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Um ano sem o mestre

-  Mauro Peralta - médico e vereador

Foto: Reprodução
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Em 18 de dezembro do ano passado, o artista petropolitano Joãozinho do Cavaco fez sua passagem após estar internado no Hospital Alcides Carneiro, aguardando um tratamento cirúrgico. João Batista Ramos foi um verdadeiro patrimônio cultural de Petrópolis, imortalizado não apenas nas memórias da cidade, mas também no legado musical que construiu ao longo de sua vida. Assim como ícones como a Catedral São Pedro de Alcântara, o Palácio de Cristal e o Museu Imperial, Joãozinho faz parte da história viva da cidade.

Nascido em Cascatinha, filho de uma família humilde, Joãozinho recebeu do Criador o dom da música. Desde muito jovem, ele mostrou sua paixão pelos instrumentos e pela arte de tocar. Aos 9 anos, já tocava com instrumentos emprestados, e sua relação com o cavaquinho começou de forma desafiadora: como o dono do instrumento era canhoto, ele precisava inverter as cordas para poder tocá-lo. Apenas aos 13 anos, sua mãe conseguiu comprar um cavaquinho usado, marcando o início de uma trajetória brilhante.

Desde sua infância, Joãozinho era um grande admirador de figuras lendárias da música brasileira, como Jacob do Bandolim, Nelson Cavaquinho e Waldir Azevedo, este último autor do clássico Brasileirinho, um dos maiores desafios para qualquer músico do cavaquinho, mas também um verdadeiro hino para quem domina o instrumento. A paixão de Joãozinho pela música brasileira sempre foi evidente, e seu desejo de aprender e de compartilhar esse conhecimento o levou a uma jornada de superação pessoal e profissional.

Ciente das dificuldades que enfrentou para estudar música na infância, Joãozinho tomou uma decisão que transformaria a vida de muitas crianças. Em 1995, iniciou um projeto voltado para o ensino de música. Seu objetivo era dar às novas gerações a oportunidade de aprender a tocar instrumentos, melhorar a autoestima e, muitas vezes, até encontrar uma profissão. Ao longo dos anos, centenas de crianças passaram por suas aulas, com muitos se tornando músicos profissionais. Joãozinho mostrou que ensinar música é também transformar vidas.

Seu método de ensino era inovador e acessível. Desenvolveu um sistema numérico para marcar as notas no braço dos instrumentos de corda, o que facilitava o aprendizado, inclusive para crianças pequenas. Como exemplo disso, meu neto, com apenas 10 anos, aprendeu a tocar cavaquinho em pouco mais de um mês de aulas, chegando a tocar até com o instrumento nas costas, imitando seu mestre. Esse sistema simples e eficaz é uma das várias contribuições de Joãozinho para a música, uma verdadeira marca de sua genialidade pedagógica.

Se Joãozinho do Cavaco tivesse vivido em um país que valorizasse mais os verdadeiros artistas, certamente ele teria recebido mais homenagens, quem sabe até uma estátua em sua honra. Porém, sua maior recompensa foi o reconhecimento de sua obra e de seu compromisso com a educação musical. Além de deixar um legado musical impressionante, com discos, projetos e reconhecimentos como o Cavaquinho de Ouro da Ordem dos Músicos em 1982, Joãozinho tem como maior prêmio a continuidade de seu trabalho.

O Projeto Caminhando com a Música é mantido com amor e dedicação por sua esposa Eliana e seus filhos João Felippe e João Victor, todos músicos. Eu tive a honra, enquanto vereador, de destinar uma medida impositiva para garantir a continuidade desse projeto, que oferece aos jovens a chance de aprender música, mesmo sem condições financeiras

Joãozinho do Cavaco não é apenas um artista. Ele é imortal, assim como todos os grandes mestres da música, por meio do legado que deixou. Sua obra e seu exemplo de vida seguem vivos em cada nota tocada, em cada aula dada, em cada criança que aprende a sonhar através da música. Joãozinho será sempre lembrado como o mestre que fez da música um instrumento de transformação e de esperança para muitos.

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