O Brasil lidera o ranking mundial de transtornos de ansiedade, segundo a OMS. Psicólogo e professor da UCP mostra quais comportamentos do dia a dia podem intensificar o problema
Emanuelle Loli - estagiária
De acordo com um mapeamento global de transtornos mentais, realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil possui a população com a maior predominância de transtornos de ansiedade do mundo, com aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrendo com ansiedade patológica (aquela que se torna excessiva, persistente e interfere significativamente na vida da pessoa, causando sofrimento e prejuízos em diversas áreas).
Segundo o psicólogo e professor do curso de Psicologia da UCP, Carlos Henrique Gonçalves, a ansiedade é um fenômeno natural e necessário para eventos do dia a dia, como, por exemplo, uma entrevista de emprego ou até mesmo para nos proteger de situações de perigo. Contudo, quando ela começa a trazer sofrimento para a pessoa, é um sinal de alerta.
“Atualmente, é cada vez mais comum observarmos pessoas que vivenciam essa emoção de forma intensa e acima do que seria desejável, o que pode causar sofrimento e prejuízos significativos na qualidade de vida”, diz.
Carlos também lista e explica alguns hábitos que podem estar relacionados ao aumento da ansiedade, como o excesso de cafeína, uso excessivo de telas, sono irregular, sedentarismo, desidratação, consumo excessivo de açúcar, e a falta de exposição ao sol.
Excesso de cafeína
A cafeína é um estimulante natural presente no café e em alguns chás. Ela age bloqueando receptores de determinados neurotransmissores e estimulando outros, impedindo o relaxamento e o sono, e aumentando o estado de alerta. Seu consumo em excesso pode causar efeitos negativos, como aumento do hormônio do estresse (cortisol), taquicardia, tremores, irritabilidade, insônia e pensamentos acelerados (sintomas semelhantes à ansiedade).
“A quantidade ideal de cafeína varia de pessoa para pessoa, mas estudos indicam que mais de quatro a cinco xícaras por dia já podem ser consideradas acima do recomendável”, comenta Carlos.
Uso excessivo de telas e sono irregular
A exposição à luz de celulares, computadores e televisores à noite dificulta a produção de melatonina, hormônio essencial para o sono, prejudicando o descanso e aumentando a ansiedade. Em crianças e adolescentes, o uso prolongado de telas pode dificultar o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, tornando-os mais vulneráveis à ansiedade diante de situações desafiadoras da vida real.
“Além disso, o uso excessivo de redes sociais ativa o circuito de recompensa do cérebro, relacionado à dopamina. Isso nos condiciona a buscar satisfação em estímulos rápidos e fragmentados, como vídeos curtos e animações. Outro ponto de atenção é o hábito de consumir, de forma contínua, notícias negativas nas redes. Isso pode levar à supervalorização de perigos e ameaças, alimentando ainda mais a ansiedade”, explica o psicólogo.
Sedentarismo
A falta de atividade física dificulta a regulação emocional e o enfrentamento do estresse, já que não ativa circuitos cerebrais ligados à resiliência. Além disso, o sedentarismo aumenta substâncias inflamatórias no corpo, o que pode agravar sintomas de ansiedade e depressão.
“A prática de exercícios físicos também melhora a autoestima, a autoconfiança, favorece a socialização e aumenta a motivação e disposição para outras atividades do dia a dia todos esses fatores ajudam a prevenir e amenizar os sintomas da ansiedade. Pessoas sedentárias tendem a ruminar mais sobre suas preocupações justamente por não terem o ‘escape’ que o movimento oferece”, diz Carlos.
Desidratação
“Mesmo uma leve desidratação pode prejudicar funções cognitivas como atenção, concentração, memória e raciocínio, além de aumentar o nível de cortisol, provocando irritabilidade, impulsividade e reações exageradas ao estresse. Um sinal importante: se você está com sede, é porque já está desidratado. O ideal é manter a hidratação ao longo do dia, antes mesmo de sentir sede”, explica.
Consumo excessivo de açúcar
O consumo excessivo de açúcar causa variações rápidas na glicose do sangue, provocando sintomas físicos como tontura, sudorese e taquicardia, semelhantes aos da ansiedade. “Além disso, o açúcar pode causar inflamações no cérebro e afetar o funcionamento de neurotransmissores ligados ao humor. Psicologicamente, o consumo de doces pode funcionar como uma forma rápida de alívio emocional, mas que, a longo prazo, mantém a pessoa em um estado de desequilíbrio. Muitas vezes, esse comportamento é seguido por culpa, gerando um ciclo prejudicial à saúde mental”, comenta.
Falta de exposição ao sol
A luz do sol é essencial para a produção de serotonina e vitamina D, substâncias importantes para o humor e o bem-estar. A falta de exposição solar pode desregular o relógio biológico, afetar o sono e reduzir estímulos naturais de prazer, aumentando o risco de ansiedade e depressão.
“Por fim, é importante lembrar que a ansiedade é uma resposta que envolve nosso corpo, nossos pensamentos e o ambiente em que vivemos. Quanto mais cuidamos dos nossos hábitos e da nossa saúde física, emocional e espiritual , mais fortalecidos estaremos para enfrentar os desafios da vida”, conclui.
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