Os problemas de mobilidade nos distritos para o morador e para o turistas são o acesso a Corrêas, o Trevo de Bonsucesso e a rotatória em frente ao Bramil. Para quem vem pela União e Indústria, a retenção já começa na entrada do Carangola. Já falando sobre o acesso via BR-040, além do Trevo, o Aranha-Céu, outra opção de acesso, é completamente obsoleta. Além de soluções para estes pontos, é necessária a liberação de novas vias de acesso como Agante Moço e a Catobira, além de novas sinalizações na altura da Granja Brasil", propõe.

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Petrópolis, Cláudio Mohammad, segue uma linha similar ao representante do trade turístico. Ele afirma que melhorias de mobilidade tem capacidade de impulsionar os negócios do município.

"A melhoria da mobilidade não só impacta diretamente na qualidade de vida dos moradores e na experiência dos turistas, mas também tem um efeito significativo no comércio local. Com um tráfego mais fluido e acessível, as empresas têm a oportunidade de atrair mais clientes e garantir um fluxo constante de negócios. Além disso, a facilidade de acesso e estacionamento pode incentivar o turista a explorar mais a região e a consumir nos estabelecimentos locais, impulsionando assim a economia da área. Portanto, investir em soluções de mobilidade não é apenas uma questão de comodidade, mas também uma estratégia vital para o desenvolvimento sustentável do comércio", diz.

Por isso, é mais um a destacar que é urgente que as medidas propostas para a região sejam tiradas do papel. "As soluções para o trânsito já vêm sendo elencadas há anos e todos já sabem de cor como a  necessidade de rotatórias no Carangola e na altura do Bramil, em Itaipava; ampliação da ponte de Corrêas e solução para o Trevo de Bonsucesso. Algumas entidades, inclusive, têm expertise de membros no setor e já levantaram essas medidas há muito tempo. O estudo mais recente da Coppe/UFRF confirma essas propostas. O que falta agora é força política e vontade administrativa para colocar em prática", declara Mohammad.

O Diário questionou a prefeitura sobre quais soluções apresentadas pela Coppe/UFRJ serão executadas, prazos e investimentos, mas não tivemos retorno até o fechamento desta edição.

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